O velho louco da rua
Na minha rua tem um louco
Que de louco não tem nada
Ele era um professor
Nessa longa caminhada
De uma vida toda ela
Completamente dedicada
Ao estudo do espírito
Que fomenta a inteligência
Um sábio em seus princípios
Nos domínios da ciência
Tratando de todo assunto
Tinha muita competência
Muitas vezes o procurei
Para aconselhamento
Para saber quem era grande
Em força e conhecimento
Quem era e quem não era
Poeta nesse momento
Ele disse que o poeta
Não é alguém que aprende
A fazer com a poesia
Tudo aquilo que entende
Mas sim o que acredita
Nela e tudo compreende
Poeta já nasce feito
Só desenvolve o talento
Não é como folha seca
Que é levada pelo vento
Sem força e sem destino
E sem nenhum conhecimento
Dizia ele que há muitos
Que de forma indiscreta
Se julgam conhecedores
Dessa arte tão dileta
E se autodeclaram por aí
Como verdadeiros poetas
Mas de fato não o são
Pois para isso ainda faltam
Os saberes necessários
Que nos livros se falam
Para praticar a arte
De que tanto se declaram
Não sabem que não sabem
Esses tais homens sabidos
Só dizem o que lhes permitem
Os saberes adquiridos
Pelo estudo da arte
Mas da arte não são escolhidos
Enfim, o velho dizia
Que “o poeta é um fingidor”
Mas antes de qualquer coisa
É dotado do amor
Que une o princípio e o fim
O simples ao esplendor
Certo dia o procurei
Para um conselho pedir
Fui informado que o louco
Teve cedo que partir
Pois fora chamado às pressas
E não se pôde despedir
A viagem que fizera
O velho sábio da rua
Que todos chamavam louco
Pela sabedoria sua
Foi para o outro mundo
O mundo louco da lua
Aqui termino o relato
Do meu velho conselheiro
Que morava na minha rua
E todos diziam certeiro
Esse velho só é louco
Praquele que não é ligeiro
Morreu o velho, no entanto
O exemplo dele ficou
Sobre poeta e poesia
Ele sempre certo falou
Poeta não é quem faz
Poesia com o que sobrou.