JOVENTINO DOS DIABOS
Vamos leitor refletir
Escritos desta Nação
Nobre Folheto de Feira
É Cordel sem maldição
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Do provérbio tradição.
Cantares da maldição
Nestes causos populares
Pros leitores mais atentos
Benditos auxiliares
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Na pressa dos regulares.
Nos seios hospitalares
Comentam lá em Sobral
Joventino dos Diabos
Conversa bem natural
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Estampada num jornal.
Joventino foi postal
Nas bodegas do lugar
Todo bebum faz questão
De tantos fatos narrar
Diabo não se compara
A maldade nunca para
E só mágoa vai restar.
Violeiros vão cantar
Pro público brasileiro
Beberrões tem cada tema
Que satisfaz forasteiro
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Na vida não foi parceiro.
O famoso trapaceiro
Pra tantos, desconhecido
Cretino, mal encarado
De paletó encardido
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Se dizendo ressentido.
Tutu sempre garantido
É de grana que vos falo
Joventino foi pra guerra
Dentro de briga de galo
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Dinheiro solto no ralo.
Se tem festa, tem embalo
É frase bem traduzida
Mas merece ser destaque
Desta façanha perdida
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Que nunca teve guarida.
Se juntou com Margarida
Numa pensão de madrinha
Nada de papel passado
Nem um sonho de ladainha
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Da mamãe de camarinha.
Joventino foi pestinha
Em matéria de paixão
Que depois desta desfeita
Ficou pior que lixão
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Nem tampouco compaixão.
Gastança sem ter caixão
Com o tempo se renova
Joventino dos Diabos
Daquela face tão nova
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Esbarradas numa cova.
Tudo tem a sua prova
Daquele povo bacana
Joventino de batismo
Capeta cabra sacana
Diabo não se compara
A maldade nunca para
E vai comer só banana.
Na certa perdeu pestana
O fraco do Ceará
Vindo das oralidades
Meu Cordel até dirá
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Espinhos não dão cajá.
Sentado no meu sofá
Escrevendo vil memória
Contador de certo causo
Que tão pouco nos dá glória
Diabo não se compara
A maldade nunca para
De raríssima vitória.
Escritas fazem história
Perambulam impropérios
Joventino não tem lápide
Nem fincou nos cemitérios
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Um século de mistérios.
Defensor dos adultérios
Joventino sempre diz
Não casou, mas teve filhos
Batizados na matriz
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Dos pegas no chafariz.
Cafetona meretriz
Teve três desse sujeito
Moram todos no convento
São crianças de respeito
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Do pai que não teve jeito.
Digo batendo no peito
Para todos da cidade
Sobral nem soube dizer
Qual dessa localidade
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Quero saber da verdade.
Joventino crueldade
Desta forma também digo
Enfrentando baitas brigas
Deixou tantos em perigo
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Precisou de mais castigo.
Joventino não te ligo
Dar vontade de dizer
Nunca conheci, nem quero
Tanto mais coisas fazer
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Na vida não vai viver.
Nem deu, nem teve prazer
Tocaram os cantadores
Plantados no mei de feira
Dedilhando dissabores
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Que na vida fez horrores.
Quando passam os pastores
Fofocam do ser canalha
No templo de Jeová
De posse duma navalha
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Urubus, canto de gralha.
Se cérebro nunca falha
Foi correndo para praça
Esbravejando pessoas
Com pilhérias sem ter graça
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Tesoureiro de trapaça.
Os momentos de desgraça
Naquele chão que respiro
Palavra dita nos mata
Um temível sem retiro
Diabo não se compara
A maldade nunca para
São coisas que não prefiro.
Eu vi somente suspiro
Dos cantadores de feira
Pão doce, caldo de cana
Cantaram sem brincadeira
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Feito pião sem ponteira.
Lá vem a minha saideira
Toda viola quer trégua
O público na medida
Passa tema numa régua
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Respeitem a longa légua.
Pessoas vindas em égua
Saíram de tão distante
Esta feira popular
De longe vem viajante
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Na fala do caminhante.
Este Ser é mais errante
Por todos é odiado
Morrendo sem ter enterro
Este satã desgraçado
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Num riso contaminado.
Sujeito malamanhado
Joventino foi capaz
De nunca ter tido êxito
Nada certo pro rapaz
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Em tudo mais incapaz.
Joventino capataz
Pra seguir a sua rota
Cantadores mostram fatos
Nós pagamos toda nota
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Todos tem a sua cota.
Quando calço minha bota
Joventino faz bordel
É gente sem ter valor
Numa frente de quartel
Diabo não se compara
A maldade nunca para
Mais um nesse meu plantel.
Brasileiro meu Cordel
Está sorrindo bonito
Nesta finalização
Testou frases que repito
Organizamos sistema
Juntos causamos dilema
Rimando feito bendito.