Filho matuto
Sou um filho matuto
Das quebradas do Sertão
Aprendi a ser bruto
Numa brava condição
Faz o tempo ficar de luto
Quando muda a estação
Na pele do matuto
Mudando a situação
No meu corpo franzino
Aprendi desde menino
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O sistema no Sertão
Dos tempos que labutava
Do roçado a plantação
Quando meu pai me ensinava
Os ofícios do Sertão
Na pele de quem estudava
Almejando uma profissão
O tempo se passou
Na vida de quem se formou
Na escola do Sertão
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Dou muito valor
O pouco que meu pai me ensinou
Daquilo ele deixou
Com sua simplicidade
Não teve conhecimento
De um doutor de faculdade
Mais teve discernimento
De me ensinar com humildade
Creio sem dúvida alguma
É coisa que faculdade nenhuma
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É capaz de ensinar
No ato de se formar
Seja aqui ou acolá
No campo da formação
Não vivo de diploma não
Aqui nem tudo cola
Pois minha maior escola
Foi à escola do sertão
Pensam que aqui tudo é esmola
Que vivemos vida de cão
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Sou mais um sobrevivente
Não sertão ‘indigente’
Nos confins dessa nação
Nem tudo aqui é luto
Vira superação
Vou deixando meu tributo
Da árvore que se fez fruto
Que me deu inspiração
A vencer nesse sertão
Como um filho matuto
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Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.