HOMENAGEM IN MEMORIAM AO MEU PAI E SEU PARCEIRO DE CANTORIAS. 

Hoje eles estão no céu
Num canto celestial


Na era de cinquenta e cinco
Lá pras bandas do sertão
Dois cantadores com afinco
As violas, um bordão.
Com seu público fiel
Era quase um festival
Sob as estrelas do céu
Nas latadas dum quintal.

Uma dupla conhecida
Zé Soares, João Severo
Aparência produzida
Se vestiam com esmero.
João Severo de chapéu
O Zé com os seus topetes
Brilhantina pra dedéu
Encantava as piriguetes.

Montavam os seus alazões
Com as violas nas costas
Nas estradas dos sertões
Cumpriam suas propostas.
As vezes em paus-de-arara
Rumo ao destino final
Das terras das espinharas
Do sertão à capital

Nas feiras se apresentavam
Nas rádios e nos salões
O povo se aglomeravam
Para ouvir os seus refrões.
Cantavam os trovadores
Gemiam seus violões
Bradavam espectadores
Em inflamadas ovações.

Lembro dos dois cantadores
Cantando naquelas plagas
Conquistavam vãos amores
Versejando suas sagas.
Moiçolas em fogaréu
Nisso seu Zé se deu mal
Da morena tirou o véu
Do pai, ameaça mortal.

Sou filha de Zé Soares
O caboclo cantador
Respirei aqueles ares
Lá brotei qual uma flor.
Aprendi fazer cordel
No repente eu derrapei
O cordel é meu pitéu
Por ele me apaixonei.

Pra tudo tem um final
Até para os seresteiros
Do céu o triste sinal
Se foram os companheiros.
Mas ninguém os esqueceu.
Numa viagem espacial
"Hoje eles estão no céu
Num canto celestial"


 
Erivaslucena
Enviado por Erivaslucena em 27/01/2023
Reeditado em 17/04/2024
Código do texto: T7704933
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