“O cordel é uma poesia matuta, Que nasce do Nordestino do Sertão”
Sertão é onde o cabra luta
Não desiste e reluta
Nasce no meio da labuta
Vivendo entre sequidão
Um jeito de espantar a solidão
São os dias de apartação
Freqüentes no Sertão
Por esses dias de luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 1 )
No sertanejo eu boto fé
Que me diga Patativa do Assaré
Um legitimo pioneiro
Da poesia do Sertão
Esse foi um dos primeiros
Deixando grande lição
Quando chega a estação
Faz poesia rimar com fruta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 2 )
Nos diferentes rincões desse país
Onde a poesia se torna geratriz
Brotando água no chafariz
Sinônimos de uma cultura raiz
Aonde o bebedouro secou
O cordel se enraizou
No vaqueiro que veste gibão
E por não desistir da luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 3 )
Falar do Nordeste é coisa que sempre quis
Seja padre, cangaceiro ou juiz
Do homem impiedoso bancado de infeliz
Deixando suas marcas, causando cicatriz
No seio rude Sertão
Onde alegria vira solidão
Do matuto que faz revolução
Por essa realidade bruta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 4 )
Faz lembrar meu pé serra
Do fruto arrancado na terra
Conforme sua estação
Dos tempos que meu pai tocava
Forró, xote e baião
Da criançada que brincava
Espantando a solidão
São lembranças que ficou do Sertão
Na minha mente que reluta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 5 )
Difícil esquecer aquele luzeiro
Do forró no candeeiro
Não tinha como ficar só
Com gente arrochando o nó
Hoje o tempo passa num rastro só
E a saudade amarga que nem jiló
Nas coisas que alegra o coração
De um povo que não foge da labuta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 6 )
O cordel é como um retrato
Das pegas de boi no mato
Descrevendo o vaqueiro do Sertão
Homem valente que veste gibão
Por ser um cabra do norte
Faz da vaquejada seu esporte
Essa é a grande competição
Dos homens que vão à luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 7 )
Nesse universo artista
Competidor também é repentista
Cantando nos festivais
Do Sertão aos carrascais
Versos que não se esquece jamais
Sobre o Sertão de Minas Gerais
Do justiceiro que fez revolução
Pela miséria que foi bruta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 8 )
Eu falo de António Dó
Onde a fome era um rastro só
Na vida desse Cangaceiro
Que bancou de Bandoleiro
Dominando os ‘Gerais’
Do Sertão aos carrascais
De Minas á Bahia era só confusão
E no meio dessa luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 9 )
Luta que tomou o Sertão
De Virgulino Lampião
Ás façanhas dos brilhantes
Em pele de Jesuíno Brilhante
Jesuíno Alves de Melo Caiado
Que no Sertão foi lembrado
Defendendo o povo da opressão
De uma oligarquia astuta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 10 )
No meio dessa cabroeira
Temos Sinhô Pereira
Líder do Cangaço no Sertão
Foi quem chefiou Lampião
Desistindo dessa vida cão
E pra não voltar nunca mais
Tomou uma decisão
Fugindo dessa vida maluca
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 11 )
Foi parar nos Sertões dos Gerais
Dizem que morou em Goiás
O sonho desses Cangaceiros
Era deixar esse mundo desordeiro
Se tornando um fazendeiro
Bem longe do Sertão
Que me diga o cabra de Lampião
Nessa falsa luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 12 )
No Sertão se tem de tudo
Temos versos miúdos
Sobre a guerra de Canudos
Dum cabra mais louco que Lampião
Botando terror no Sertão
Armando uma população
Desafiando o governo da nação
Com suas idéias malucas
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 13 )
Por aqui teve Cangaceiro
Que também foi Coronel
Vivendo do inferno ao céu
Coisas que o Brasil inteiro
Jamais teve conhecimento
Pois digo o nome do elemento
Sem fazer qualquer distinção
A um tal de Rotílio Manduca
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 14 )
Tem sujeito linguarudo
Que banca de fofoqueiro
De tanto falar de gente
Acaba virando verso
No jogo do meu repente
Pois a língua é órgão perverso
Que atiça a maldição
Quando mentira tem perna curta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 15 )
Quando a criança é arteira
Também é mexeriqueira
Aprontando no Sertão
Nem sempre tem noção
Da gravidade do mundo
Vive atentando todo mundo
A ponto de levar um pisão
Um tapa no pé da nuca
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 16 )
Quando não é mexeriqueiro
Só vive nos tabuleiros
Esperando a oportunidade
De chegar à flor da idade
De um dia ser vaqueiro
Seguindo uma tradição
De geração a geração
Dos homens que resistem na luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 17 )
O Sertão é um território
Que dispensa apresentação
Pois é um fato notório
Ser maior que uma nação
Mesmo dentro de um país
Essa é a descrição que fiz
Defendendo minha opinião
Em terra onde o cabra luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 18 )
Tem cabra de peito honrado
Lutando por liberdade de expressão
Onde tem jurema e alastrado
Tem vaqueiro do gibão
Cada um no seu estado
Cuidando da apartação
E por respeito à profissão
Dos homens que vão à luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 19 )
Sertão é um lugar telúrico
Que também é folclórico
Entre o falso e o verdadeiro
Digo ao mundo inteiro
Nesse verso é certeiro
Carece ser verdadeiro
Isso serve de lição
Numa sociedade que luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 20 )
Toda sociedade que luta
Luta por seus direitos
Mais essa classe matuta
Possui grande defeito
De não ter opinião
Sobre aquilo que tem direito
A liberdade de expressão
É coisa de quem luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 21 )
Por tanta coisa no Sertão
Às vezes me falta inspiração
Pra por os versos no lugar
Vou falando da injustiça
Que no meu Sertão atiça
Esse é o jeito de mostrar
As escorias da corrupção
Em pele de gente astuta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 22 )
Nessa boca de confusão
Eu não me meto não
Prefiro fazer cultura
Versos em poesia pura
Ser livre de opinião
Sendo sim ou sendo não
É a liberdade de expressão
Na forma mais justa
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 23 )
Nossa realidade é nua e crua
São tantas formas de fazer cultura
Mas, vemo-la podre e nua
Nessa pseudo-cultura
Aquilo que era cultura raiz
Não passa de meretriz
Levando pra perdição
Um povo que luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 24 )
Cultura que um dia foi raiz
Está virando meretriz
Pelo Sertão do país
Se tem uma coisa que nunca quis
E jamais fiz
Foi profanar a cultura da nação
Quem faz isso não tem noção
Do nosso tempo de luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 25 )
Tem gente que pensa que cultura
É só arte, dança e música
E outras coisas que o mundo mistura
Nesse mundo sem lógica
Contra os valores da educação
Vivendo fora da rota
Quando a cultura nos importa
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 26 )
Tem gente pensa que a arte é coisa fácil
Misturando o certo com o profano
Leva todo mundo pra dentro do cano
Pensando que esse gesto inútil
Tem haver com cultura
Coisa ruim jamais se mistura
Com aquilo que tem tradição
Por respeitar essa conduta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 27 )
Respeitamos a boa conduta
Do forró, xote e baião
Do vaqueiro que luta
Nas festas de apartação
Mais sem idolatria
Com Deus em sua companhia
Mostrando que é o pai da Criação
E de toda sertanejada que labuta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 28 )
Respeitamos o homem que agradece a Deus
Colocando ELE em primeiro lugar
Guiando os caminhos seus
Pois não há outro lugar pra reclinar
Colocando nossa cabeça
Não adianta se fazer de besta
Nesse mundo de ilusão
Jogando fora os anos de luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 29 )
Estamos ai na luta
Na cultura do cordel
Defendendo a classe matuta
Naquilo que é honesto
Sem fazer papel réu
Mandando um papo reto
Sem qualquer discriminação
Dessa classe que luta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
(30)
Essa foi minha luta
Pra escrever esse cordel
Pra toda classe matuta
E também o menestrel
Nesse jogo de direção
Do Popular ao Cristão
Não fazemos acepção
Cultura limpa é que nos importa
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
( 31)
Eu termino esse cordel
Como poeta menestrel
Que além de ser Cristão
Tem muita educação
Se você quer defender o Sertão
Tome essa direção
Entre nessa condução
Tomando uma boa conduta
O CORDEL É UMA POESIA MATUTA,
QUE NASCE DO NORDESTINO DO SERTÃO
(32)
Mote& Glosa: Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.