Romance do pato misterioso

Faz cem anos que escreveram

O Pavão Misterioso

Um romance de cordel

Que ficou muito famoso

E eu aqui apresento

Este pato buliçoso

Que vai bulir com a história

Do renomado folheto

Nova versão da autoria

Agora eu submeto

Aos entendidos do tema

Neste humilde livreto

José Camelo Resende

Reivindica a autoria

João Melquíades Ferreira

Era dono da franquia

Assinava como autor

Iniciando a porfia

Leandro Gomes de Barros

Foi o autor verdadeiro

Do romance do pavão

Atrapalhando o roteiro

Conforme me disse alguém

Atiçando esse braseiro

José Camelo Resende

Um cantador de viola

Sentia dificuldade

De produzir na cachola

Poemas de qualidade

Pegava então na sacola

Romances, canções e trovas

Sem ser de sua autoria

E cantava com o parceiro

Em todo canto onde ia

E o Pavão Misterioso

Ficou sendo a trova guia

Assim o José Camelo

De tanto cantar Pavão

Expropriou o romance

Em suma, “passou a mão”

Esquecendo o verdadeiro

Autor da bela canção

João Melquíades Ferreira

Um poeta e cantador

Natural de Bananeiras

Com fama de lutador

Sentou praça na milícia

Foi sargento com louvor

Brigou na guerra em Canudos

Foi cruenta sua lida

Chegando na Paraíba

Achou de ganhar a vida

Vendendo folheto em feira

Na sua terra querida

Com o dinheiro apurado

Na campanha militar

Ferreira foi a Camelo

Pra comercializar

Ganhou então o folheto

Em um jogo de azar

Assim nesse carteado

José Camelo perdeu

O folheto do Pavão

Que jamais lhe pertenceu

Passando João Melquíades

A reputar como seu

No ano de 27

Camelo teve um problema

Com o fisco da Paraíba

Para fugir da algema

Partiu para o Rio Grande

Em agonia extrema

Enquanto estava sumido

No Rio Grande do Norte

Camelo ficou sabendo

Que se agravou sua sorte

Pois João Melquíades Ferreira

No bolso fez grande aporte

Publicou o tal folheto

Que fez bastante sucesso

José Camelo sabendo

Do Rio Grande egresso

Lançou também seu romance

Deixando, entretanto, expresso

Que a obra era dele

E não “de ladrão de feira”

O acróstico assinando

Como marca verdadeira

E que a produção não era

De João Melquíades Ferreira

Enquanto isso, nas feiras

E mercados populares

O romance do Pavão

Ia subindo altares

Adorado pelo povo

Nas igrejas, sítios, bares

O folheto renomado

Virou carta de ABC

Abecedário matuto

Mais que obra de lazer

Onde o matuto encantado

Ria e aprendia a ler

O certo é que o Pavão

Mantém o encantamento

Não importa a autoria

Este ou aquele argumento

E no presente folheto

Novo roteiro sustento

Eu diria: Vou contar

A história de um pato

Que jamais voou da Grécia

Porque enfim eu constato

Que pato não esvoeja

É um patureba chato

Não tem charme nem beleza

O pato do meu romance

Como uma ave babaca

É bicho de pouco alcance

Que anda se rebolando

Defecando e dando lance

O pato tem um detalhe:

Possui a cloaca baixa

Vai raspando pelo chão

E defecando na faixa

Se o pato caga em alguém

Essa pessoa rebaixa

Está abaixo de tudo

Quem foi cagado por pato

Significa que está

Mais baixo do que um rato

É um sujeito sem sorte,

Malsucedido, é um fato

O pato não pode alçar

Um voo mais elevado

É da sua natureza

Ser pequeno e atrasado

Pois esse pato voou

Seu voo desengonçado

Sobrevoou por descuido

Em uma nação vazia

Com um povo sem noção

Do termo democracia

Acreditaram que o pato

Esta nação salvaria

O pato misterioso

Não tinha nenhum mistério

Era uma ave tirana

Cuja ação sem critério

Matou quase um milhão

Em movimento funério

Disse: “é uma gripezinha”

Diante da pandemia

Brasileiro não pegava

Debochou de quem morria

Enquanto isso o vírus

O território varria

Esse pato manco e ruim

Disse: “Eu não sou coveiro”

Sobre os mortos do Covid

Mangando do brasileiro

Negando até a vacina

Em ato vil, traiçoeiro

Matador profissional

Como ele mesmo confessa

O pato tirano e mau

A nação inteira estressa

Libera arma e veneno

Em atitude possessa

O pato, mau militar

Queria de todo jeito

Que as nossas Forças Armadas

Interferissem no pleito

Garantindo a eleição

E que o pato fosse eleito

A história desse pato

Ainda não acabou

Ele pagará por tudo

Que no país provocou

O genocídio dos índios

Que por certo ele bancou

Nosso povo alienado

Por força ou ignorância

Que votou no pato vil

Cheio de ódio e arrogância

Não pode pagar o pato

Em nenhuma circunstância

E o criador do “Pavão”

É mesmo José Camelo

Quem me garante é Silvinha

Poeta de muito zelo

Pela memória da lenda

Que é seu herói e modelo

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 25/02/2023
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