Cordelista do Sertão
Cordelista do sertão é um cabra arretado
Esse é um nordestino da gema
Não deixa se levar por avexado
Faz do cordel seu lema
Que já nasceu no seu sangue
Do poeta que não constrange
Com seu verso de cordel
Na pele de um menestrel
Vive se metendo em palco
Dispensa apresentação
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Esse segue seu encalço
Pra fazer declamação
Em meio às crianças de pés descalço
Nas quebradas do sertão
Cordelista no sertão
Também vive vidas secas
Convivendo entre-secas
Com a falta de pão
Das noites intrínsecas
De tamanha escuridão
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No compasso fiel
Clama ao Deus de Israel
Pedindo por misericórdia
Um socorro do céu
No tempo da discórdia
No romper da aurora
Muitos gemem e chora
Por não ter nada pra comer
Esperando ansioso pela chuva
Sertanejo agradece
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No tempo sem chuva
Pelo fruto do xique-xique
Que vem a florescer
Matando a fome no sertão
Nas casas de pau-a-pique
Um sorriso e um olhar
Que se vive a esnobar
No olhar da moça xique
Do sertanejo que resiste
Com o drama da seca
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De paisagens intrínsecas
Que no verão insiste
Castigar o sertão
No meio da sequidão
Vaqueiro na apartação
Entoa todo gado
Com seqüência de carreira
Em meio as ‘trouxeiras’
De jurema e alastrado
Vira causo contado
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Do folheto registrado
Pelas mãos do cordelista
Seu universo artista
Descreve o sertão
Do bando do cangaceiro
Ao coronel desordeiro
E o vaqueiro do gibão
Ou de homens pioneiros
Que aqui não fiz menção
É verso miúdo do cordel no sertão
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Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.