FOLHETO DE UMA NOTA SÓ
No título já proposto
Não posso nem disfarçar
Pensando sempre comigo
Na certa vou debruçar
Nesses olhos bem abertos
Espere, vou começar.
Nos arcabouços pautados
O verbo quer explicar
Qualquer ser significado
Pode ter como ficar
Trilhando definições
Pra frases modificar.
O Cordel com sua métrica
Vai querer não só rimar
Quer orações caprichadas
Pro poeta se primar
Na primazia dos versos
Leitores vão confirmar.
A tradição do Folheto
Pode de fato contar
Os cordões que lhes pendura
Fez tanta gente sentar
Pra sentir oralidades
Pro trovador vir cantar.
Nessas feiras populares
Cordéis vão canalizar
Cordelista vai dá mote
Para não banalizar
Temas do cotidiano
Pro povo moralizar.
É preciso ter estudo
Pro Cordel se cultivar
No gabinete poético
Criador vai cativar
Histórias interessantes
Que vamos incentivar
No Cordel da nota só
Nós queremos conversar
Crítica será bem vinda
Não vamos nos dispersar
É preciso ler bastante
Nada pode dispensar.
Com certeza vou dizer
Plenamente confessar
O que pretendo de fato
E nem quero professar
Sou professor de saber
Pra gênese regressar.
Cordelistas vão dizer
Certamente concordar
Com as palavras escritas
Podemos as validar
O poder que tem a frase
Queremos só lapidar.
Não é preciso seguir
O caminho singular
Nem tampouco permitir
Sem querer se postular
Os casos de discordância
Que batem no popular.
Os verbos vão refletir
E também no conjugar
As letras de cada rima
E nós vamos promulgar
O Cordel de tema livre
Faz preciso divulgar.
E neste caminho prático
Eu vou ter que caminhar
Nos espinhos desta trilha
Não vai dar tempo sonhar
O nosso sonho é vida
Nós todos vamos ganhar.
Perdendo nesses desmandos
Os versos vão desabar
Escritores do Cordel
Podem até se gabar
Recitais feitos em feira
Estrofes fazem zombar.
Nos processos forasteiros
Não devo classificar
O saber dos grandes mestres
De fácil comunicar
Na facilidade nobre
Ninguém deve criticar.
Acredito nessas críticas
Que só vão referendar
O valor de quem escreve
Nem precisa duvidar
Uns escrevem em gracejos
Que só vão multiplicar.
Na gramática da língua
Repentistas vão sambar
Violas tocando forte
O Cordel vai carimbar
Cantadores no Repente
Poucos querem derrubar.
No passado do meu tempo
Quem pensou psicografar
Tanta máquina fez caso
Dum tal datilografar
Ideias que se casam
Na mente fotografar.
Os poemas redigidos
Tantos deles a vagar
Soltos numa grande pasta
Pro poeta só sugar
O néctar que vem da letra
E tantas eu quis rasgar.
Na rima que batizei
Sei que posso trabalhar
Cada vez mais tem empenho
E frases vou debulhar
Lá na frente tem saber
É justo compartilhar.
No barco da consciência
Eu preciso velejar
Nos trovões do grande rio
Nós podemos pelejar
Nas sílabas do poema
Tem versos pra manejar.
Vou correr nesse momento
Na frente vou revelar
Os segredos duma mesa
Que nos faz ver duelar
Testemunha nas paredes
O que vamos veicular.
No cansaço dos poetas
Cabeças querem tomar
O sentir do criador
Que tudo pode somar
No vocabulário dito
Tem planta no meu pomar.
O verso bem colocado
Sabidos vão refinar
Há tantos anos atrás
No caso do milenar
Os séculos são revistos
Estudos vão dominar.
Tem palavra que precisa
De simples retificar
Assinatura na prática
Que não pode rubricar
Essas frases que são postas
Querem vir significar.
O Cordel na problemática
Vai de fato fecundar
O nascer metodológico
E com prazer vou guardar
Nos arquivos da memória
Na frente posso mudar.
Na mudança dos critérios
O Cordel faz fascinar
Bota rima numa métrica
A quem vá se destinar
Sabedores querem tanto
Novos nomes designar.
Os doutores dos saberes
Querem depressa glosar
Depois das digitações
Precisam ir pesquisar
No computador da sala
As teclas vão revisar.
Nesse verbo do presente
Atenção é bom prestar
A semente dá colheita
Tanto fruto vai brotar
Os folhetos são relíquias
Seus mestres vão relatar.
No passado, no futuro
Tema de vestibular
O Cordel sem preconceito
De viés particular
Espalhados no País
Vamos recapitular.
No capítulo fecundo
De Portugal fez chegar
Ancorando na Bahia
Salvador pensou pegar
Andando pelo Nordeste
Foi gente pra propagar.
Porém, meus caros poetas
A rima quer conclamar
O meu Cordel produzido
Nem preciso te chamar
Esse povo nordestino
Convido pra declamar.
O Cordel que vos escrevo
Queiram só memorizar
Provoco dentro do prazo
Pro Cordel politizar
Eu já fiz a minha parte
Proponho finalizar.