Antônio Dó
Diferenciar `bandido´ de `bandido social´ talvez seja a coisa mais fácil para quem realmente conhece o Nordeste Brasileiro. Hoje temos internet, registros, documentos históricos refutando o que foi realmente o 'Cangaceiro'. Antônio Antunes de França, o vulgo Antônio Dó de Pilão Arcado - BA á São Francisco - MG
É a prova do banditismo social no Nordeste Brasileiro. Talvez Pilão Arcado, São Francisco, Vargem Bonita e a Serra das Araras não sejam conhecidas para os brasileiros. Mas sempre serão lembradas na história do cangaço. Apresento a vocês o Cangaceiro Antônio Dó em cordel.
Se tem um cabra
Que é falado no Sertão
Esse era Antônio Dó
Como boato que não se acaba
Ficou tão conhecido quanto Lampião
Era uma pobreza só
Pelos Sertões da Bahia
Duma infância sem alegria
Vivida em Pilão Arcado
Esquecendo o passado avexado
( 1 )
E virando cangaceiro
Só era um bandoleiro
Fugindo da triste lembrança
Da macabra infância
Vivida nos tempos de criança
Como sertanejo só
No Sertão que arrocha o nó
Desceu o Velho Chico
O imenso São Francisco
Dispersou a melancolia
( 2 )
De sair do Sertão da Bahia
E invadir os carrascais
Do Sertão de Minas Gerais
E foi o que aconteceu
Nesse fato que antecedeu
Um dos maiores conflitos
Da história do cangaço
Nesse cordel faço
Menção aos atritos
Do cangaceiro Antônio Dó
( 3 )
Com o tenente Felão
O por nome Antônio Antunes de França
O cangaceiro Antônio Dó
Era motivo de insatisfação
Para toda governança
De volantes que viviam só,
Na captura dos cangaceiros
E naquele Sertão desordeiro
O Alferes Felix Rodrigues
Vulgo Felão
( 4 )
Não tolerava Antônio Dó
Onde apresento a vocês
O embate de Antônio Dó X Felão
Que arrochou o nó
Das quebradas do Sertão
Segundo relatos do cangaço
Neste cordel que faço
Este fato ocorreu
Na região da Serra das Araras
E no povoado de Vargem Bonita
( 5 )
Na história que descreveu
Numa forma clara
E hoje o poeta dita
O banditismo que aconteceu
Nos municípios de São Francisco
E Chapada Gaucha
Antes de ser emancipado
Falo em cordel escrito
Desenvolvendo na bucha
O fato relatado
( 6 )
Pelas bandas do Velho Chico
O cangaceiro Antônio Dó
Era um criador de gado
Fez dali um cangaço só
No Sertão arrochou o nó
Fora temido na região
Querido pela população
Assim como Lampião
Um Hobin Hood do Sertão
Os relatos da região
( 7 )
Chegam à conclusão
Que as persigas do tenente Felão
E das volantes do governo
Só gerou desgovernos
Pois esse bandoleiro
Desafiou os poderosos do Sertão
Há relatos que o cangaceiro
Fechou o corpo com o cão
Um costume prático
Do mandonismo carismático
( 8 )
As terras e reses de gado
Resultado do cangaço armado
De Antônio Dó
Que amedrontava os coronéis
Tirando contos de reis
Os deixando no pó
Há boatos no Sertão
Que nessa região
Prestava bondade à população
Era prática de bandoleiro
( 9 )
Ser Hobin Hood no Nordeste Brasileiro
Em muito dos acontecimentos
Ficou registrado um momento
Marcado no cangaço
Sem fazer embaraço
São Francisco fora a cidade
Onde Antônio Dó
Desafiou toda a autoridade
E comboio de volantes
Que sem piedade
( 10 )
Do cabra não teve dó
E no mesmo instante
Amarrou o cangaceiro
E lhe fez um pau de arara
Num pé de juazeiro
Frente à cadeia de São Francisco
E por ai não para
Os relatos desse conflito
Aos olhos da população
Que residia no Sertão
( 11 )
O cabra era um Hobin Hood
Diante daquela seca rude
Viver era lucro
Ainda mais defendo cangaceiro
Pra não cair no sepulcro
O jeito era ser coiteiro
Mais dava uma confusão
Nos ouvidos do tenente Felão
Ainda mais se fosse à população
Pois era certeza
( 12 )
O assunto corria na mesa
E em toda região
O cenário era de tristeza
E morte no Sertão
Esse cordel incita
O massacre de Vargem Bonita
Que a mando de Felão
Aterrorizou o Sertão
O tenente estava cansado
De sempre sair derrotado
( 13 )
Nas persigas á Antônio Dó
E o seu bando de cangaceiros
Este nunca esteve só
Tinha um grupo bandoleiro
Conheciam a região
E todos os atalhos do Sertão
Em qualquer ocasião
Escapavam duma confusão
Foi numa dessas que Felão
Deu fim a população
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Do povoado de Vargem Bonita
De tanto sair derrotado
No confronto com Antônio Dó
O tenente incita
A população daquele povoado
Sem um pingo de dó
Matando toda a população
Que não informara do paradeiro
Do temido cangaceiro
Coube a Felão
( 15 )
Plantar discórdia no Sertão
Com requintes de crueldade
Invadindo tal localidade
Ordenando a população
Que obedecesse ao seu comando
Botando todo mundo pra dançar
Aquele povo dançando
Tinha que acatar
Seu jeito de dar ordens
Misturado nas desordens
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Dentro do Sertão
Quem aplicava ordem
Atiçava a confusão
Virando história no cangaço
Na descrição que faço
Sobre um canto Nordestino
Que por ironia do destino
Entoado para Felão
Atiçando confusão
"Felão veio?
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Não veio não?
Por que ele não veio?
Não sei não!
Quantos boatos!
No decorrer dos fatos
Perdura o massacre de Vargem Bonita
Onde sua tropa incita
Toda a população
Em torno dessa região
E a única coisa a fazer
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Era obedecer
Era homem dançando com homem
E mulher com mulher
Não teve “perna pra quem te quer”
E sem piedade e dó
Dizimaram os apoiadores de Antônio Dó
Nessa ação sangrenta
Morreram quase 80
No relato que dita
O massacre de Vargem Bonita
( 19 )
A tristeza por fim
Culmina no estopim
Da morte de Antônio Dó
Coube o destino
Que esse estivesse só
No meio do Sertão Nordestino
Onde os carrascais
Do Sertão de Minas Gerais
Comprovam a sua morte
Num momento sem sorte
( 20 )
Foi morto a traição
Com golpes de mão de pilão
Por um cangaceiro
Do seu próprio bando
Ficando a história do bandoleiro
Que o povo fica contando
No Sertão inteiro
De São Francisco aqui registrado
Ate as bandas de Pilão Arcado
Terra desse justiceiro
( 21 )
Poeta Moisés Aboiador Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.