O Cangaço
Não existe objeto de estudo
Pra ter tanta informação
Como o Cangaço do Sertão
Pois não me iludo
Nessa opinião
Pois tem objetos
E fatos concretos
Que remontam a história do país
Na terra do chafariz
Esse é o dialeto
( 1 )
Começa no período colonial
E continua no mundo atual
Para começar
Pernambuco é o lugar
A origem do movimento
De dor e sofrimento
Pelo Nordeste Brasileiro
Onde o Brasil inteiro
Viu o esporte sangrento
Pelos Sertões do Nordeste
( 2 )
Onde Cabras da peste
Motivados de sentimentos revolucionários
Como Revolução Francesa
Fez o conto do vigário
Na região camponesa
Pois a lei não funcionava
Onde o poder mandava
E a justiça se fazia
Com o peso das mãos
A história recria
( 3 )
De Cabeleira á Lampião
A era dos Justiceiros do Sertão
De passado corrompido
Com a fama do bandido
Eis o vulgo Cabeleira
Pra muitos o primeiro
Cangaceiro Nordestino
Como pioneiro
Agiu na Zona da Mata
Coube o destino
( 4 )
Que não adentrasse o Sertão
Nessa vida ingrata
Não teve fama de ladrão
É o que relata
Ao contrario de outros alcunhas
Que calçavam precata
Que de atrocidades impunham
O Cangaço no Sertão
Oposto de Lampião
Temos Jesuíno Brilhante
( 5 )
Onde apresento pra tu
O Cangaceiro de Patu
Lá no Rio Grande do Norte
Pois é muito revoltante
A história desse Cabra
Desafiava a morte
Contra os poderosos
Entre os revoltosos
Defendia o povo do Sertão
E só entrou no Cangaço
( 6 )
Devido seu embaraço
Com a família Limão
Culpa sem acusação
Foi ver seu irmão
Lucas Caiado
Ser acusado
Por um crime que sofreu
E logo se meteu
Naquela confusão
Libertando seu irmão
( 6 )
E os prisioneiros da região
No estado da Paraíba
No Sertão de Morro Arriba
Ficou de lição
O ataque de Jesuino
A cadeia de Pombal
No Sertão Nordestino
Não se tem sinal
De um Cangaceiro
Tão justiceiro
( 7 )
Como esse no Sertão
Nessa ocasião
Sua revolta ocorre
Quando morre
Um membro de sua família
A mando dos Limão
A justiça nada fazia
Aos poderosos da região
E por ironia do destino
Jesuíno
( 8 )
Fez justiça com as próprias mãos
Comprando briga com os Limão
E os poderosos do Sertão
Covardes e maldosos
Eram coronéis poderosos
Armados com a jagunçada
Metendo a louca
Tirando alimento da boca
Da população flagelada
Pela seca no Sertão
( 9 )
Pobre era população
Que tinha seu direito roubado
O alimento saqueado
Nas quebradas do Sertão
Nessa vida errante
Coube a Jesuíno Brilhante
Lutar contra poderosos
Homens maldosos
Que ali tinha roubado
Na calada saqueado
( 10 )
O alimento do camponês do Sertão
Flagelado pela seca
No flagelo das secas
Jesuíno devolvia a população
O que era de direito
Pois sempre teve peito
Contra o mal sujeito
O coronel do Sertão
Quem nunca ouviu falar
De António Silvino
( 11 )
Daquelas bandas de lá
Do Sertão Nordestino
Pernambuco é o lugar
Onde nasceu esse Cangaceiro
Em Afogados da Ingazeira
Formou-se se a cabroeira
Desse Cabra justiceiro
Do Nordeste Brasileiro
Quem se tornou Bandoleiro
Teve um motivo
( 12 )
Pra sair vivo
De uma vida desgraçada
Privilégios pra muitos
Outros não tinha nada
Quanto menos pra comer
No seu proceder
E sem desatino
Apresento António Silvino
O Cangaceiro do rifle de ouro
Valente como um touro
( 13 )
Desafiando a cabroeira
Das terras pernambucanas
Nessa bagaceira
Teve a sua fama
Como desafeto dos poderosos
Homens impiedosos
Que nas bandas de Pilão Arcado
Tinham seu domínio marcado
Regrado de tanta cobiça
Plantando injustiça
( 14 )
Lá nasceu António Antunes de França
O vulgo António Dó
O que se tem de lembrança
Que era Cangaceiro do São Francisco
É uma tristeza que só
Falar da sua infância pobre
Em Serrano de Pilão Arcado
Gente com ouro e cobre
Ele no aperto danado
Essa era sua melancolia
( 15 )
Nos Sertões da Bahia
Mas nesse risco
Teve uma vida de rico
Descendo o Velho Chico
No Sertão de morro acima
Pois não há quem subestima
Suas façanhas nos Sertões de Minas
De Herói á Bandido
Faltam apelidos
Tanto do lado de cá
( 16 )
Como de quem viveu por lá
Pelas bandas de São Francisco
E Chapada Gaucha
Filho de pobre não luxa
Mais esse ficou rico
Fazendo pacto com `cão´
Acendendo Banditismo no Sertão
Nessa guerra sem precedentes
Sobraram para os inocentes
Que morreram queimados
( 17)
No massacre de Vargem Bonita
Onde foram registrados
Quase 80 assassinatos
E a história incita
Nos relatos
A conseqüência dos seus desafetos
Com o tenente Felão
Seu maior inimigo
Nesse mesmo dialeto
Das quebradas do Sertão
( 18 )
Só com cara de poucos amigos
Pra falar de Lampião
E falo com certeza
Era muita tristeza
Nas quebradas do Sertão
Lá no Sítio Passagem das Pedras
Nasceu esse Cangaceiro
Que a história desenreda
Como um filho do “cão”
Aqui nesse luzeiro
(19 )
Ao vulgo Lampião
Na terra do camarada
Das bandas de Serra Talhada
Sertão do Pajeú
Os boatos corriam
Se escutava como Teiú
Pois ali ocorria
Suas desavenças
Com os desafetos do Sertão
Na presença
( 20 )
De José Saturnino
Só era confusão
Triste destino
Foi aquela terrível cena
Vê o seu pai morto
A mando de José Lucena
É nesse caminho torto
Que surge o Cangaceiro
De nome Lampião
Falando pro mundo inteiro
( 21 )
Ser o Governador do Sertão
Assinando essa patente
Do passado ao presente
Foi justiceiro e ladrão
Na opinião dos estudiosos
E da população
Com seu grupo de revoltosos
Botou terror no Sertão
Combatendo com as volantes
Do São Francisco as jusantes
( 22 )
A notícia que corria
Que um dia roubaria
E se apaixonaria
Por uma jovem chamada Maria
D’edea ou Bonita
A história incita
Á quem muitos apontam
E boatos contam
Ser o mais cruel Cangaceiro
Que pisou pelo Sertão
( 23 )
Pois era um guerreiro
Abraçado com o ‘cão’
Preferiu o outro lado
Deixando Deus de lado
Percorrendo o Sertão
Praticando Banditismo
E foi nesse ‘ismo’
Que no Rio Grande do Norte
Invadiu Mossoró
Seu Cangaço era forte
( 24 )
Nesse dia virou pó
Quis assaltar o Banco do Brasil
Junto a sua cabroeira
Desfilando de Fuzil
Com a população inteira
Apagando o seu pavio
Pois foi dominado
Junto com os seus Cabras
Pois um Cangaço armado
Também se acaba
( 25 )
Lampião foi derrotado
Nas quebradas do Sertão
Esse foi recado
Daquela população
Mais ficou só nisso não
Junto á sua Cabroeira
Aterrorizou famílias inteiras
Há boatos de assaltos,
Estupros e homicídios
Esses são os altos
( 26 )
De um caráter corrompido
Vale a pena ver de novo
De justiceiro do povo
Flagelado do Sertão
Ao Bandido torturador
Que fez pacto com ‘cão’
Praticando seqüestros na Bahia,
Rio Grande Norte e Ceará
E logo se uniria
Com um beato de lá
( 27 )
Um tal de Padre Cícero
Mais danava a se encontrar
Na companhia de Corisco
Outro Capitão
Que após o estrondo
Do Massacre de Poço Redondo
Quis vingar a sua morte
Nessas bandas do Norte
Foi essa a decisão
De Cristino Gomes da Silva Creto
( 28 )
Pra ser mais concreto
O vingador de Lampião
De nome Corisco
Lá das Alagoas
Antes de ser Cangaceiro
A história entoa
Seu desentendimento
Com um vizinho treteiro
Protegido de coronel
E descrevo no papel
( 29 )
Seu primeiro homicídio
Em meio ao genocídio
Do Cangaço do Sertão
Também faço questão
Como poeta menestrel
Replicar nesse cordel
Sua vida com Dadá
Que foi raptada
Como pagamento de uma dívida
Que tinha com seu pai
( 30 )
No universo que atrai
Essa vida corrompida
Perdeu a própria vida
Tentando vingar o capitão
O vulgo Lampião
No contexto do Cangaço
E nessa queda de braço
De quem se opôs ao Estado
Fica aqui registrado
Outros bandoleiros
( 31 )
Como os Cangaceiros
Lucas Evangelista, Sinhô Pereira,
João Calango, António Ferreira,
José Matilde e Sabino Gomes
Completa a cobroeira
Esses são os nomes
De alguns homens
Que lideraram esse movimento
Reconhecido até o momento
Por causar dor e sofrimento
( 32 )
Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.