SERES HUMANOS DAS PEDRAS
Seres Humanos das pedras
De garra de suas tochas
Cantavam tal qual os pássaros
Chamando todos de brochas
Com peles fortes das vidas
Que brotavam todas lidas
Feitas das palhas das pochas.
Vivendo dentro das rochas
Todos degustavam caça
Tudo que davam na testa
Erguiam nas mãos a taça
Por vezes furavam britas
Com carnes fracas e fritas
Trilharam formando raça.
Não temos nenhum que faça
Como primitivo macho
Nas cavernas deste tempo
Na discórdia foram facho
A vida sempre tem custo
Hoje nem sequer um busto
Sobreviverá num cacho.
Esse tempo todo racho
Contando temas da mala
Tranco passado tão próspero
Desmantelado na sala
Eles plantaram a fruta
Na tremenda força bruta
Nesse futuro se rala.
Naquela noite de gala
Para falar eu me calo
Não digo tudo que penso
Fujo num tremendo ralo
E vejo somente rosto
Que se mostrar não ter gosto
Se possuem, nada falo.
Ser pendurado num talo
Locas cobertas de palha
As armas de pedras brancas
Todas passadas na talha
São compradas pelo conde
O dono simples do bonde
Que produz somente calha.
Ancestrais vivem na malha
Te garanto que não falho
Banhos de rios do vento
Tapados só por um galho
Trabalhavam sem ter sonho
Nesse porém eu me ponho
E pra saber mais me malho.
Herdei flechas dum tal talho
Que serviram fazer cama
Pro passado ser da gente
Nas recordações da lama
Renovações deste mundo
Nos fazem ir bem mais fundo
Num piscar daquela dama.
Durmo com raiva na cama
Não posso ter que sonhar
Se sonho guardo comigo
Como quem pode contar
De mim sinto mais temível
Se passo sou mais terrível
O colchão quer me poupar.
Viver sem vício nos dar
O prazer de resolver
Se temos as soluções
Tantos só sabem sofrer
Escondem todas as tréguas
Em passos que não tem réguas
Tudo lhe faz se conter.
Sem poder lhe bater
Que todo corpo suga
Não pensou querer ir fundo
Nem pretendeu fazer fuga
Criaram planos no porto
Pra levar seu próprio morto
Causando profunda ruga.
De longe tem verruga
Mas ele levava finta
Acordavam para viver
Na luta, nunca minta
Mentir é o terrível
Sofrer é invencível
Onde na conta não se pinta.
Usavam vermelha tinta
Com crianças sendo levadas
Pra conhecer os animais
E novas vidas sendo lavadas
O mundo não é dos fracos
Onde vidas são tiradas.
Nas terras politizadas
Nesse calor do bombo
Grupos inteiros dançam
E não percebem o tombo
Das flores das plantações
São colheitas maldições
Apontando sempre o rombo.
Tanta gente nasce calombo
Pra cura dos ancestrais
O povo sendo levado
Em destroços pedestais
Os seres humanos das pedras
Bebem na fonte dos orientais.
FIM
João Pessoa-PB, 02 de maio de 2020.