Hoje vou falar de mim
I
Leia quem quiser saber.
Hoje eu vou falar de mim.
Falo mesmo, estou afim.
Toda verdade do meu ser,
Que nem conseguiu crescer,
Essa metade, quase dama.
É mínima a minha cama.
Sou baixinha e bem roliça.
Que numa caixa espreguiça
Mas existe quem me ama...
II
Hoje eu vou falar de mim
Não gosto de falar de ninguém
Muita gente diz: que é que tem?
O meu cheiro não é de jasmim.
Mas se forçar sai um: atchim!
Essa metade, quase dama.
É mínima a minha cama.
O cabelo é desgrenhado,
O rosto é todo rugado.
Mas existe quem me ama...
II
Sou mais fera do que bela,
É de porco o meu nariz.
Ainda assim eu sou feliz.
Minha língua é sem tramela
Sou do tempo da gamela
Essa metade, quase dama.
É mínima a minha cama.
Minha cara tem espinha.
E muitos pés de galinha.
Mas existe quem me ama...
IV
Tenho um coletivo de estrias.
Na mesma proporção: varizes.
Atuo em muitas atrizes.
Carregada de alegrias.
Faço minhas poesias.
Essa metade, quase dama.
É mínima a minha cama.
Batata da perna é mandioca.
Um ‘zoião’ feito biloca
Mas existe quem me ama...
V
O peito; abriga o coração.
A colcha da cama é limpa.
A panturrilha: supimpa.
O bum-bum é percussão.
Cintura não tem violão.
Essa metade, quase dama.
É mínima a minha cama.
O pé: do tamanho de bebê
As vestes são ‘démodé’
Mas existe quem me ama...
VI
Talvez seja meio sem graça,
Mas sou muito amorosa
Quase oitenta, murcha rosa.
A vezes eu sou boa praça
Doutorada em pirraça
Essa metade, quase dama.
É mínima a minha cama.
Meia doidinha da cachola
Faz tempo, fugi da escola
Mas existe quem me ama...
VII
Adepta à realidade.
Faço aqui meu autorretrato
Pra ninguém pago o pato
Não minto, sou sem vaidade
Prezo essa liberdade
Essa metade, quase dama.
É mínima a minha cama.
Sou um tanto analfabeta
Faço escândalo, nada discreta
Mas existe quem me ama...
VIII
Me divirto com a poesia.
Ela sempre me sacaneia.
Caio: patinho na teia.
Eu e ela fazemos orgia.
Tem vezes que é putaria.
Essa metade, quase dama.
É mínima a minha cama.
Como é bom dizer besteiras.
Desestressa a bagaceira.
Mas existe quem me ama...
IX
Dinheiro? Nenhum trocado.
Muito menos uma herança.
Zerada a minha poupança.
O meu cartão estourado.
Mas Cristo seja louvado.
Essa metade, quase dama.
É mínima a minha cama.
Sem nenhuma paciência.
Semelhança? mera coincidência.
Mas existe quem me ama...
*Como é bom ser louca...háááá!
Uberlândia MG