CORDEL – Mote - Não seja tão exigente - A palavra não perdoa

 

Parceria com o poeta Ansilgus

Rimas em ABABCDCD

Oitavas de sete sílabas poéticas

 

Zédio Alvarez, assim propôs:

 

1

A vida de um poeta

É feita de desafio

Uma letra se inquieta

Pelos degelos do frio

No seu barco vai em frente

Rema sentado na proa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

2

Se o barco vai à deriva

Num socorro imediato

Uma nau me localiza

Sigo o destino de fato

Do meu Deus prossigo crente

Tenho fé não sou atoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

3

Eu tenho a alma de menino

Jogo bola e xadrez

Ainda sou meio traquino

Nunca vou perder a vez

Tenho uma vida docente

Sou professor numa boa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

4

Sou um poeta e escritor

Do mundo Recantual

Faço poemas de amor

Falta um experimental

Aqui sempre estou presente

Versejo seca e garoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

5

Uma conexão do amor

Faz tão bem ao coração

Tem um frisson e calor

No laço d’ uma emoção

Sou um letrado carente

Preciso de uma patroa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

6

Eu viajei pro além-mar

Fui atrás de minha Dalva

E pude me apaixonar

Pois mulher de corpo e alma

É linda estrela cadente

Caiu no Tejo em Lisboa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

7

Salve! Luís de Camões

Escritor imensurável

Compôs versos de emoções

Que poeta inigualável!

Tinha um brilho reluzente

Não finjo, sou mais “Pessoa”

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

8

Na vida não passei fome

Apenas dificuldades

Ela não escolhe nome

Sobrenome e nem idade

Nunca fui um delinquente

Sem ter pão comia broa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

9

Um poeta é ser Divino

Ouve sons angelicais

Sua música vira hino

Preserva os mananciais

Bebe licor como gente

Nos quatro cantos ecoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

10

No Recanto tenho amigos

Vivemos em comunhão

No Cordel tem Ansilgus

Conterrâneo cidadão

Um poeta inteligente

Suas rimas ele entoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

Ansilgus assim falou:

 

(01)

Conheço gente na vida

Que se julga por demais

De repente, recaída

E é jogado para trás

Mas isso tanto frequente

Porém não acho uma boa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

(02)

Querer dar pitaco em tudo

É conversa dum otário

Daquele bem cabeludo

Que nem sequer tem primário

Não é boa a sua mente

Quer ser rei sem a coroa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

(03)

Mas então fica naquela

Emburrado e muito triste

Na natureza que bela

Ao fracasso não resiste

Não sou assim, felizmente

Quem brinca sempre caçoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

(04)

A dureza das palavras

Geralmente faz ferida

É assim quando tu cravas

E entras como enxerida

Fala apaixonadamente

Encantando, que ressoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

(05)

Mas na verdade, porém,

Eu gosto quando me gostas,

Sendo a mim e mais ninguém

Nossas coisas estão postas

Por vezes sou saliente

Sei que também não me enjoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

(06)

 

Penso que vou viajar

E conhecer outras terras

Pois preciso me arejar

Descansar lá pelas serras

Minha vontade é crescente

Quero ver uma pessoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

(07)

Mas se ao fim for tudo certo

Quem sabe até me transfiro

Não arranjo aqui por perto

Então faço meu retiro

Ficarei muito contente

Tomar banho de lagoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

(08)

Pior que não sei nadar

Com ela vou aprender

Só não posso me afogar

Valha-me Deus, pode crer

Vou encará-la de frente

O meu calção abotoa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

(09)

Vou comer um bom churrasco

Cuja carne de primeira

Muita cachaça no frasco

Vai ser boa a brincadeira

Porém tudo bem decente

Ver o samba na Gamboa

Não seja tão exigente

A palavra não perdoa

 

(10)

Aqui já vou terminando

Nesse pequeno cordel

Se você está gostando

Isso me deixa no céu

Logo diga de repente

Guarde tudo, pois escoa

Uma vez sendo exigente

Sinto que você perdoa

 

SilvaGusmão

 

Quero agradecer ao meu amigo Poeta Ansilgus, que aceitou o convite, fazendo alguns ajustes nas métricas do meu texto.

Valeu! Um abraço. 

Zédio Alvarez
Enviado por Zédio Alvarez em 19/02/2023
Reeditado em 23/02/2023
Código do texto: T7722740
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.