António Conselheiro
Pelas bandas do Sertão do Ceará
No município de Quixeramobim
Nasce António Conselheiro
Lembrado no Brasil inteiro
Pior que notícia ruim
Antes de apresentar
A história e o lugar
( 1 )
Por nome de Canudos
Faço versos miúdos
Daquele acontecimento
Do momento turbulento
Que vivia o Brasil
Cheio de revoltosos
Que ate religiosos
( 2 )
Resolveram se rebelar
Com guerra declarar
Pois tudo mundo viu
Um cabra esquentar o pavio
Do governo Prudente de Morais
Me fez voltar aos anais
Fazendo cordel em Minas Gerais
( 3 )
Do Sertão aos Carrascais
Ninguém esquece jamais
Vira Folclore Nordestino
Tipo Lampião e Antônio Silvino
A história e o lugar
Que eu vou apresentar
É a Guerra de Canudos
( 4 )
Do folclore tem de tudo
Seu maior personagem
Diga se passagem
António Vicente Mendes Maciel
Vulgo António Conselheiro
É conhecido no Brasil inteiro
Por fazer um menestrel
( 5 )
Replicar o seu cordel
Atiçando desejo
De fazer revolução
Esse beato sertanejo
Fez lembrar o Cangaço de Lampião
Desafiando o governo no Sul do país
A quem diga na terra do chafariz
( 6 )
Ser elemento da cultura raiz
Só por que o cabra
Saiu do Sertão do Ceará
Numa seca braba
Rumo ao Norte da Bahia
Dando nas bandas de lá
De Euclides da Cunha
( 7 )
Era notícia que corria
Por Ribeira do Pombal, Jeremoabo
A notícia dum alcunha
Recrutando a população
E fundando um povoado
E assim se sucedeu
Pelas bandas do Sertão
( 8 )
Um combate aconteceu
Por vício de religião
No Sertão inteiro
António Conselheiro
Um beato de voz ativa
Tomado pela Confissão Positiva
Com requintes de crueldade
( 9 )
Obrigando aquela localidade
Se arrependerem dos seus pecados
Diante dos homens e de Deus
E digo nos versos meus
O tamanho dos fardos
Que o povo carregou
Tanta surra que levou
( 10 )
Por ser um fanático
Que fez tudo no automático
Criando um combate profundo
Incitando os pecados do mundo
Revoltado contra a seca
E com o Governo Brasileiro
Naquelas entre secas
( 11 )
Mostrava ao mundo inteiro
Estar agradando Deus
Pois digo nos versos meus
O reino de Deus é um tesouro
Não um sacrifício de tolo
Tanto que o governo aristocrata
De Prudente de Morais
( 12 )
E suas lições morais
Não deram ouvidos a sua voz beata
Com precata, batina e chibata
Cansado de vê o povo alienado
E o seu governo ameaçado
Suas tropas regressam ao Nordeste
Provocando um combate fatal
( 13 )
Parecendo faroeste
De Canudos, o arraial
Naquela penitência
Não se tinha clemência
O beato contaminou o povo
E todos que estavam em torno
Das quebradas do Sertão
( 14 )
A lutar sem armamento
Sem qualquer mantimento
Que lhes desce proteção
O povo foi obedecendo
O combate acontecendo
E todo mundo vendo
Um monte de gente morrendo
( 15 )
Sendo registrado nos anais
Virando notícia nos jornais
Do Estado Brasileiro
A história de António Conselheiro
E sua queda nos carrascais
Ficando o conselho
Quando a loucura é demais
( 16 )
Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.