O BURRO E O POÇO (O FUNDO NÃO É O FIM)
Adaptação em cordel do conto popular “O burro e o poço” de autoria desconhecida.
POR JOEL MARINHO
Dizem não haver saída
Quando caímos no poço
Lá do fundo ninguém sai
Nem mesmo com muito esforço
Muito tempo acreditei,
No entanto, hoje sei
Que eu estava errado, seu moço.
Li um conto popular
A estória de um burro
Que desabou em um poço
Soltando um grande urro
Preso ali ele chorou
E muito se lastimou
Dentro do recinto escuro.
Seu dono vendo a desgraça
Nenhuma pena sentiu
Pensou como ele tirava
O pobre burro servil
Porém sem nenhum lamento
Ele pensou no momento
Vou matar esse imbecil.
No intuito de acabar
Todo aquele sofrimento
Chamou toda a vizinha
Que refrearam um momento
- Como assim vamos enterrar
- Quem lhe ajudou trabalhar?
Disse um, eu não aguento!
O dono disse que nada!
Ele já está velhinho
Não quero o ver sofrendo
De fome e frio, coitadinho
Meu coração dilacera,
Mas nem mesmo a besta fera
Merece este vil caminho.
Além disso esse poço
A muito tempo secou
É hora de ser fechado
E acabar com essa dor
Vamos fechar sem demora
Porque é chegada a hora
O fim do burro chegou.
Com todo aquele cinismo
Ao povo foi convencendo
E o burrico no poço
Ouvindo esse papo horrendo
Pensava sem muito engano
Que bom, não nasci humano
À hipocrisia não me rendo.
Depois de muitas conversas
E de várias tratativas
Enfim chegaram ao acordo
Iam tirar do burro a vida
Lá embaixo ele sentia
A morte com lâmina fria,
Mas tranquilo consentia.
E começou a chover
Areia do “cume da serra”
Ele com os olhos fechados
Pensava, perdia a guerra
Quando o barro batia a costa
Só tinha como resposta
Sacudir do couro a terra.
De repente percebeu
Que ao invés de ser enterrado
Ele estava era subindo
Com aquele barro jogado
O milagre aconteceu
De repente apareceu
Um belo dia ensolarado.
Quando o dono percebeu
Gritou ele, ó meu Jesus!
Obrigado, meu Senhor!
Por ter mostrado essa luz
Trouxe meu burro de volta
Acabou minha derrota
Ave Maria em cruz.
Porém naquele momento
De resposta ouviu um urro
No “pé do ouvido” um coice
Mai forte que qualquer murro
E partiu em disparada
Tomou o rumo da estrada
Ninguém mais vil o tal burro.
Ficam aqui duas lições
Essa em primeiro lugar
Jamais confie em ninguém
Que venha te bajular
Somente nos bons momentos
Que te tenha por jumento,
Pois te quer pra trabalhar.
E em segundo lugar
Esteja pronto para a guerra
Porque em todo momento
Irão em ti jogar terra
Se aproveite do tesouro
Balance com força o couro
Minha intuição não erra.
Como nos diz a canção
A que ao nosso coração mima
“Levante e balance a poeira
E dê a volta por cima”
Porque assim é a vida
Haverá muitas feridas,
Pois nem sempre há bela rima.
Seja então um burro esperto
Nem todo mundo a ti gosta
Portanto, fique ligado
Nas perguntas e nas respostas
Principalmente em ação
Melhor ver pedra nas mãos
Do que tapinhas nas costas.