TEMPOS DE RUINDADE
Foi na minha Molequice
que conheci o Daniel,
Na cidade do Teixeira
que é berço do cordel;
O Daniel portava então
a astúcia do ladrão
e o bote da cascavel.
Dom pra tirar dos outros
algo da posse deles,
Era a “função” que o destino
deu pra alma dele;
O Daniel roubava
e dividia com quem tava
atuando junto a ele.
E durante muito tempo
da infância à adolescência,
Eu fui o comparsa dele
sem ter clara ciência,
Que fazia certas ruindades
sob a sua influência.
A primeira ruindade
que fizemos em parceria,
Aconteceu quando nós dois
tinha doze anos de vida,
Na escola Manuel Dantas
durante a tarde dum dia.
Seu Zé era um senhor
que na hora do recreio,
Abria a sua barraquinha
que ficava no terreiro;
Da escola onde pipoca e bala
Ele vendia pra molecada
em troca de dinheiro.
Um dia durante o recreio
o Daniel me chamou,
Pra participar do seu plano
e minha cabeça balançou;
Dizendo sim inconsciente
nos escondemo e de repente
a escola se fechou.
Não tinha mais ninguém
dentro daquela escola,
Porque após as cinco e meia
todo mundo foi embora,
Com exceção de nós dois
que ficamos atrás da porta....
Escondido até o sino tocar
e todo mundo ir embora,
Fomos até a barraca do Seu Zé
que parecia uma carroça:
Uma caixona de madeira
sustentada por duas roda.
Levamo a barraca pra detrás
da cantina onde lá tinha mato,
Sem fazer muito esforço
arrombamos o cadeado;
Nossos zói de criança
vendo doces em abundância
ficaram abrilhantado.
Pipocas, balas e pelotas
salgadinhas e biscoitos,
Pusemos tudo num saco
pegamos o dinheiro todo;
Um potin chei de moeda
dividimos mei a mei elas
deu seis conto ao todo.
A prefeitura era vizinha
da escola onde nós tava,
Separadas por um muro
c’uma laje na parte alta;
subimos o muro até ela
onde ali começou a farra.
Daniel abriu o saco
que tava cheio de breboto,
Comecei pelos caramelos
e ele pelos biscoitos,
Comemos até arrotar
e se lambuzar todo.
Os três conto do esquema
no vídeo game eu gastei,
Depois eu fui pra casa
tive dor de barriga e caguei;
Uma lombriga que inda hoje
acredito ter sido os doces
que naquele dia devorei.
A gente andava pela rua
à procura dos esquema,
Sendo Daniel o líder
que mantinha as antena;
Preparadas pra detectar
o que fácil pudesse tá
pra nós levar sem pena.
Numa noite de sexta-feira tava
eu, o Daniel e o Bernardo,
Pelo apelido de “Sem-cintura”
Bernado era chamado,
Ele parecia um pau reto
que a morrer reto tava condenado.
A gente passava na Pracinha das Alma
umas onze horas do anoitecer,
Ninguém passava por ali
quando Daniel fez dizer:
“Tá dando muito vacilo
essa budega do PC.!
A budega do PC ficava
vizinho ao posto do Zé Baldo,
Que há bastante tempo
estava desativado;
E o Daniel me disse:
“fica de olho, visse?
que vamos meter o gato!”
Eu fiquei na pracinha vigiando
os dois foram até lá,
Chutaram a porta de madeira
um som de estrondo fez ecoar;
Só foi na terceira voadora
que Daniel derrubou a porta toda
e os dois fizeram entrar.
Daniel saiu segurando
uma caixa de sapato,
E o Sem-Cintura levava
um grande saco,
Fomos pra Pedra do Cruzeiro
onde lá vi o resultado...
Da nossa ruindade cujo lucro
foi uma caixa de moeda,
E uma sacola de breboto
muita coisa tinha nela,
Incluído vários pasteis
de frango e muçarela.
Entalamos nossa barriga
e dividimos o dinheiro,
Que dava pra encher
um porquin de minhaeiro;
Cum meu lucro dessa ruindade
eu gastei jogando à vontade
Bomberman hero.
Assim como os outro esquema
o seguinte veio de forma espontânea,
Quando eu, Daniel e Lucas
fazíamos vagabundância;
Pelas ruas do Teixeira
até que o Daniel fareja
algo na escola Silveira Dantas.
O Daniel nos contou uma
hipótese que tinha formulado,
S'ele tivesse certo iriámos
ficar de bucho inchado,
De tanto comer breboto
guardado pros colegiados.
No outro dia seria o Dia das Crianças
eu e Lucas concordou,
Com o plano do Daniel
e na escola nós entrou,
Por cima das telhas de polietileno
que na boa nos aguentou.
Quando chegamos na cantina
curiosamente a porta,
Não tava trancada
nós entramo na hora;
Vendo o tanto de breboto
nós se enlouqueceu todo
e enchemo três sacolas....
Cum monte de saquinhos
cum desenho dum palhaço,
Bem cheios de doce
e um pacote de salgado;
Após enchermos as sacolas
dali nós fomo embora
e voltamos pro telhado.
O nosso parceiro Lucas
de Pêca Jr. nós o chamava,
O qu’ele não tinha de corpo
a sua cabeça compensava,
Era do tamãe d’um boliche
só que meio deformada.
E quanto mais ele comia
algo bizarro nele eu via,
Como se a cada mastigada
a sua cabeça crescia,
Será s’era dentro do crânio
que ficava sua barriga?
A data festiva das crianças
comemoramos com antecedência,
Naquela tarde no telhado
sem sentir dor na consciência;
Ao contrário de sentir dor
os breboto nos motivou
a fazer mais deliquência.
De frente da igreja católica
que fica na saída pra Patos,
Tinha uma casa cujo muro
dava pra pular dum salto;
A luz do quintal tava ligada
em pleno dia e Daniel falava
“acho qu’ius Dono viajaro.”
Ele chamou eu e Sem-Cintura
e o Pêca Júnior também,
Pra pular o muro com ele
fizemos isso e também,
Arrombamos a porta que ligava
a casa ao muro porém....
Bastante tenso nós tava
fazendo aquele delito,
Mas só foi entrar na casa
pra nós se sentir vivo,
Daniel viu as panela e disse:
“agora vamo ficar rico!”
Nós reviramo a casa toda
procurando coisas de valor,
As vasilhas de alumínio
nós quatro amassou,
Pusemos dentro dum saco
pra levar ao comprador.
Depois de enchermos o saco
nós voltamos a revirar,
Os cômodos da casa
até o Daniel achar;
Dois facões gigantes
e no mesmo instante
começou a me desafia.
“Tem coragi?
d’uma briga de faca?”,
Ele me perguntou e eu
chamei ele pra batalha,
Com um facão na mão
senti o peso da adaga.
D’uma facada Daniel rasgou o ar
eu bloquei com meu facão,
Eu pensei que ele
não tinha falado sério não,
Mas depois daquela lapada
desistir da continuação.
Nosso lucro da invasão
foi um saco abarrotado,
De alumínio que nós vendeu
por uns vinte conto acho;
Naquele tempo cinco reais
pra cada um era demais
por isso ficamos felizardo.
Havia um mercadin na central
sem câmera de vigiar gente,
Com seu muro bem colado
ao cemitério teixeirense;
Até lá Daniel nos levou
e nós quatro analisou
se dava pra roubar de repente.
No muro do mercadin tinha
um pastor alemão,
Do tamãe dum bezerrinho
e da largura dum canhão,
Pêca Júnior e sem Cintura viram
e disseram:”não dá certo não.”
Nós quatro observarmo o muro
de cima d’uma cova,
Após os dois guri falar
Daniel falou na hora,
Seu plano e nós topamo
amanhã távamos de volta.
De Conseguir uma coisa
eu fiquei encarregado,
Que foi arrumar salsicha
e um veneno de rato;
Já era umas dez hora
da noite perto da cova
quando nós se encontraram.
Fomos até a parede do muro
que não tinha cerca elétrica,
O cachorro começou e latir
e a pular feito uma égua;
O latido era tão alto
que os defunto enterrado
só faltaram sair da Terra.
Daniel furou a salsicha
cum pedaço de canudo,
Pôs o veneno dentro e disse:
“aqui vai o cremoso churrus”,
Jogou pro pastor alemão
e ele comeu tudo.
Assim qu’ele comeu
o cachorro voltou a latir,
Só que o som aos poucos
começou a diminuir,
Até qu’ele começou
a espirrar mas sem cair.
O cachorro zonzeava feito bebo
vez e outra dava um pinote,
Se tremendo igualzinho
a um tromboso velhote;
Uma baba espumante
saiu da boca naquele instante
e ele perdeu pra morte.
A primeira fase do plano
tinha sido um sucesso,
Agora era a vez da segunda
desprovida de mistério;
Pulamos dentro muro
passamos pelo cão duro
e subimos no teto.
Tiramos um bucado de telha
e demos um nó entorno,
Duma ripa de madeira
da grossura dum tijolo,
Chegando assim a hora
do momento mais perigoso.
O Daniel e o Sem-Cintura
ficaram com a missão,
De descerem pela corda
até pisarem no chão,
Do mercadin que tava
todo na escuridão.
O Daniel desceu primeiro
e o Sem-Cintura começou,
A descer pela corda
até qu’ela se torou;
Após ele cair no chão
gritou feito o Cão
quando Deus o derrotou.
“Deixa de mãnha!”
Daniel sussurrou,
Enquanto o Sem-Cintura
tava num chororó, após;
A corda Daniel ter lançado
eu a segurei e dei um laço
e o plano continuou.
Cum tempo Daniel subiu primeiro
segurando uma sacola,
Onde dentro dela havia
um pote de paçoca,
Tão cheia de moeda
que caiu umas pra fora.
Depois o Sem-Cintura subiu
segurando um sacão,
Com todo tipo de breboto
pipoca, doce e bolachão,
E besteiras cum moleque
não resiste à tentação.
Nós voltamo pro cemitério
E em cima d’uma cova,
Daniel derramou as moeda
do pote de paçoca;
”Quem quiser sua parte
que fique à vontade
pra pegar aqui agora.”
Com as duas mão Daniel
arrastou um monte de moeda,
Na direção da sua barriga
e nós repetimo aquela;
Ação dele até não sobrar
nenhuma moeda pra ficar
prus morto daquela terra.
Nós subimo a ladeira da CAGEPA
com destino até a Pedra,
Do Cruzeiro onde no céu
havia uma imagem bela,
Cheia de pontos de luz há
anos-luz daqui da Terra.
Em cima da Pedra do Cruzeira
havia uma pedra mais alta,
Essa era onde as antena
de transmissão de Tv ficava,
Nós subimos lá em cima
e vimos a cidade na calma.
Comendo breboto nós se gabava
daquele feito bem-sucedido,
Enquanto no Texeira
não tinha sinal de ser vivo;
Do alto de onde nós tava
toda cidade pra vê dava
tarde da noite bem tranquilo.
No tempo de campanha
das eleição nós tinha ido,
Na casa dum candidato
a prefeito conhecido;
Por Valder César Honola
dono dum planti de cebola
e de vacas e novilho.
Na casa dele tinha umas pessoa
fazendo fila no seu portão,
Assim qu’ele foi aberto
todos entramos e então,
O portão foi fechado
E nos deram café com pão.
Após o café iniciou
uma corrupção eleitoral,
Valder tirou do bolso
um bolo de grana e afinal,
Só deu a quem votava
e isso nos deixou mal.
Porque nós era moleque
que na cama inda michava,
O Daniel nos chamou
pra irmos até a sala;
No caminho do corredor
nós quatro observou
uma porta destrancada.
Daniel pediu pra nós
três ficar vigiando,
E ele entrou no quarto
depois saiu e disse:”vamo!”;
Quando nós tava na rua
ele tirou das calça sua
uma carteira cor castanho.
Dois cartão de banco tinha nela
RG e outras documentação,
De Valder César Honola
que só nos deu café cum pão,
Isso e nenhum centavo
nos enchendo de irritação.
Ao procurar por grana Daniel
viu qu’isso não tinha dentro dela,
Então jogou a carteira
lá na basta d’uma égua,
Nos deixando vingado
c’uma atitude daquela.
Meu irmão mais véi sabia
da fama de trombadinha,
Que na cidade do Texeira
meu parça Daniel tinha;
A mãe ele dizia então
pr’ela não dá permissão
pr’eu andar cum fora da linha.
Só que eu não ouvia minha mãe
como todo filho tolo,
E por isso me envolvi
com esses tipo de roubo;
Até cair na escuridão
onde só lá eu pude então
das cinzas nascer de novo.
Havia tempos que me afastei do Daniel
Eu tava perdido cegamente
Lembro que vim pra São Paulo
Eu era escravo da minha mente
Navegava a esmo pelo asfalto
Ixistia e não vivia de fato
Levava uma alma doente
Só aqui conheci as pessoas certas e
O Amor delas ruiu minhas mazelas e
Nisso me vi curado novamente.
Santo André, 4 de Março de 2023