A Praça dos Quatro Poderes

Já vi casos complicado

Em muitas jurisdições,

Já vi muitas confusões

Na vida dum magistrado

Mas, esse aqui é lembrado

Pela complexidade

Numa pequena cidade

Desse país varonil

No nordeste do Brasil

Nessa vã fatalidade.

Antes de adentrar no fato

Vou tentar elucidar:

Um pequeno lupanar

Na praça do Borba Gato,

Frente ao fórum e ao sindicato

Junto ao templo de oração

Daí, iniciou-se a questão

Pela falta de bom senso

Instala-se um clima tenso

Dentro da congregação.

É que a dona do bordel

Foi fazer um puxadinho

Revoltando o seu vizinho,

O pastor, Toi Lionel

Que evocou todo fiel

Pra reforçar a oração

Contra o templo em perdição

Num tom de voz elevado

Rogando ao Santificado

Pra causar a imprecação.

Com o louvor cheio de fé

A resposta chega a terra

E a confusão não se encerra

Caiu um raio no cabaré

Oh! Meu Deus, que funaré

No recinto fulminado

-Quero um bom advogado,

Chame o Doutor Alcione

Para que solucione

Pois, o pastor é culpado.

Não se sabe bem preciso

O porquê do bacharel

Dizem que vive ao bordel

Rabiscando algum inciso

Mas, não façam mal juízo

É um bom profissional

Dizem até, sentimental!

Falam lá pelas surdinas

Vive a ajudar as meninas

Um cara devocional.

Não vou crer que o Pai Eterno

Teve toda essa influência

Também por conveniência,

Jamais o chefe do inferno

Acho até que um cão moderno

Preza o tipo de ambiente

Que aglomera tanta gente

Com seus deleites pagãos

Para encerrar, lavo as mãos

Vou chamar de um incidente.

Chega no judiciário

Frente ao grande Meritíssimo

(Não confunda ao meretrício*)

‘Recorra ao dicionário’

O juiz se põe contrário

Despachar a petição,

-Isso é pra conciliação!

Vão pra vara da família,

Enveredem noutra trilha

Não me tragam confusão.

Mas, então Dona Mercê

Põe a culpa no pastor

Ele diz! - eu não senhor,

Oração não tem poder

Pra fazer um raio descer

Destruindo um cabaré

Ela diz! -eu tenho fé

No poder duma oração

Ele diz! - não tenho não!

Vejam só o labacé...

O juiz se convenceu

Que o pastor foi o mandante

Mas, como usar o flagrante

Se o raio desapareceu,

Alcione intercedeu

-Não esqueça o executor!

-Como intimar meu Senhor???

Na mansão celestial

Nem Moraes tem a moral

Quanto mais um pecador.

“Baseado em fatos surreais de uma crônica real, do meu amigo piauiense, Mozar.