EXTREMISMO

Tinha dúvida do que era então

E me questionava sobre isso

Erros frequentemente cometidos

Contratos sociais jogados no lixo

Humanos tratados como bicho

Direitos humanos não garantidos?

Algo poderia dar algum sentido

A tanta falta de verdade e amor

A ausência de visão e sabedoria

O que fez gerar tamanho tumor

E aumentou entre nós o dissabor

Minando nossa tradicional alegria?

Seria a doença apenas uma alergia

Uma reação natural à corrupção

À desigualdade, à cruel violência

Ou consequência da má educação

Que contagia toda uma nação

Levando os órgãos à quase falência?

Então foi constatado a grave doença

Mas quando adoece um paciente

Faz exame e procura-se tratamento

Administra-se os remédios ao doente

Seja anomalia do corpo ou da mente

Trata-se do problema no devido tempo.

Porém aqui houve um contratempo

Como o enfermo que se rebela irado

Não toma a dose conforme a receita

Ou troca medicamento por um trago

Causando no corpo terrível estrago

Quando as boas orientações ele rejeita.

Aqui temos um povo que não aceita

O caminho da verdade e da ciência

Mas prefere voltar às cebolas do Egito

Rifando sua liberdade com displicência

Abrindo mão do futuro e de sua decência

Negando o profeta e cultuando um mito.

Então eu ouço na cabeça um apito

E as coisas na nossa mente se clareiam

Aqueles que escondiam o seu estrume

Agora livres defecam e dele saboreiam

Sem nojo dos alimentos podres, ceiam

Espalhando pela rede, litros de chorume.

Dizem defender antigos costumes

Orgulham-se de seu reacionarismo

Vestem-se sempre das mesmas cores

Não escondem seu segregacionismo

Nem disfarçam o feio negacionismo

E cantam hinos como fiéis torcedores.

De armas e uniformes são colecionadores

Esses novos políticos analfabetos

Que desfilam cinismo e racismo

Nem pensam em marchar com passo certo

Curvam-se aos muros e aos objetos

E confundem militarismo com misticismo.

Nacionalismo, neonazismo, chauvinismo

Qual substantivo melhor define essa patuleia

Falsos moralistas ou pseudos religiosos

Como adjetivar essa barulhenta colmeia

Que não produz mel, muito menos a panaceia

Mas ácido e pó tóxicos muito perigosos.

De confusão e desordem o grupo é sequioso

Espalham mentiras, ódio e terror pela rede

Arregimentam ignorantes e preconceituosos

E qualquer um insatisfeito entre paredes

Que ouve a voz: “Vinde a mim e vede

Vós desajustados, alienados e maliciosos”.

Mas todos os argumentos falaciosos

Não seduzem os que ainda podem pensar

Sempre haverá quem defenda os direitos

Quem se esmera para o planeta preservar

Quem segue com as minorias a lutar

Quem sabe que a democracia tem jeito.

Significa saber que o mundo tem defeito

E que é preciso corrigir e não jogar fora

Evoluir como ser humano e pessoa social

Viver da melhor forma aqui e agora

Rir com quem ri, chorar com quem chora

E fazer de tudo para eliminar todo mal.

O mal da opressão, da tirania e coisa e tal

Deter o golpismo, punir o terrorismo

Prender quem atenta contra a liberdade

Repudiar autoritarismo e machismo

Rejeitar veemente fascismo e nazismo

E não aceitar ataques contra a dignidade.

Aberio Christe