O VÉIO DA VENDINHA ( Havan )
Inaugurei a vendinha
Todo feliz e confiante
Quando parou um D K V
Era um caixeiro viajante
Vendedor de armarinhos
Sujeito chato purgante
Em poder de uma mala
Que colocou no balcão
Abriu o enorme zíper
E começou a exposição
Ali ele tinha produtos
Pra qualquer situação
Aqui temos mercadorias
De muito boa aceitação
Temos botões de camisa
E camisinha de lampião
Pinguins de geladeira
Cadernos e mata borrão
Eu falei educadamente
Disse não posso comprar
Eu tô começando agora
Preciso me organizar
Mas o homem não ouvia
E não parava de falar
Ele era bom vendedor
Por isso não se abalou
Foi expondo mercadorias
E o assédio continuou
Até dei umas indiretas
Mas ele me ignorou
Temos pedra para isqueiro
pó de pulga e naftalina
Temos óleo para cabelos
pó de arros e brilhantina
Desodorante em bastão
sal amargo e anilina
Temos enfeite para bolo
Pimentas moída em cartela
Temos chá de camomila
Chá preto cravo e canela
E para o aniversariante
Todos os tipos de vela
Temos maria Chiquinha
Capas para botijão
Temos bolinha de gude
Chumbinho para pressão
Cinzeiros de porcelana
E cordas de violão
Temos anzóis e chumbadas
Temos boias reluzentes
Temos até língua de sogra
Retrós de linhas corrente
Temos bexigas coloridas
Minuto pra dor de dentes
Temos agulha para tricô
Agulhas para crochê
Remendo para pneus
Sabão de coco e laquê
Óleo de máquina Singer
E telas para TEVÊ
E eu balançava a cabeça
Num gesto de reprovação
Mas o homem era chato
E jamais aceitava o não
Ia tirando mercadorias
E espalhando no balcão
Temos lápis e borracha
Temos caneta tinteiro
Temos canetas coloridas
E lápis de carpinteiro
Limas para serrotes
E navalhas de barbeiro
Temos todas as sementes
Da cenoura aos repolhos
Temos cortador de unha
Temos Pentes pra piolhos
Temos abridor de latas
Cadeados e ferrolhos
Fluido para isqueiro
E cordas para o varal
Grampos para o cabelo
Temos fermento Royal
Até foguetes de lágrima
Muito usado no natal
Temos a pilha do gato
Grampo de roupa e dedal
Temos meias e kichutes
Pé de vela com pedal
E na linha de farmácia
Também temos sonrisal
Tiras para seu chinelo
Percevejos e tachinhas
Bomba de flits e Neocid
Temos caldo de galinha
Punhos para bicicleta
E canivete com bainha
Me sentindo sufocado
No fim tive que ceder
E resolvi comprar tudo
Só depois fui perceber
Que a vendinha tava cheia
Nem podia me mover
E a modesta vendinha
Agora ficou gigante
Tudo graças a insistência
Do caixeiro viajante
Mas hoje eu agradeço
Aquele chato pedante
Com otimismo fiz lojas
Por este Brasil afora
Se não sabe quem sou eu
Tente adivinhar agora
Eu agradeço o que tenho
A Deus e a nossa senhora
Eu sou um barriga verde
Talvez tu sejas meu fã
Sou rico, mas sou humilde
Nunca fui o ban ban ban
Sou rico pois tenho Deus
Eu sou o véio da Havan