A INEXISTÊNCIA DE JOVENTINO DE JESUS OU NATAL DO CAPETA
Bora gente refletir
Escritos desta Nação
Nobre folheto de feira
Tem Cordel em edição
O tema logo discute
Já falado repercute
Resgates da tradição.
Cantares da narração
Comentam lá em Sobral
De Joventino Jesus
Este medíocre Natal
Figurino de cor cinza
Naquela cara ranzinza
Estampada num jornal.
Joventino foi postal
Nas bodegas do lugar
Todo bebum faz questão
De tantos fatos narrar:
Dizem que nasceu plebeu
De cirrose faleceu!
E só mágoa vai restar?
Podemos contaminar
Este Cordel Brasileiro
Beberrões tem cada tema
Que satisfaz forasteiro:
Como pode ver bondade
Nessas canções de maldade?
Fala Mané Fogueteiro.
O famoso trapaceiro
Pra tantos, desconhecido
Cretino, mal encarado
De paletó encardido
Cor preta, seu suspensório
Nem pensou fazer casório
Se dizendo ressentido.
Tutu sempre garantido
É de grana que vos falo
Natal é nome de guerra
Dentro de briga de galo
Das rinhas participou
Uma sequer não ganhou
Dinheiro solto no ralo.
Se tem festa, tem embalo
É frase bem traduzida
Mas merece ser destaque
Desta façanha perdida
O cujo se fez católico
Este chato melancólico
Que nunca teve guarida.
Se juntou com Margarida
Numa pensão de madrinha
Nada de papel passado
Nem um sonho de ladainha
A moça ficou tristonha
Recebeu dona cegonha
Da mamãe de camarinha.
O Natal foi tão pestinha
Em matéria de paixão
Que depois desta desfeita
Ficou pior que lixão
Indo morar bem sozinho
Sem nunca ter um carinho
Nem tampouco compaixão.
Gastança sem ter caixão
Com o tempo se renova
O Natal foi diferente
Daquela face tão nova
Com quarenta primaveras
Fez desse mundo crateras
Esbarradas numa cova.
Tudo tem a sua prova
Daquele povo bacana
Joventino de batismo
Natal de papel sacana
Nunca quis viver do nome
Quis fazer greve de fome
E vai comer só banana.
Na certa perdeu pestana
O fraco do Ceará
Vindo das oralidades
Meu Cordel até dirá
Que sementes vão dar frutos
Ignorantes, também brutos
Espinhos não dão cajá.
Sentado no meu sofá
Escrevendo vil memória
Contador de certo causo
Que tão pouco nos dá glória
Homens como Joventino
Fazem mal tanto destino
De raríssima vitória.
Flertando frágil história
Raríssimas, memoráveis
Natal é sujeito raro
Destes entes condenáveis
De Joventino sabemos
Somos tudo que nascemos
Por vezes uns intratáveis.
Escrituras intocáveis
Perambulam impropérios
Joventino não tem lápide
Nem fincou nos cemitérios
Foi simbora com quarenta
Hoje completa sessenta
Um século de mistérios.
Defensor dos adultérios
Natal nunca foi feliz
Não casou, mas teve filhos
Batizados na matriz
Do Frei Borbosa Bonfim
Testemunhas do pantim
Dos pegas no chafariz.
Cafetona meretriz
Teve três desse sujeito
Moram todos no convento
São crianças de respeito
Sobral tem os seus herdeiros
Nenhum deles, desordeiros
Do pai que não teve jeito.
Digo batendo no peito
Que gente mais desprezível
Este peste de Natal
Para mim um invisível
No contexto cidadão
Nem merece ter perdão
Na farsa é infalível.
Ser péssimo foi visível
Para todos da cidade
Sobral nem soube dizer
Qual dessa localidade
Escrevi vasto rascunho
Feito do meu próprio punho
Quero saber da verdade.
O Natal da crueldade
Desta forma também digo
Enfrentando baitas brigas
Deixou tantos em perigo
Das maldades fez leitor
Das notícias sem valor
Precisou de mais castigo.
Joventino não te ligo
Dar vontade de dizer
Nunca conheci, nem quero
Tanto mais coisas fazer
Jesus do nome perplexo
Desse ter de ser complexo
Na vida não vai viver.
Nem deu, nem teve prazer
Tocaram os cantadores
Plantados no mei de feira
Dedilhando dissabores
Sobral jamais conheceu
Um deste não mereceu
Que na vida fez horrores.
Quando passam os pastores
Fofocam do ser canalha
No templo de Jeová
De posse duma navalha
Chamou crente de miséria
Teve pragas com bactéria
Urubus, canto de gralha.
Se cérebro nunca falha
Foi correndo para praça
Esbravejando pessoas
Com pilhérias sem ter graça
Levou tanta cacetada
Do devoto Zé cambada
Tesoureiro de trapaça.
Os momentos de desgraça
Naquele chão que respiro
Palavra dita nos mata
Um temível sem retiro
Que só faz o que não presta
Tristeza, tudo que resta
São coisas que não prefiro.
Depois de qualquer suspiro
O santo não quer servir
De Joventino Jesus
Vejam o que vai surgir
Lá vem Natal do Capeta
De garra duma chupeta
Depressa chegou partir.
Eu quis somente sumir
Dos cantadores de feira
Pão doce, caldo de cana
Cantaram sem brincadeira
Natal entrou nessa mente
Como cabelo no pente
Botei tudo na ponteira.
Lá vem a minha saideira
Toda viola quer trégua
O público na medida
Passa tema numa régua
Quem é este personagem
Que nunca teve coragem
Respeitem a longa légua.
Pessoas vindas em égua
Saíram de tão distante
Esta feira popular
De longe vem viajante
Que luta com toda sorte
Com beju fica mais forte
Na fala do caminhante.
Este Ser é mais errante
Do que Judas no calvário
O traidor de Jesus Cristo
E quem fosse salafrário
Natal é bem mais que peste
Que tem quem nunca deteste
Nem mesmo tendo salário.
Também é mais um otário
Por todos é odiado
Morrendo sem ter enterro
Este satã desgraçado
Com cinza deste seu terno
Que viveu total inferno
Num riso contaminado.
Sujeito malamanhado
Joventino foi capaz
De nunca ter tido êxito
Nada certo pro rapaz
Não teve ninguém por perto
É da maldição por certo
Em tudo mais incapaz.
Mesclado de capataz
Chega Natal sem firmeza
Joventino do Diabo
Deprime toda beleza
O canto foi terminando
A feira se lamentando
Sem ter grana pra nobreza.
Recanto tem mais clareza
Pra seguir a sua rota
Cantadores mostram fatos
Nós pagamos toda nota
Na banca dos Cordelistas
Violeiros Repentistas
Todos tem a sua cota.
Toda família dos Mota
Nunca tolerou tirano
Escreve sobre folclore
Também do povo cigano
De Natal sozinho faço
Para trafegar meu braço
Do nebuloso fulano.
Oh! Meu prezado ciclano
Natal já virou farelo
Nunca teve sepultura
Como também seu chinelo
Violeiro é modesto
Deste ser não teve resto
E nem sei se mais tolero.
Neste meu Cordel venero
As inspirações que conto
Se Natal não faz sentido
Meu pensar fica bem tonto
Joventino de Jesus
Deste tal nada propus
Eu tento sem está pronto.
A barraca sempre monto
É questão de poesia
Pra vender literatura
No semblante nostalgia
O Cordel sempre defendo
O folheto que mais vendo
Mas, Natal não venderia.
Sobral nunca contaria
Se tudo deu num bordel
De gente sem ter valor
Lá na frente do quartel
Personagens são fictícias
Tantas delas com malícias
Que não dá pra ser plantel.
Brasileiro meu Cordel
Está sorrindo bonito
Nesta finalização
Testou frases que repito
Organizamos sistema
Juntos causamos dilema
Rimando feito bendito.