“O dia em que Lampião caiu, Na arapuca de Angicos”
O ano era 1938
O Sertão estava afoito
Cabras armados até os dentes
Entre os combatentes
Usando a patente de tenente
Estava João Bezerra
E o aspirante Francisco Ferreira
Esse foi um dia trágico
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 1 )
Durante a década de 30
Não há ser que minta
Que o Sertão estava tomado
Cheio de Cabra armado
Ora eles Cangaceiros
Ora Macacos desordeiros
E numa dessas Lampião caiu
No seu próprio corpo mágico
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 2 )
Quem tinha império ruiu
Pois tudo sucumbiu
Pra quem era Rei do Cangaço
Nesse cordel que faço
Falo sem desembaraço
A autarquia dada pelo povo
No maior dos micos
Vale a pena vê de novo
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 3 )
Angicos parecia uma arapuca
Cheia de armadilhas
Buraco na mesa de sinuca
Era entrar naquelas trilhas
Mais alertaram o Cangaceiro
Que pagando de guerreiro
No Sertão se sucumbiu
Perante seus truques mágicos
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 4 )
Mandonismo Mágico
Pode até ser prático
Se encher no meio Sertão
Mais com Deus funciona não
Pois o exemplo de Lampião
Mostra a confusão
De má Fé com Falsa Religião
Só arrumou inimigo
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 5 )
Lampião invadiu a Bahia
E também o Ceará
Conheceu a bonita Maria
E com o tal de Padre Cícero
Resolveu se ajuntar
Que dizia servir ao clero
Esse não conseguiu safar
Do Mandonismo Mágico
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 6 )
Lampião invadiu Sergipe
Morou nas Alagoas
Reuniu seu bando em equipe
Num combate em Pernambuco
Atravessou o São Francisco de canoa
Quando seu Cangaço ruiu
Nas bandas do Velho Chico
Tudo sucumbiu
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 7 )
Provou da chuva que respinga
Sobre o mato da caatinga
Na imensidão que encerra
Por lá fez sua guerra
No enfrentamento militar
Esse era o lugar
De uma árvore de angico
Até passarinho viu
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 8 )
O capitão era sujeito danado
Tinha o corpo fechado
Seu Cangaço era armado
Foi vaqueiro afamado
Que um dia pegou gado
Nas quebradas do Sertão
Vestiu-se como os ricos
Mas tudo não passou duma ilusão
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 9 )
Reuniu Lampião
Os cabras mais valentes do Sertão
Sabonete, Jararaca, Corisco,
Zé Baiano, Volta Seca, Atividade
Ofereciam tanto risco
Semeando a maldade
Rima e métrica eu aplico
Sobre alguém que viu
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 10 )
Ratoeira ou arapuca
Era a Grota de Angicos
De levar tiro na nuca
Pagando o maior dos micos
Nessa guerra do Sertão
Foi o fim de Lampião
Seu império ruiu
Pois aqui eu explico
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 11 )
Quem glamouriza o Cangaço
Do apogeu ao fracasso
Desses cabras rudes
Em pele de Hobin Hood
Do São Francisco as Jusantes
Só Jesuino Brilhante
Quem Lampião não viu
Foi nas bandas do Velho Chico
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 12 )
Morreram no combate Lampião,
Maria Bonita, Cajarana, Diferente,
E o Cangaceiro Mergulhão
Estava com os combatentes
Elétrico, Quinta- Feira, Luiz Pedro
Entre os 13 contados nos dedos
Que no Cangaço sucumbiu
Nesse mote eu explico
O DIA EM QUE LAMPIÃO CAIU,
NA ARAPUCA DE ANGICOS
( 13 )
Mote & Glosa: Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.