Várzea da Palma

Quando se fala em Várzea da Palma

Voltamos no tempo

Citamos contratempos

Que dói até a alma

É voltar ao período colonial

Fazendo um folheto magistral

Sobre o Morgado Antonio Guedes de Brito

Feito em manuscrito

Segundo conta a história

Foi o mandatário de terras

( 1 )

No Vale do São Francisco

E nas diversas estórias

Que causa pé de guerra

Faz a história virar fuxico

Antes de virar cidade

Várzea da Palma era um simples arraial

Um fato que na verdade

Fazia o lugar sempre mudar de nome

Até a emancipação municipal

É como versos que se some

( 2 )

Para descreve o primeiro lugarejo

O reduto sertanejo

Chamado Porto da Palma

Temos o Bandeirantismo

De Fernão Dias Paes Leme

No qual teve trauma

Morreu dum mal gravíssimo

Onde corpo o treme

Doendo até a alma

Segundo conta história

( 3 )

Morreu em Porto da Palma

Onde atualmente fica a Barra do Guaicuí

E destaco aqui

O período da fama

Dos bandoleiros,

Jagunços e cangaceiros

Mais temidos do Sertão

Quem não se lembra de Antonio Dó

O cabra que arrochava o nó

Desafiando a audácia de Felão

( 4 )

Um valentão como Lampião

Que até então recebia a patente

De Alferes Félix Rodrigues

Um cabra que ousava ser tenente

Que pelo seu ato desordeiro

Assustava até freguês

Dentro de venda

Esse gostava duma contenda

Além de Antonio Dó

Mesmo que fosse um só

( 5 )

Felão teve de se contentar

Com a tirania de seu filho

Feliciano Rodrigues

Esse fazia até o mundo acabar

Só andava fora dos trilhos

Não só espantava freguês

Como botava terror em Porto da Palma

E em toda região

Era o centro da confusão

Roubando aqui

Roubando ali

( 6 )

Roubando os diamantes de Jequitaí

Era um tremendo desordeiro

Não tinha medo do Major Cipriano de Medeiros

Que da nascente á jusante do Jequitaí

Era o senhor dos diamantes

Mas sofria com o cangaceiro errante

Que nascido em Porto da Palma

Não tinha dó de nenhuma alma

Foi apelidado de Felãozinho

Fazendo honrarias

( 7 )

Ao diminutivo do apelido de seu pai

E seguindo triste caminho

Vivendo das anarquias

Que o crime atrai

Não era pra tanto motivo

Ao contrário de seu pai Felão

Que viveu o enredo vivo

De sobreviver com falta de pão

Pois teve de conviver com a seca

E com os desmandos dos coronéis

( 8 )

No cenário de percas

Vivido lá pelas bandas da Bahia

E por causa de seres infiéis

Viveu em vidas secas

Nunca sorriu de alegria

Desafiou Deus e o mundo

Vivendo o cenário imundo

De extrema maldade

Mesmo servindo de autoridade

Travou uma incansável peleja

( 9 )

Com o seu conterrâneo

O Baiano António Dó

Que viveu dura vida sertaneja

Lembrado no Sertão contemporâneo

Pois arrochava o nó

Este queria ter uma vida abastarda

No Vale do São Francisco

A fim de esquecer a pobreza danada

Pois a fome era um risco

Pelas bandas de Pilão Arcado

( 10 )

Totalmente revoltado

Com a seca e o coronelismo

Atiçou o Banditismo

No Sertão de Minas Gerais

Saqueando terras do Sertão aos Carrascais

E mesmo com seu nome verdadeiro

António Antunes de França

Como era chamado

Era um cabra treteiro

Uma sofrida criança

( 11 )

Que no Sertão é marcado

Por não aceitar os desmandos

Rejeitando os comandos

De um Sertão Bandoleiro

Onde Coronel é pior que Cangaceiro

António Dó ganhou fama em Vargem Bonita

E na região da Serra das Araras

Esse cordel cita

As suas façanhas na cidade de São Francisco

Mesmo diante de informações raras

( 12 )

Os relatos viraram fuxico

No Sertão e no entorno

Sendo contados pela boca do povo

As suas pelejas com Felão

Botando fogo no Sertão

Como o tenente

No alto da patente

Nunca vencia o oponente

Pois António Dó era um cangaceiro experiente

A alternativa era prestar contas a população

( 13 )

Por fazer tanta adoração

Ao temido bandoleiro

Felão desordeiro

Cobrava informações do paradeiro

E esconderijo do cangaceiro

Como o povo morria de medo

E do tenente escondiam segredo

Já entoavam o jargão:

"Felão veio?_Não veio não?

Por que ele não veio? Não sei não!"

( 14 )

Quando em Vargem Bonita chegava

A tropa do tenente Felão

Os cabras ficavam com o coração na mão

Por onde passava ele aterrorizava

As vilas do Sertão

Seu motivo era um só

Por nunca ter êxito sobre António Dó

Triste é o acontecimento em destaque

A história do massacre

Na região de Vargem Bonita

( 15 )

Comandado por Felão

Esse desafiava até Lampião

Segundo a história cita

Sua tropa destruiu toda vila

Atiçando horrores

Matando mais de 70 moradores

Pois o povo vacila

E não conta o paradeiro

De António Dó, o cangaceiro

Que perderia o comando

( 16 )

Depois de ser morto e traído

Pelo ato corrompido

De um cabra do seu próprio bando

É uma história que dói a alma

Contada em Várzea da Palma

E em todo Nordeste Brasileiro

Virando até cordel em luzeiro

Após o período do Bandeirantismo

Diante do fenômeno do Banditismo

Outros nomes são dados

( 17 )

A cidade que intitula este cordel

Nesses tempos passados

De domínio de coronel

Já foi chamada de Vargens das Palmas

E também de Palma Velha

Não é menção a cactos de palma

E sim de palmeiras

Uma beleza que anela

E nessas bandas são pioneiras

O desenvolvimento chega ao povoado

( 18 )

Vindo até do estrangeiro

Que anos depois seria emancipado

Foi um ato pioneiro

Que aqui fez

O povoado virar cidade

De Várzea da Palma

No ano de 1953

Uma reciprocidade

Que recebe salva de palmas

Nesse cordel que tem cultura

( 19 )

Mas também conta a história

Dos arraiais e povoados

Que citados na literatura

Ficam marcados na memória

Pelos seus tempos passados

E preservados a altura

Daqueles que lutam por cultura

E muitas vezes fazem jogo de cintura

De um movimento que é pioneiro

Dentro do Nordeste Brasileiro

( 20 )

Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.

Moisés Aboiador
Enviado por Moisés Aboiador em 06/01/2023
Código do texto: T7688585
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