O FAZEDOR DE BICO
Nas terras que não passei
No lugar que nunca tive
Eu descobri num jornal
Um famoso detetive
Vivendo fazendo bico
Lhe chamavam de furico
Pra contar não me contive.
Furico viveu de bico
E nunca teve carteira
Pois, todos os moradores
Só pensavam dá rasteira
O delegado Florêncio
Grita para Zé Fudêncio
O filho de Vó Parteira.
Florêncio é varapau
Do tamanho desse mundo
Quer saber de seu furico
Se tem um amor profundo
Furico não questiona
E procura ver que zona
Mora qualquer vagabundo.
Delegado Constantino
Apelando pra Furico
Exonera tal Florêncio
Que dava demais butico
Vó Parteira fica puta
E perde toda conduta
E fode com doido chico.
A cidade já perdida
Com estes filhos do cão
Furico foi detetive
Que não teve condição
Trabalhou pra Florêncio
Quem pagou foi Hortêncio
Dúvidas em pretação.
Constantino vigarista
Correu pra delegacia
Fuxicou pra Vó Parteira
Que disse tanta putaria
Zé Fudêncio se lascou
Sem entender, se cagou
Bem detrás da lavanderia.
Furico viveu de bico
Tudo tentou refazer
Numa casa de recurso
Tentou lá se entender
O que leu não viu
Calado foi dando siu
Pra deixar tudo perder.
Zé Fudêncio, muito esperto,
Lá da esquina espreitava,
Furico fazia ronda,
E a ninguém ele poupava.
Do mendigo ao coronel,
Todos achavam cruel,
Mas no fundo respeitava.
Vó Parteira, muito sábia,
De olhar muito teimoso
Cuidado com esse homem
Que ele já nasceu cabuloso
Se ele pega sua pista,
Sua vida é uma lista
De um destino bem duvidoso."
O tal Chico, doido mesmo,
Sempre bêbado na praça,
Diz que viu o Furico
Escondido numa traça.
Era a casa de Ramira,
Uma moça que suspira,
Mas que sempre o embaraça.
Delegado Constantino
Cansado de tanta história,
Resolveu chamar Furico
Pra resolver a vitória:
"Descubra quem tá furtando,
E quem anda abusando
Da nossa pobre memória!"
Furico, que não é tolo,
Saiu logo a investigar.
Foi ao bar do seu Argemiro
E começou a escutar.
Ouviu falarem de João,
Que roubava todo pão
E nem se importava em pagar.
João, o pilantra esperto,
Com o chapéu de palha torto,
Já sabia que o Furico
Chegaria em seu porto.
Fugiu pra serra correndo,
Mas Furico ia vendo
Que João não tinha conforto.
E no meio dessa trama,
O bico vai engrossando,
Vó Parteira lá no canto,
Só com raiva comentando:
"O Zé Fudêncio é danado,
Tem passado duvidado,
Mas de bico tá escapando!"
Florêncio, mesmo afastado,
Ainda manda no pedaço.
Com sua vara em punho,
Quer dar fim a todo traço.
Chama Chico e diz assim:
"Me ajude a dar um fim
Nesse Furico devasso."
Doido Chico balançava
A cabeça, sem entender.
Mas com Florêncio ele ia,
Mesmo sem nada dizer.
O plano era armar cilada,
E pegar a emboscada
Que Furico ia morder.
Mas Furico, desconfiado,
Já sabia da tramóia.
Com o olhar sempre atento,
Pior do que cobra jibóia
Foi ao bordel da cidade,
Onde toda a malandragem
Acabava em pura paranoia.
E na casa de Ramira,
O segredo foi contado:
Era o João o culpado,
Mas o golpe tava armado.
Florêncio, sempre safado,
Queria ver o delegado
Em situação complicada.
Foi então que o Constantino,
Com Furico lado a lado,
Deu fim ao grande esquema,
E deixou Florêncio acuado.
Vó Parteira gritou forte:
"Esse aí, de toda sorte,
Só pode ter azarado!"
Zé Fudêncio, sorrateiro,
Já fugia do lugar.
Mas Furico, ligeiro,
Conseguiu o pegar.
"Tá pensando que me escapa?
Você vai pagar com tapa,
Ou prefere confessar?"
E assim a trama finda,
Com o bico resolvido.
Florêncio foi exilado,
E Zé, arrependido.
Furico ganhou respeito,
Vó Parteira, de seu jeito,
Ainda fala desse enredo.
Florêncio, que é teimoso,
Não aceita a humilhação.
Diz que vai voltar com força,
Com chicote na mão.
Mas Furico, sem piedade,
Mostra a ele a verdade,
E acaba com a questão.
Vó Parteira, revoltada,
Vai correndo pro terreiro.
Quer queimar o delegado
Com ajuda do herdeiro.
Zé Fudêncio, sem coragem,
Foge feito um selvagem,
Sem ouvir o seu conselho.
Furico, esperto e sagaz,
Vai no rastro da partida.
Sabe que Vó Parteira
Tem história escondida.
Diz que a chave do mistério
Está no tal cemitério
Onde enterraram a lida.
No cemitério ele chega,
E de pronto ouve um grito.
É o fantasma de um velho
Que chamava-se Benedito.
Dizia em lamento e dor:
"Minha morte foi terror,
Por conta de um tal maldito."
O velho fantasma aponta
Pro túmulo de João.
Disse: "Esse miserável
Roubou meu coração!
Deixou-me sem ar na vida,
Por uma grande ferida,
Que causou essa traição."
Furico, sem acreditar,
Ouve o lamento profundo.
Entende que toda trama
Vai além do submundo.
Decide investigar mais,
E seus passos vão atrás
Do mistério vagabundo.
Florêncio, sempre ao lado,
Tenta esconder o tal fato.
Furico, desconfiado,
Vai ligando ponto exato.
"João não era sozinho,
Foi ajudado por um vizinho,
E isso agora eu desato."
E assim vai a trama andando,
Com segredos a surgir.
Zé Fudêncio, já nervoso,
Começa a se evadir.
Vai pra casa de Ramira,
Com a alma já na mira,
Sem saber onde fugir.
Vó Parteira, furiosa,
Chama a polícia local.
Quer ver todos presos logo,
Por conspiração mortal.
E Florêncio, lá da cela,
Grita: "Isso é uma novela,
Cheia de trama banal!"
Doido Chico, coitado,
Foi parar no hospício.
Depois de tanta confusão,
Virou caso de início.
Dizem que vê fantasmas,
E que em suas calmas
Vaga pelo precipício.
Constantino, o delegado,
Já encerra sua missão.
Diz que Furico fez tudo,
Merece condecoração.
Florêncio, desacreditado,
Já está exonerado,
Perdeu toda a ilusão.
E Furico, em seu canto,
Segue fazendo o que faz.
Vive de bico e mistério,
Mas com alma de rapaz.
Vó Parteira, do terreiro,
Diz que ele é o primeiro
A resolver e ter paz.
E o povo, pela cidade,
Ainda conta essa história.
De um detetive esperto,
Que ganhou tanta vitória.
Florêncio sumiu no mapa,
Zé Fudêncio não escapa,
E Furico guarda a memória.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de agosto de 2020.