“Não troco o meu “OXENTE”, pelo “OK” de ninguém”

"Quando o assunto é Nordeste Brasileiro, Deus me inspira. Faço um cordel inteiro, já a adianto a fila. Sou cria do Sertão, sei tudo desse chão. Nasci no Vale do Jequitaí, e deixo esse cordel aqui.

Nesse mundo nasce gente

Faz o cabra nascer valente

Na coragem e na bravura

O Vaqueiro é a figura

Faz aboio a altura

Tudo se faz derrepente

Na batida do repente

Manda versos pra alguém

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 1 )

Sou Nordestino avexado

Sei o que é vida de gado

O Sertão que fui criado

Foi minha escola, meu aprendizado

Difícil é esquecer o legado

Construído no passado

Quem é Nordestino sente

O pensamento que vem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 2 )

Prefiro o torrão ressecado

Do que o mundo industrializado

Sou mais a Fazenda Pitombeira

Onde o poeta é nato

Essa banda Nordesteira

Tem pega de boi no mato

Esporte do Vaqueiro valente

Mostrando a bravura que tem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 3 )

Na beleza que respinga

Desafia os tabuleiros da Caatinga

Montado no seu Quarto de Milha ou Alazão

Faz do cavalo um famanão

Cortando mato e espinhos

Ouvindo os cantos dos passarinhos

Tem a fé de muita gente

Respeita à hora do amém

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 4 )

Sou Nordestino sim sinhô

Pois tive um pai que me criou

E uma mãe que me gerou

Mas numa triste partida

Partiram pra outra vida

Desse mundo me deixou

Pois a morte vem derrepente

Na vida de um alguém

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 5 )

Sou Nordestino arretado

Nasci no meio do gado

Sonho em vestir gibão

Em festa de apartação

Fazendo o auto retrato

Das pegas de boi no mato

Nesse meu Sertão quente

Festa melhor não tem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 6 )

Falo do Nordeste com amor

Falo do Vaqueiro Aboiador

Que prendeu reses de gado

E no mato soltou

Pegou um boi afamado

Que na Caatinga se enfiou

Quando Vaqueiro é competente

Zela pelo o animal e o quer bem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 7 )

Minha terra tem cabra chapéu de couro

Guarda-peito,perneira e gibão

Cabra que derruba touro

Com cavalo Alazão

Seguindo o tempo vindouro

Das festas de apartação

Esse é o Brasil diferente

Que outro lugar não tem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 8 )

Sou de uma terra amada

Onde a Caatinga é declamada

Lá pelas bandas de Buíque

No Sertão de Pernambuco

Onde nasce xique-xique

Nasce verso de matuto

É o brotar da semente

Nascendo na planta que vem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 9 )

Sou Nordestino não cabe refutação

Sou do Ceará, Norte de Minas, Maranhão

Sou Vaqueiro do gibão

Sou lá das bandas de riba

Sou da Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba

Sou da pele queimada pelo sol quente

Sou o poeta que escreve esse repente

Sou a esperança da chuva que vem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 10 )

Sou das Alagoas, Sergipe, Pernambuco

Sou lá do estado do Piauí

Onde tem milho e sabuco

Tem fartura de pequi

Tem remédio que cura

Virando poesia pura

Nas mãos de alguém

Que escreve e não mente

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 11 )

Sou Vaqueiro do Sertão

Essa foi minha formação

Por aqui eu estudei

Aqui me politizei

O Sertão foi minha escola

Nunca peguei uma cola

Essa escola conheço bem

O passado e o presente

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 12 )

Nosso chão é de toá

Do Sertão á beira-mar

Também tem massapé

E se for pra encantar

É coisa pra inglês vê

O que temos nas bandas de cá

Na terra do sol quente

Encanta o estrangeiro que vem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 13 )

Nosso chão é pedregoso

Um paredão rochoso

Onde o poeta canta e cria

O berço da geologia,

Paleontologia, Antropologia

A mais linda fisionomia

No espaço tudo é diferente

Quando vamos mais além

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 14 )

Minha terra é um espinho

É um pássaro escondido no ninho

Seja gavião ou urubu

Seja o vôo troncho do anu

Aqui peba é tatu

Só Precisa informar no Sul

Que o poeta não mente

Mostra a cultura que tem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 15 )

Sou da terra do mandacaru,

Xique-xique, cabeça-de-frade

Por aqui tem urutu

Um animal covarde

Não passa de um bicho peçonhento

Matando novilha no relento

Por aqui sou sobrevivente

No desmantelo que vem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 16 )

Já me queimei com cansação

Provei da palma do Sertão

De tanto andar no mato

Me arranhei com unha-de-gato

Parece ate um cinema

Ver o Vaqueiro de cara com a jurema

Quem é Vaqueiro sente

Toda a peleja que vem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 17 )

Nessa vida de espinhos

Estreitos são os caminhos

Na paisagem de cactos

Vaqueiros deixam seus rastros

Nos tabuleiros e pastos

Penduram seus aparatos

Todo Vaqueiro sente

Zela pela vida que tem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 18 )

Seja na lida com a terra

Ou no lombo de um cavalo

O guerreiro vence a guerra

Um dia perde o embalo

De correr no mato fechado

Com jurema e alastrado

O Vaqueiro passa a frente

O ofício pra outro alguém

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 19 )

Sou da lida na roça

Vou cuidando da palhoça

No batente da enxada

Numa mão calejada

Cultivando a terra rachada

Onde o cupim faz morada

Nesse torrão quente

Matuto zela pelo chão que tem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 20 )

Tracei a peleja da vida

Persisti nessa lida

De ser matuto do mato

Do Sertão sou nato

Uso gibão de aparato

Sou ligeiro como rato

Ser Vaqueiro é diferente

Sai do instinto que se tem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 21 )

Sou da terra da peleja

Sou a cifra sertaneja

Sozinho enfrento o mato

Cipó de arranha-gato

Meu medo se foi

Quando pisei no arrebenta-boi

Só quem é Nordestino sente

A dor da ferida que vem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 22 )

Sou da terra do mororó

Onde cidade é Mossoró

Também é Pirapora

Onde o São Francisco chora

Só Deus pra ter compaixão

Desse mundo de poluição

Só quem é matuto sente

O desmantelo de alguém

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 23 )

Sou da terra dos cabras de fé

Do saudoso Patativa do Assaré

Dos poetas cordelistas, dos aboiadores

Dos trovadores e repentistas

Os grandes divulgadores

Desse universo artista

Que traz o seu repente

Pela voz de alguém

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 24 )

Aqui é a terra do umbuzeiro,

Juazeiro, pequizeiro, cajueiro

Tamarineira, aroeira, imburana

Ingazeira, pitombeira, cajazeira,

Tem mangueira que emana

A beleza da mulher faceira

Com seu sorriso inocente

Expressando a beleza que tem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 25 )

Sou fruto do cordel em luzeiro

Sou apagar do candeeiro

Sou anúncio no letreiro

Sou fruto do menino mexeriqueiro

Sou abundancia no maxixeiro

Sou Nordestino, Vaqueiro

Sou dessa brava gente

Sou esperança na pele de alguém

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 26 )

Sou de lá onde nasci

Sou do Vale do Jequitaí

Sou da banda de lá

Sou da banda daqui

No ato de versejar

Tudo começa por aqui

No meu seio descendente

Minha mãe fez o bem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 27 )

Na Geografia sou o espaço

Sou o contexto do cangaço

Sou zona da Mata, Sertão e Agreste

Também sou Meio Norte

Sou matuto de sorte

Sou cabra da peste

Sou a água corrente

Saciando a sede de alguém

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 28 )

Sou a música cantada

Na voz de Luiz Gonzaga

Sou da terra da vaquejada

Do Vaqueiro que reserva sua vaga

Em mais uma competição

Almejando ser campeão

Preserva a cultura existente

Sem desmerecer a quem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 29 )

Sou objeto de estudo de Euclides da Cunha,

Josué de Castro e Guimarães Rosa

Sou a escrita que impunha

Ariano Suassuna

Sou cordel em mote e glosa

Em São Bento do Una

Às vezes sou indiferente

Na opinião de alguém

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 30 )

Sou o mais lindo tabuleiro

Sou a saga do vaqueiro

Sou a trajetória de um guerreiro

Sou pé de umbuzeiro

Sou matuto sanfoneiro

Sou Nordeste Brasileiro

Sou o torrão que sente

Toda crítica que se tem

NÃO TROCO O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM

( 31 )

No Brasil sou o começo

Como também serei o fim

Do descobrimento, o contexto

Da formação territorial

Se história começa em mim

Por que tu fala mal?

No Nordeste batemos de frente

Contra todo preconceito que vem

“NUNCA TROQUEI O MEU “OXENTE”,

PELO “OK” DE NINGUÉM”

( 32)

Mote e Glosa: Moisés Aboiador Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.

Moisés Aboiador
Enviado por Moisés Aboiador em 23/12/2022
Reeditado em 23/12/2022
Código do texto: T7678107
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