DESPROVIDO

Companheiros do Cordel

É fácil apresentar

O que tenho pra dizer

Em instantes vou falar

Escrito que me sucede

Sempre brincando me pede

Eu mesmo já vou contar.

Contarei simples história

Que narra sobre poder

O poder da força bruta

Que faz a gente sofrer

Nas mãos duma malvadeza

O mundo não é moleza

O verbo só quer viver.

Vivo sempre do que sei

O que gente me contou

Romance é um enredo

Que tão cedo publicou

Tentarei falar de vida

Sarar bastante ferida

Mas que nunca confirmou.

Confirmo pra produzir

Este Cordel Brasileiro

Sento no computador

Reflitamos bem ligeiro

Em tudo que não contei

Nos versos que naveguei

No meu sonho verdadeiro.

Na verdade do falar

O que temos de direito

Nos deixe com essa vida

E não perfure meu peito

Eu só venho lá de trás

Enfrentando satanás

Depois fico satisfeito.

Satisfazer nessa vida

Sem nem pensar em bondade

Uns ganham com o suor

Outros pela falsidade

Na terra tudo se paga

Tudo na vida tem saga

Mesmo não tendo cidade.

Cidadã vive do tempo

Seja só de gratidão

No futuro sem passado

Nas rimas do bordão

Eu pegando pelo braço

Me viro qualquer bagaço

Gemendo na solidão.

Quem me dera solitário

Bem longe fazer loucura

Trazendo comprida vida

Tanta gente sem postura

Mas como sou ser humano

Contemplando desengano

Deixo tudo na fartura. .

Estranho desejo farto

Nos belos jardins floridos

Casamentos fracassados

Nos revés dos enxeridos

Se gosta do que gostou

Vou buscar o que restou

No ventre dos envolvidos.

Nós todos nos envolvemos

Se queimo, jamais enterro

Onde for quero sossego

Nunca mais ouvir um berro

Humanidade é tosca

Grande garrafa sem rosca

De madeireira sem ferro.

Ferradura dessa vida

Nos deixará sem ter meta

Lançamentos tão confusos

Vai matando qualquer seta

Para razão visual

Não renego capital

Seguindo bem minha reta.

As luzes retas piscando

Da casa número trinta

Cadeiras balançarão

E sofás não darão pinta

As senhoras trarão sopa

Os senhores darão popa

São pincéis fora da tinta.

Sofrem tanto das tinturas

No sótão não quer ficar

Pula sem fazer zoada

Anda sem querer andar

A venta fora de forma

Com nada não se conforma

E nem quer se confrontar.

Tantos vícios confrontados

Ficam fora desse sonho

De ver melhor esse tempo

E dentro disto proponho

Levar tudo que for nosso

Deixar tudo que não posso

Se queres, eu me disponho.

Dispostos em ter bondade

Homens viram arrogantes

As mulheres são mais sábias

Dispensam os seus amantes

Os meninos e meninas

Vivem em terras cretinas

Subindo rodas gigantes.

Gigantescos opressores

Aquele que não sufoca

O tempo declara guerra

Adultos brincam de toca

Humanos não viverão

Sempre sobreviverão

Escondidos numa loca.

Nas locas da mocidade

Uns vão se perder sorrindo

As mulheres querem paz

E tantos só resistindo

Chorar é um verbo triste

Que da luta não desiste

E se fica vai pedindo.

Pede tudo que não ver

E quando ver nunca sabe

O tempo é para poucos

E no bolso nunca cabe

A ponte que nos sustenta

Um terror que nos ostenta

Sendo bom que não desabe.

A maldade não desaba

É perversa, é canalha

Que só sopra pelos olhos

Por ver dentro tanta falha

Cidades serão fraternas

Forças serão subalternas

São telhados sem ter calha.

Nessas calhas sem matriz

Deste querer exprimir

O tema que se discute

Ele logo vai falir

Seja bom ou seja tudo

Relembrando ser entrudo

O que fazer permitir.

As permissões são pautadas

No verbo multiplicar

Falar em amor paixão

Podemos se complicar

Nós precisamos de paz

Na canção pobre rapaz

Pra você querer ficar.

O levante desse povo

Que você não me contou

Até hoje guardo tudo

Gente fraca se zombou

Você já foi professora

Devia ser contadora

Dizer que jamais amou.

Nunca vão querer amar

Porque te chamam de besta

Outros bem mais atrevidos

Lhe botavam numa cesta

Porém, naquela batalha

Gente boba de navalha

Briga num dia de sexta.

Sexta-feira desprovida

Tinha festa sem valor

Viveu só pra fazer mal

Num templo quis ser pastor

Foi bem mais que procurado

Por todo mundo notado

Feito roda de trator.

Tratores sem motorista

Dirigindo vis serpentes

Percebendo ser donzela

Fingiam ser mais contentes

Vendo toda formosura

Dessa frágil criatura

Se fingindo pros dementes.

A demência dos humanos

Causa tanto sofrimento

Seduzir a pobre moça

E deixava no convento

Tantas foram massacradas

Pelos sonhos esmagadas

Na cidade do tormento.

Lugarejo das tormentas

Tal qual vasto cemitério

Nos causou tanto terror

Como faz ter adultério

Casais se separaram

E não mais se juntaram

Neste lugar de mistério.

Donzelas misteriosas

Retiravam corações

Atiravam pros pardais

Que paravam as canções

Pelas partes dum suspeito

Facada dada no peito

Em nome das devoções.

Gente bem mais que devota

Vivia só dos perigos

O dia passava logo

Soturnamente castigos

As moças detinham medo

Todas dormiam mais cedo

Ficavam em seus abrigos.

Abrigado desprovido

No dedo tem cem anéis

Que brilhavam como luzes

Pisca-Pisca de bordéis

Era tudo falação

A guarda do coração

Guardando todos cordéis.

São folhetos publicados

Cada leitor que comprava

Guardava nos seus baús

O público perguntava

Insistentemente lia

Encontrar a poesia

Porém, só guerra contava.

Já contei, vou terminar

Com dores no coração

Pensando nisso que fiz

Eis a minha condição

Você escreve também

Faça sem pensar além

E fique nessa lição.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 26/02/2023
Reeditado em 22/09/2024
Código do texto: T7727856
Classificação de conteúdo: seguro
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