Geografia do Nordeste

Na Geografia do Nordeste

Tem que ser cabra da peste

Pra poder passar no teste

Dessa grande disciplina

E também grande ciência

Retratando a eloqüência

Do sertão que nos fascina

É preciso focar a retina

No rumo de quem ensina

A geografia no Sertão

( 1 )

Olhando de baixo pra cima

Buscando na imensidão

A realidade do clima

Do úmido ao semiárido

Do torrão ressecado

Da paisagem no Sertão

Onde a paisagem seca

Com sua forma intrínseca

Forma a vegetação

Do cerrado a caatinga

( 2 )

Cai a chuva que respinga

Nas quebradas do Sertão

Eles são inúmeros

Que até me perco nos números

Na hora de contar

Por isso se torna preciso

Não é motivo de riso

Estudar a geografia do lugar

Alagoas, Sergipe, Pernambuco

Terra de Joaquim Nabuco

( 3 )

Bahia, Paraíba e Ceará

Naquelas bandas dali

É aonde se encontra

Na geografia que aponta

O Sertão do Cariri

Reduto do Padre Cícero

E também dos Cangaceiros

De um tal de Lampião

Quem o Padre foi coiteiro

Vou fazendo verso à mão

( 4 )

Nas quebradas do Sertão

Minha rima não afina

No Raso da Catarina

Terra de Maria Bonita

Quem Lampião roubou

Como também botou

O laço e a fita

Lá morou um forasteiro

Por nome de Conselheiro

Também chamava Antônio

( 5 )

No universo bisonho

Da Guerra de Canudos

Faço versos miúdos

Desse acontecimento

E também uns doidos

Lutando sem armamento

Chega até ser doído

Relatos de um povo sofrido

Lutando por um dividido

No comando de Conselheiro

( 6 )

Era quem dava o conselho

A esperança de alguém

E nesse desmantelo

Acabou morrendo também

Nos que foram massacrados

Em meio aos flagelados

Da Guerra de Canudos

Em meio aos absurdos

Vou seguindo a minha rima

Avistando obra prima

( 7 )

Com destino a Juazeiro

Passando por Petrolina

Do São Francisco Pioneiro

Vou traçando o destino

Andando pra mais de léguas

Pelo Sertão Nordestino

Fazendo um folheto pai-d’égua

Nas depressões sertanejas

Do Vale do São Francisco

Seguindo essas pelejas

( 8 )

No Sertão do Velho Chico

Do Sertão de morro abaixo

Ao Sertão de morro acima

Vou seguindo essa sina

Nesse verso eu me encaixo

Na Chapada Diamantina

Dou seqüência no cordel

Pelo morro do Chapéu

Chegando à portuária

Cidade de Januária

( 9 )

Onde o Vale é do Peruaçu

Com vegetação intrínseca

No Parque da Mata Seca

Com o canto do anu

Sigo o cordel que faço

Na Serra do Espinhaço

Como um menino que sonha

No Vale do Jequitinhonha

Estendendo sua prosa

De Guimarães Rosa

( 10 )

No Grande Sertão Veredas

Entre Minas e Bahia

Histórias que contagia

Sobre um tal Antônio Dó

Meu verso arrocha o nó

No cangaço Nordestino

Pela Serra do Cabral

Além da Serra Geral

Trançando um cordel fino

Seguindo o destino

( 11 )

De Riobaldo e Diadorim

Pelo Vale do Jequitaí

Daquilo que contaram pra mim

Sobre essas bandas daqui

Faz toda ficção

Virá realidade

Nas quebradas Sertão

Nesse conto de verdade

Jequitaí é minha cidade

Cidade em que eu nasci

( 12 )

E no cordel reproduzir

Com meu instinto do norte

Lá no Meio Norte

Fazendo um cordel forte

Sobre a Mata de Cocais

O outro Sertão Veredas

Nessas enveredas

De carrascais

Que Guimarães Rosa não conheceu

Escrito no verso meu

( 13 )

Do Maranhão ao Piauí

Estendo o cordel daqui

Pra Zona da Mata Nordestina

Terra que foi o celeiro

Da produção do açúcar

Por lá surgiu o primeiro

Bando de cangaceiros

E o fim da cana de açúcar

Que sucedeu por lá

Aqui eu vou terminar

( 14 )

Mais um folheto de cordel

Como poeta menestrel

Que aqui foi contando

O espaço espacializando

A Geografia do lugar

De quem passa no teste

Vai do Sertão ao Agreste

Descendo pro Litoral

No destino final

Da Geografia do Nordeste

( 15 )

Moisés Aboiador
Enviado por Moisés Aboiador em 15/03/2023
Código do texto: T7741121
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