Januária

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Na beira do Velho Chico

Em meio à imensidão

Como fio de navalha

A natureza se espalha

No Rio da Integração

Quem conhece volta em mim

Em terra de Surubim

( 1 )

Também tem irrigação

De frutas da estação

Mas não faço questão

De focar nisso não

Só quero apresentar essa cidade

Este lugar

Na sua originalidade

O seu modo de encantar

As quebradas do Sertão

Com forró, xote e baião

( 2 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Onde o poeta faz em escrito

Manuseando sua mão

Folheto da cidade portuária

Que aqui faço menção

A cidade é centenária

Fazendo integração

Ao conjunto de cidades

( 3 )

Que formam o Sertão

Misturando aos Oasis

Em meio à vegetação

Difícil é viver na sombra

Da Caatinga, seu bioma

Faz tudo ficar reluzente

Na vegetação que sente

As marcas do sol quente

Tomada pela insolação forte

Na testa do cabra do norte

( 4 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Se tratando de risco

Lá tinha muito sujeito mandão

Desfilando de navalha

Levando o Sertão ao abismo

Na época do mandonismo

Que de carismático não tinha nada

Pois no modo de proceder

( 5 )

O cabra vivia a se meter

E se danar com coisa errada

Pois essa de ser mandão

Nas quebradas do Sertão

Era a maior furada

Maior exemplo foi Lampião

Que teve a cabeça cortada

Chefiando uma cambada

Conquistando sua amada

E sua vida desgraçada

( 6 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Onde cardume arisco

Muda de direção

Em posição contraria

Das águas do Velho Chico

Que é sua habitação

No seu processo de crescimento

De acordo com o tempo

( 7 )

Temos peixe de montão

Na cidade dos cais

Do Sertão dos carrascais

Muito peixe é pescado

Tem surubim que é fisgado

Comprovando o fato

Da moqueca no prato

Ou na fotografia

Do sucesso da pescaria

Do sertanejo nato

( 8 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Onde passa o Velho Chico

Onde tinha embarcação

De vapor como uma fornalha

Sumindo na imensidão

De nome Benjamim Guimarães

Carregando as migrações

Que deixaram os sertões

( 9 )

Com sentido para o Sul

Fugindo das secas tangentes

Ou de sujeitos mandões

Era como urubu

Todo cabra indecente

Só temendo a mão de Deus

Pra tornar cabra descente

Alimentava os anseios seus

Oprimindo muita gente

Pobre e inocente

( 10 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Onde aqui crítico

Tamanha degradação

É fio cortado a navalha

Que causa destruição

Matando os peixes,

E toda vegetação

Difícil é vê um cabra que se queixe

( 11 )

Nas Caatingas do Sertão

Que seja diferente

E bata de frente

Com o Estado fraco de ação

Só haverá melhoria

Quando esse governo

Sair do desgoverno

Anulando essa aristocracia

E adotar com maestria

Os princípios da democracia

( 12 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Onde repito

É cidade dessa região

Vivendo situação contraria

Dos efeitos da degradação

Aonde peço respeito

Atendendo o conceito

Da liberdade de expressão

( 13 )

Mais respeito com a nossa região

Mais respeito com o povo do Sertão

Respeitem os nossos carrascais

Respeitem as comunidades tradicionais

Do Vale do São Francisco

Respeitem os Varzanteiros,

Gerazeiros e Caatingueiros

Que no cordel que aplico

São os pioneiros

Pois moram aqui primeiro

( 14 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Ressabiado eu fico

Com tanta poluição

Que a fumaça espalha

Por causa da queimada

E do desmatamento

Vendo a cidade mergulhada

No assoreamento

( 15 )

Assolando todo Vale do São Francisco

Quem oculta isso

Vive no fuxico

Não tem compromisso

Prefere burla o fisco

E viver longe de Deus

Nesses versos que são meus

A poluição é um ato imundo

É o abismo profundo

Matando todo mundo

( 16 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Onde o soar do apito

De uma grande embarcação

Da população usuária

Anunciando a dispersão

Não há reação contraria

Que disperse a migração

Fugindo da sequidão

( 17 )

Que assolava o Sertão

Triste foi à partida

De uma vida sofrida

Que deixou o seu torrão

Jamais fugiu da lida

Desafiando a solidão

Um Estado fraco de ação

Que não dando retorno e nem ida

Á quem peleja na vida

E tem a vida perseguida

( 18 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Tento e insisto

Peço a Deus inspiração

Numa rima que não falha

Pra continuar o manuscrito

Com poesia da região

Sou um poeta que cito

Versos em cordel escrito

( 19 )

Entoando o Sertão

No seio de suas cidades

Tem dias de apartação

Tratando-se de diversidade

Nordeste é a região

Da cidade que fascina

Com o vaqueiro do aboio

Que da rima faz comboio

É a mistura mais fina

Da Cultura Nordestina

( 20 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Um fato que se espalha

Em cordel escrito

Qual seja a situação

Vira confusão

De acordo com Diogo de Vasconcelos

Januário Cardoso de Almeida

Era um mandão do Sertão

( 21 )

E motivador dos flagelos

Dizimando as vidas

No Sertão do São Francisco

Palco do conflito

Do enredo vivo

E morte do índio nativo

Que no Sertão foi dizimado

Pelo ato encomendado

Por Januário Cardoso Almeida

A aldeia foi toda destruída

( 22 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Onde todo esse conflito

Gerou revolução

Como fio de navalha

Tornando-se uma chacina

Gerando carnificina

Destruindo o povoado

Fez um estrago danado

( 23 )

Causa até arrepio

A este município

Até então emancipado

De arraial e povoado

Que no apogeu ao abismo

Foi palco do mandonismo

Nas quebradas do Sertão

De cabra metido a mandão

Bancando de desordeiro

No Nordeste Brasileiro

( 24 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Pelas bandas do Velho Chico

No rio da imensidão

Do conflito que se espalha

No centro da confusão

Pobre sofre a migalha

Sem direito na mão

É verso que não falha

( 25 )

Conta histórias do Sertão

E de todo zum zum

Em pleno século XXI

Ao restante da nação

Poucos sabem

Das histórias que invadem

O seio de nossa região

Muitos menos o longa metragem

Do Cangaceiro Lampião

Aclamado governador do Sertão

( 26 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Deixo por escrito

Nos dedos da mão

Da história que se espalha

Cortando até o vento

Atiça o pensamento

Não se perde no passado

Tudo é passado à frente

( 27 )

Pelo cabra insistente

Que no Sertão foi criado

Descreve o passado-presente

Totalmente consciente

Do município citado

Minas é o estado

Fazendo o verso seguir á frente

Faz da vida um repente

De um causo contado

No Sertão enluarado

( 28 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

Conduzi o manuscrito

Busquei informação

Sobre as histórias,

As pelejas e glórias

Cativando as memórias

Da cultura em ação

Relatando em estórias

( 29 )

As histórias do Sertão

Resistindo ao tempo

Lutando contra o vento

Que destrói a geração

Pois a cultura

É a essência pura

Dos valores preservados

Qualquer coisa impura

Destrói o simples legado

Da cultura no passado

( 30 )

Pelo Vale do São Francisco

Nas quebradas do Sertão

Tem a cidade de Januária

As margens do Velho Chico

Á quem dei titulação

Da poesia que se espalha

Feita por um menestrel

Que na rima trabalha

Seus versos de cordel

Contando pelejas e batalhas

( 31 )

Pelas bandas do Sertão

Denunciando a cólera que mata

Chamada poluição

No espaço se retrata

Em meio à degradação

O regime é democrata

O Estado não tem ação

Perante a quem desmata

E na covardia maltrata

O Rio da integração

( 32 )

Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.

Moisés Aboiador
Enviado por Moisés Aboiador em 08/01/2023
Reeditado em 08/01/2023
Código do texto: T7689754
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