O CASO DE JUSTINE E O TRABALHO EM CONJUNTO DE UMA EQUIPE (Baseado em um caso real de uns anos atrás, logo usamos nome fictício)

 

AUTOR: JOEL MARINHO

Ó Senhor, dai-me uma luz

Para eu conseguir contar

Essa história tão macabra,

Mas eu preciso falar

Desculpe, caro leitor

Lágrimas no rosto rolou

Não tem jeito, vou chorar!

 

Por ser história real

E infelizmente, pesada

Uso nome fictício

Por minha ética firmada

E assim não causar danos

Mesmo já fazendo anos

Que ocorreu essa presepada.

 

Justine era uma menina

Que perdeu a mãe novinha

E viu cair-se em desgraça

De uma forma bem mesquinha

Quem devia proteger

Andou mal no proceder

E sobrou para “coitadinha”.

 

O pai ao ficar solteiro

Se juntou com a tia dela

A irmã de sua mãe

Como coisa de novela

Mas deixa isso pra lá

Não vamos aqui julgar

Não daremos a isso trela.

 

O pior veio depois

Com seis anos de idade

Justine mudou demais

Já não ficava à vontade

Sem respeito a pai e tia

Ficou demais arredia

Beirando a perversidade.

 

Mandaram então ela embora

Pelo seu “instinto mal”

E na casa de outra tia

Pôde falar, afinal

O porquê daquele jeito

Que ela não tinha respeito

E lhe achavam anormal.

 

Disse ela o meu pai

Faz umas coisas nojentas

Fica tocando meu corpo

E isso me atormenta

Eu já não aguento mais

Essa coisa em mim faz

Tornar-me assim violenta.

 

A tia sem ter demora

Correu para acionar

O órgão que cuida disso

O Conselho Tutelar

Que expediu no momento

Prisão pra procedimento

Para a denúncia apurar.

 

Mas o Conselho local

Não cuidou como devia

Fez ouvido de “mercador’

E fez até que não via

E ela continuou

Naquele circo de horror

Sofrendo dias e dias.

 

A tia continuou

Com o pai de Justine casada

E a menina ficou

Cada dia mais revoltada

E a tia chegou a mim

Dizendo, o que faço enfim

Diz, que estou enrascada.

 

Então uni a equipe

Pra fazer corpo de delito

Tentar tirar a menina

Daquele lugar de aflito

A outra filha da tia

Que tinha epilepsia

Também soltou o seu grito.

 

Mandado ao IML

Pelo Conselho Tutelar

Fizeram exames nas duas

Para poder comprovar

Feito o corpo de delito

Por um grupo de peritos

Eis que as provas estavam lá.

 

Pois as duas garotinhas

Haviam sido violadas

E o “cara” estava em casa

Disso não sabia nada,

Para não desconfiar

O Conselho Tutelar

Armou essa emboscada.

 

Poque a tia de Justine

Queria mandá-lo embora

O Conselho Tutelar

Disse, ainda não é hora

Mantenha-se na calada

Sem ele saber de nada

Para ele não cair fora.

 

Levou assim cinco meses

À essa investigação

Até que chegou o dia

De efetuar a prisão

E foi naquele momento

Que senti contentamento

Na alma e no coração.

 

Porém a maior vitória

Veio no ano passado

Quando houve o julgamento

E ele enfim condenado

Sei que não mudam os traumas

Porque o golpe na alma

Infelizmente está gravado.

 

Vinte anos de cadeia

Foi essa a condenação

Talvez tenha sido pouco

Pra tamanha aberração,

Mas como as leis do país

Condena e assim diz

Que fique lá na prisão.

 

Pois é tão bom quando vemos

A justiça sendo feita

Não que ela seja justa

Nem muito menos perfeita

Mas que tenha bom proceder

Para nunca mais haver

Desses crimes nem suspeita.

 

Pois igual a esse caso

Nesse exato momento

Há meninas e meninos

Passando pelo tormento

E quem esteja por perto

Mantenham-se sempre alerto

Para evitar sofrimentos.

 

Infelizmente o mal

Está onde não devia

E dentro da própria casa

É que mora a agonia

Na luz do sol ou noite escura

Vivem essa grande tortura

Tornando a vida vazia.

 

Mas o que quero dizer

Além do que já foi dito

Que quando uma equipe

Faz um trabalho bonito

Pode assim resgatar

E até fazer sonhar

Quem vivia triste e aflito.

 

Com a intersetorialidade

Trabalhamos nesse caso

Talvez tenha demorado

Devia ter menos prazo,

Porém fomos trabalhando

Um ao outro se amparando

E nada foi por acaso.

 

Isso mostra para nós

Que quando temos vontade

E a equipe trabalha

Com afinco de verdade

Temos grandes resultados

Meninos são resgatados

Das garras desses covardes.

 

Por aqui eu vou findando

Essa história cruel

Sou feliz porque eu fiz

Na função o meu papel

Mas existiram momentos

Juro, quase não aguento

Engolir todo esse fel.

 

Espero não precisar

Resgatar a mais ninguém

Das garras de um tutor

Que ao invés de fazer o bem

Traz de forma infernal

Tristeza, dores e mal

Ao corpo e a alma também.