Luzia Homem

Lá pelas bandas do sertão do Ceará

Uma triste história eu vou contar

Há quem diga dum lugar

Povoado da cidade de Quixadá

Pois os boatos que vem de lá

Não é boa coisa que se deve contar

Muito menos deletar

Num folheto de cordel

Conta-se que nasceu por lá

( 1 )

No sertão do Canindé

Sua personagem fiel

Provando o amargo do fel

Na história que se expande

Em pele de gente grande

Duma jovem por nome Luzia

Que assistiu na maior covardia

O assassinato dos seus pais

Pois naqueles carrascais

Tal notícia já corria

( 2 )

No sertão de Quixadá

Sobre uma criança órfão

Carregada pelo sertão

Sem poder fazer nada

Com a vida injustiçada

Foi criada por seu enteado

Um vaqueiro bom de gado

Das quebradas do sertão

Do tanger da apartação

De um sertão castigado

( 3 )

Na seca que apavora

Matando toda criação

Consome a vegetação

No romper da aurora

Onde sertanejo chora

A perda dos animais

Imagina a perda dos pais

Que Luzia perdeu

E que um dia resolveu

Vingar a morte dos tais

( 4 )

Como está escrito no livro

De Domingos Olímpio

Pois falo e não minto

O desfecho do enredo ao vivo

Para aqueles que estão vivos

E não conhece essa história

Cravada na memória

Do povo do sertão

Seja verdade ou não

Trata-se de mais uma estória

( 5 )

Onde o personagem é alguém

Que resolve vingar á sua família

Sem temer o preço que custaria

Tão pouco o valor de um vintém

Quando o assunto é matar alguém

Nas quebradas do sertão

Do sujeito que mata a traição

Junto com os seus comparsas

Mas no fim morre de graça

Por tanta judiação

( 6 )

O destino da jovem Luzia

Foi ser vaqueira no sertão

De cuidar da apartação

E do destino que a seguiria

A vontade de poder um dia

Vingar a morte dos seus pais

Em meio aos carrascais

Que marcam o sertão do Ceará

Pelas bandas de Quixadá

( 7 )

Na fazenda Campo Real

Luzia encontrou emprego

E também um aconchego

Mais o desejo de fazer o mal

Parecia ser algo real

No meio daquele lugar

Mas não era de se esperar

Na vaquejada do sertão

Com vaqueiros na apartação

Tomando a atenção por lá

( 8 )

Estava Luzia Homem

Com um cavalo ligeiro

Salvando um velho vaqueiro

Pois aquele velho homem

Que não sei o codinome

Após perder o boi na faixa

Caiu dentro da faixa

Quase foi pisoteado pelo boi

Mais o perigo logo se foi

Sendo retirado daquela faixa

( 9 )

Saindo ileso sem nenhum arranhão

Com a aquela multidão sorrindo

O povo inteiro aplaudindo

A heroína do sertão

Que naquela ocasião

Entrou pro grupo de vaqueiros

Pra trabalhar nos tabuleiros

Da fazenda Campo Real

Era ali por sinal

Um lugar desordeiro

( 10 )

Por causa do tal vaqueiro

Chamado Capriúna

Onde o tempo não importuna

Nesse verso ligeiro

Pois foi esse desordeiro

No cordel que eu assino

O então assassino

Dos pais de Luzia Homem

Do tempo que se consome

Seguindo o seu destino

( 11 )

Na vontade de fazer vingança

Pela vida dos anciãos

Da justiça com as próprias mãos

No desejo que não se cansa

Em meio à triste lembrança

Estampado na pele de Luzia

Que então não sabia

Que na sua rota de destino

Estava o cruel assassino

Quem ela suspeitaria

( 12 )

De alguém que um dia

Assassinaria os seus pais

Em meio aos cais

Luzia um dia conheceria

Como notícia que corria

E sempre importuna

Um tal de Capriúna

Vulgo matador nato

Jagunço em Campo Real

Seguindo a ordem final

Sempre cumprindo o mandato

( 13 )

Do seu patrão Raulindo

E foi ali por sinal

Na fazenda Campo Real

Que dois desconhecidos

Num só mesmo dividido

Tornaram-se grandes amigos

Como bons amigos

Seguindo o ritmo pioneiro

Do ofício de vaqueiro

No cordel que sigo

( 14 )

Na amizade que aqui relato

Sem fazer codinome

De Luzia Homem

Com o vaqueiro Torquato

Esse era vaqueiro nato

Na alegria ou na dor

Era vaqueiro aboiador

Pegador de boi no mato

A caatinga é o retrato

Do triste fim que levou

( 15 )

Torquato foi brutamente assassinado

A mando do patrão Raulindo

Quando ele estava partindo

Pois tinha acabado ser desligado

Do seu ofício de gado

Na fazenda Campo Real

De um triste final

No causo que vou contar

Sobre o sertão do Ceará

A morte foi o destino fatal

( 16 )

Do jovem vaqueiro Torquato

Que havia se envolvido

Sem temer o dividido

E a responsabilidade dos fatos

Muito menos os desacatos

De namorar uma das proprietárias

De herança proletária

Na fazenda Campo Real

Não prevendo o final

E o preço que lhe custaria

( 17 )

O seu envolvimento maluco

Com a irmã de Raulindo

Que antes vivia sorrindo

Pensando viver no lucro

Acabou tendo o dês-lucro

De vê o seu amado vaqueiro

Morto pelo desordeiro

E irmão Raulindo

De viver assistindo

Um funeral grosseiro

( 18 )

Com gente morrendo injustamente

E o corpo exposto na matriz da cidade

Dos coronéis que prestavam lealdade

Mandando matar gente inocente

Com requintes indecentes

A fim de agradar a população

E o povo miserável da região

Com as poucas migalhas

Vinda de alguns canalhas

Desordeiros no sertão

( 19 )

Torquato foi morto pelos jagunços

Sob o comando de Capriúna

Do cabra que importuna

Que fingindo de manso

Espalhava o seu ranço

Nas quebradas do sertão

Ovelha em pele de cão

Não passava de um mascarado

Que foi desmascarado

Em toda região

( 20 )

Nos rumos de Quixadá

Morava um cordelista

Um exímio artista

Com seus versos a versejar

Que resolveu contar

Histórias de Luzia Homem

Que logo soube o nome

Do assassino dos seus pais

Vivendo nesses carrascais

Crapiúna era codinome

( 21 )

De um jagunço matador

Que logo experimentaria

Pelas mãos de Luzia

A força de um atirador

Na lamina do punhal vingador

Que toda carne consome

A pele desse homem

Que no fim experimentaria

Aquilo que cessaria

A história de Luzia Homem

( 22 )

Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.

Moisés Aboiador
Enviado por Moisés Aboiador em 20/03/2023
Código do texto: T7744976
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