NÃO HÁ COMO FALAR DE PAIXÃO

Não há como falar de Paixão

Sem lembrar dos traidores

Sem citar a covarde negação,

No mundo há muitos Judas

E pedimos que Deus nos acuda

De tantos covardes seguidores.

Não há como falar de cruz

Sem lembrar os pregos, espinhos

E açoites que machucaram Jesus,

No mundo há muitas cruzes

Carrascos cobertos de capuzes

E juízes injustos e mesquinhos.

Não há como falar de tribunal

Sem lembrar das autoridades

Que se esmeram em fazer o mal,

Usam de falsos testemunhos

Retêm sangue em seus punhos

E desprezam as puras verdades.

Não há como falar de julgamento

Sem lembrar do Sumo Sacerdote

Que sem nenhum constrangimento

Condena um inocente à morte

Adquirindo pra si um passaporte

E passagem ao inferno num caixote.

Não há como falar de condenação

Sem lembrar do povo manipulado

Que pede ao Senhor a crucificação

Que grita: soltem da prisão o bandido

Pois esse Messias não nos é querido

Dá-nos o show do sangue derramado.

Não há como falar do Monte Calvário

Sem lembrar da via-crúcis do Cristo

Despido pelos soldados mercenários

Cuspido por quem se dizia descente

Xingado por quem dizia ser crente

Mas ajudado por quem era malvisto.

Não há como falar das estações

Sem lembrar dos joelhos no chão

Das mulheres em suas lamentações

Daquele que ajudou carregar a cruz

Daquela que secou o rosto de Jesus

E de todos que tiveram compaixão.

Não há como falar de corpo cravado

Sem lembrar de quem fincou os cravos

Aqueles que puseram Jesus levantado

O soldado que lhe deu fel a beber

E a lança em seu lado a lhe fender

Mas nenhum membro lhe foi quebrado.

Não há como falar de Jesus pregado

Sem ver a tortura física e moral

Que sofreu esse homem sem pecado

Que sentiu a dor no corpo e na alma

E os expectadores batendo palma

Sem perceber que matavam o imortal.

Não há como falar da morte do Amor

Sem ver o ódio a luzir nos olhares

E o prazer que sentiam por ver a dor

Imputada a um inocente justo

Que para salvar pagava alto custo

Não permitindo perder-se aos milhares.

Não há como falar de corpo chagado

Sem lembrar das chagas no coração

De um povo todo machucado

Ferido e torturado todos os dias

Privado de uma vida de alegrias

E recebendo a mesma condenação.

Não há como falar do Rei dos reis

Sem lembrar os poderes deste mundo

Que assassinam a Cristo toda vez

Que seus pecados são apontados

Seus privilégios questionados

E desvendados seus planos imundos.

Não há como falar que Jesus é Deus

Sem lembrar do mal uso de seu nome

Daqueles que só pensam nos seus

Não se ocupam com o bem da criação

Dão de ombros à Palavra da Salvação

E deixam o pobre morrer de fome.

Não há como falar de ressurreição

Sem ver aqueles que estão no escuro

Não dão à luz nenhuma atenção

Eles preferem ficar na mentira

A pedra da caverna não se tira

Vivem cercados por vários muros.

Não há como falar de vitória

Sem ver outros a carregar o madeiro

Subindo numa escalada inglória

Caindo, levantando-se e chorando

O chão com seu sangue encharcando

Refazendo a paixão do Cordeiro.

Aberio Christe