"Morre o Rio das Velhas, Sofre o Rio Jequitaí"
Na minha região
Tem dois rios conhecidos
Que percorre o Sertão
Um é todo poluído
Outro sofre á sequidão
Com a perda da vegetação
Veredas que eram belas
Já não se tem por aqui
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 1 )
No Sertão tudo se acabou
O verde o homem desmatou
A asa branca que estava aqui
Com certeza já voou
Pra bem longe daqui
Nosso símbolo ele cortou
Foi-se o tronco do pequi
Nessa novela
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 2 )
O capim santo morreu
O umbuzeiro secou
Aquilo que nasceu
Com certeza se acabou
Cadê a flor estava ali?
Poluição comeu
Nas belezas daqui
Enquanto vigia as sentinelas
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 3 )
Exclua Deus fora dessa
ELE não tem nada com isso
O homem se apressa
Oferecendo risco
Merece correção na testa
Por total descapricho
Até alma gela
Com os desmandos por aqui
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 4 )
Sofre o camponês do Sertão
Perde toda plantação
O roçado que dava por aqui
Tem semente no chão
Nascendo bem longe daqui
Enquanto a sequidão
Perdura por aqui
Esperando a primavera
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 5 )
Na terra que me viu nascer
O sol chega doer
Em pele de gente
É o modo de proceder
No calor indiferente
Logo ao amanhecer
Das as cartas por aqui
Nessa poesia singela
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 6 )
Nesse desamor
Acertou Galego Aboiador
O capim santo morreu
O umbuzeiro secou
A juriti não bebeu
A asa branca voou
Pra bem longe daqui
Em outras currutelas
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 7 )
É a seca no Nordeste
Terra de Cabra da Peste
De homem trabalhador
Sofrendo nas garras
Do homem destruidor
Mostrando suas armas
Pois só sabe destruir
E nessa primavera
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 8 )
Sem qualquer intelecto
O homem desse século
Mostra as armas
Levando destruição
Quando acende suas garras
Deixa a poluição
O chorume que tem aqui
Já virou até novela
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 9 )
Se as coisas não mudam
Não se iludam
Nem cobre do Arruda
Esse chorume de ribeirão
Entregue a poluição
Mais uma vitima da corrupção
Que se assola por aqui
No despertar das sentinelas
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 10 )
Nosso Sertão virou local
Reduto do agronegócio
Foi-se o tradicional
Entrou esse consorcio
Matando o Sertão
Acabando a nossa tradição
A melhor coisa que tem por aqui
Enquanto minha alma gela
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 11 )
Adeus Mandacuru facheiro
Adeus pé de Umbuzeiro
Adeus forró no Candeeiro
Adeus menino mexeriqueiro
Foi-se a sombra do Juazeiro
Acabou-se o Sertão boieiro
E a cultura daqui
Enquanto assistimos a essa novela
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 12 )
Saudades do amanhecer
No Vale do Jequitaí
Do Xique-Xique a florescer
Do canto da Juriti
Na beleza ao entardecer
Exalando a flor do Pequi
Deixando coração partir
Em lembranças daquelas
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 13 )
Adeus palma-do-sertão
Foi-se a cabeça-de-frade
Nessa sequidão
Que o Sertão invade
Nesse papo reto
O Sertão pode virar deserto
À custa dos poderosos daqui
E de suas madames donzelas
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 14 )
Nas quebradas do Sertão
Voa triste o Cancão
Eita pássaro cantador
Voa troncho o Anu
Zoa Abelha-Uruçu
Fugindo do calor
Que chegou por aqui
E nessas primaveras
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 15 )
Defendo a voz ativa
No canto da Patativa
O Cupim de asa voa
Aqui e nas Alagoas
Pois local fresco no Sertão
Só na outra estação
Caso as coisas mude por aqui
Nos confins dessa Terra
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 16 )
Eu termino esse cordel
No ofício de menestrel
Não sou nenhum Lampião
Mais odeio injustiça no Sertão
Aflige o camponês do Sertão
Matando a vegetação
Que brota por aqui
E continuando essa novela
MORRE O RIO DAS VELHAS,
SOFRE O RIO JEQUITAÍ
( 17 )
MOTE & GLOSA: Moisés Aboiador Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.