Seu Lunga

Apresento em frase aleatória

Mais uma história

Que tem suas verdades

Mais também tem invenção

Por estas localidades

Que formam o Sertão

Tinha um sujeito afamado

Que apareceu até na televisão

Era seu Lunga, um cabra danado

Lá de Juazeiro do Norte

( 1 )

O velho era linha dura

Antes de sua morte

Seu Lunga era uma figura

Só promovia nossa cultura

Depois que apareceu na televisão

O cabra ganhou fama no Sertão

Pois tinha muita gente que pensava

Como também achava

Que o velho era ignorante

Mais não se avexe não

( 2 )

Pois era tudo invenção

De uma gente falante

Que tomava conta do povo

Atiçando o Sertão e o entorno

Na verdade seu Lunga nunca foi ignorante

Muito menos revoltante

Mas se o cabra lhe fizesse

Qualquer pergunta idiota

Podia perguntar o que quisesse

Que já saia com a cara torta

( 3 )

E o povo dava risada

De tanta asneira falada

Com seu Lunga era assim

Chegava doer ate o rim

De tanta babaquice

E tanta idiotice

Que os cabras perguntavam pra ele

Que dava até dó dele

Esse velho era o seguinte

Ou era dez, ou era vinte

( 4 )

Se viesse com pergunta idiota

A tolerância era zero

Pra muita manota

E muito desmantelo

Seu Lunga era comerciante

De uma venda de utensílios

Lá em Juazeiro do Norte

Mais tinha uns cabras irritante

Que tirava ele dos trilhos

Nesse cordel sem corte

( 5 )

Faço apresentação

Da história que percorreu o Sertão

E alguns estados da nação

De um cabra quieto

Pra muitos mal humorado

Vira um cordel completo

De história pra contar

Sertanejo vive a criar

As suas histórias inventar

Faço questão de apresentar

( 6 )

Seu Lunga estava na porta de sua venda

Logo chegou um cabra

Com cara de quem não queria nada

A fim de arrumar contenda

Cobra foi logo perguntando:

Seu Lunga? O senhor vende pregos?

Seu Lunga respondeu: Vendo.

No embalo dos versos

O cabra foi logo pedindo:

Tu me de dois pacotes

( 7 )

Seu Lunga imediatamente

Providenciou os dois pacotes

Pegou os pregos e colocou na sacola

Logo respondeu o cliente

Com uma conversa que não cola

Quanto custa?

O velho respondeu: 10 reais

O cabra retrucou:

Mas seu Lunga, ta caro demais

O velho respondeu: De graça eu não dou.

( 8 )

Logo veio cliente respondendo:

Nossa as coisas aqui é muito caro

Por isso que eu compro em outro lugar

Seu Lunga foi logo dizendo:

A um cabra totalmente sem preparo

Sem idéia pra refutar

Nem tem como discuti

Por que tu veio comprar aqui?

O cliente se entristeceu

Indo embora com a resposta que recebeu

( 9 )

Certa vez andando por Juazeiro do Norte

Seu Lunga resolve,

Entrar numa loja de 1,99

Pra ver se tinha veneno pra rato

Sem apressar o passo

O velho olha e analisa

Logo o dono da loja começa a retrucar:

Procurando alguma coisa?

Desde já

Seu Lunga foi respondendo:

( 10 )

Não procuro nada

Por acaso eu trabalho na procuradoria?

Com o homem todo sem graça e se corroendo

O velho responde: Aqui tem veneno pra rato?

Temos o melhor daqui

Vai leva – lo? Está barato.

Vou não, vou buscar o rato

Para vim comer aqui

De fato

O povo rachava de rir

( 11 )

Com as respostas na ponta língua,

De seu Lunga

Que chegava da íngua

Das histórias longas,

Desse cabra

É conversa que nunca acaba

Seu Lunga era um cabra sincero

Com ele não tinha lero-lero

Muito menos burrice

Era tolerância zero

( 12 )

Pra tanta idiotice

Era cada tolice

E tanta asneira falada

Que o velho se zangava

Seu Lunga acordava de manhã cedo

Já seguia o enredo

De abrir sua venda

Logo pela manhã

Que era sua garantia de renda

Já pensando no amanhã

( 13 )

Pelas ruas de Juazeiro do Norte

Tinha um Cordelista

Que fazia o seu mote

E também era repentista

Toda vez que seu Lunga abria sua venda

Já aparecia de encomenda

Um autêntico menestrel

Fazendo verso de cordel

A quem defenda

Que o cabra queria garantir sua renda

( 14 )

Ali estavam os dois reunidos

Dividindo os espaços concedidos

O cabra resolve fazer uma pergunta:

Seu Lunga?

Sabendo que a conversa seria longa

Sem arrumar confusão

O velho responde: Pois não?

Sem fazer codinome

Responde o homem:

Que dia o senhor vai me dar à honra,

( 15 )

De fazer um cordel para o senhor?

Vendo o cabra falar em honra

Seu Lunga devolve

Como uma moeda de mesmo valor

E responde:

Só o dia que você me dar à honra

De sair da porta minha loja

Rapidamente o cabra desaloja

E sai diante de tanta desonra

Qualquer situação idiota

( 16 )

O cabra saia com a cara torta

Para abastecer sua loja de utensílios

Seguindo os trilhos

Toda vez

Pelo menos uma vez por mês

Seu Lunga ia pra Feira do Crato

Comprar boas mercadorias

E bons aparatos

A fim de garantir melhorias

E um bom atendimento

( 17 )

Para o seu estabelecimento

Estava seu Lunga na Feira do Crato

E deparou com um grupo de jovens vendedores

Vendendo talheres, copos e pratos

Os cabras vendo o velho,

Arrumou um jeito de tentar enganá-lo

Esperto como um coelho

Seu Lunga resolve testá-los

Quanto custa esses pratos?

Vinte conto!

( 18 )

Por este preço eu não compro

No enrolar dos fatos

O velho estava ciente

Que tinha moleque indiferente

Querendo enganá-lo

Na tentativa de lubridiá-lo

Um dos vendedores responde:

Éhh..estamos em agouros

Ate agora não vendemos nada

Seu Lunga devolve:

( 19 )

Éhh..essa turma tenta enganar os outros

E ainda diz que é azarada

Seu Lunga passou a vida inteira viajando

O velho parecia à linha de ônibus

Juazeiro do Norte – Crato

Crato – Juazeiro do Norte

Somente á olhos nus

O cabra distinguia o fato

Seu Lunga era cabra de sorte

Certa vez sua mulher acordou e disse:

( 20 )

Lunga estou com desejo!

Sem fazer grife

O cabra foi longo pensando

Que iria ganha um beijo

Ficou com os dentes caçando

Pois sua mulher queria era conhecer o mar

O velho logo resolveu se ajeitar

Comprou as passagens

Ajeitou-se pra viagem

Ajuntou-se com a mulher e os filhos

( 21 )

Pegou o rumo e os trilhos

Embarcou no avião

Sentido á Fortaleza

Chegando lá

Ficou impressionado com tanta beleza

E com a imensidão do mar

O velho nunca fugia da raia

Longo tratou de ir conhecer a praia

Era sinal de imensa alegria

Ajuntou toda família

( 22 )

E lá foi seu Lunga em direção ao mar

Logo veio de lá pra cá

E na mesma direção

Um cabra sem noção

Sabendo que o velho estava famoso

No Sertão e na boca do povo

Já foi logo perguntando:

Esta indo á praia Seu Lunga?

O velho já foi arrochando:

Não! Estou indo caçar tubarão

( 23 )

O cabra resmunga

E logo vai se retirando

Com seu Lunga não tinha refutação

Podia ser o cabra mais inteligente mundo

Mais passava um vexame profundo

Ate um poliglota

Sairia como um idiota

Por dar tanta manota

Nesse cordel á destacar

O Sertão á Beira-Mar

( 24 )

Da historia de um matuto

O Sertão era seu reduto

Juazeiro do Norte era o lugar

Lá no estado do Ceará

Suas histórias eram reais

Mas também tinha ficção

Pois tinha muita invenção

Do Sertão aos carrascais

Pois os o boatos do Sertão

Não se esquece jamais

( 25 )

Autor: Moisés Aboiador Poeta de Literatura de Cordel de Jequitaí no Norte de Minas.

Moisés Aboiador
Enviado por Moisés Aboiador em 13/12/2022
Reeditado em 13/12/2022
Código do texto: T7670667
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