A Saudade

A Saudade

Tere Penhabe

A saudade é uma paisagem

que perdeu toda a folhagem,

de cor rude, contrastante

com o verde tão bonito

do que chamamos antigo.

Lembra sempre o retirante.

Está no rosto sereno

daquele moço moreno

que passa tão displicente

remoendo a sua história

que já foi cheia de glória...

Nem parece ver a gente.

Mas bem pode estar também

na ausência do olhar de alguém

que um dia foi tão formosa

nas festas sempre encantava

e sequer imaginava

quanto a vida é dolorosa!

Eu vejo ainda a saudade

desenhada pela idade

formando um sulco profundo

numa ruga impertinente

que tanto envelhece a gente

e entristece o nosso mundo.

Mas é vasta essa paisagem!

E tão diversa a sua imagem!

Numa foto amarelada

que alguém retira do bolso

seja na janta ou no almoço,

para lembrar da sua amada.

História que se amarrotou

que ninguém jamais desejou

mas viu triste, a despedida

como folhas do outono

que lembram tanto abandono

que povoam tanto a vida!

Minha saudade é rebelde!

Não se iguala, nem se mede.

Rodeia tanto os meus dias...

Tenta reaver sorrisos

que partiram sem avisos

torna as noites tão mais frias!

De todas, a mais dorida

não tem suporte na vida!

Porque esta minha saudade

é de alguém que eu nunca vi

não passei perto ou senti,

mas povoa-me a vontade.

São amantes, a noite e o dia:

isso é fato, não fantasia.

Mas as tristes madrugadas...

é onde a saudade mora,

nem que mande, vai embora,

são mulheres mal amadas.

Nelas, que a minh'alma sofre.

Eu grito e ninguém socorre

ninguém me ouve, é tão grave!

Parece até que estou morta

que posso passar na porta

sem precisar de uma chave.

Dizem que isto é solidão...

mas nega o meu coração.

Não é mais do que a saudade,

de alguém que abala meu peito

mas que talvez não foi feito

para tal finalidade.

Por isso a chamo de "rebelde",

antes que alguém me interprete.

E defendo o meu conceito:

- Solidão qualquer um sente

e qualquer um a preenche.

Mas na saudade, é o defeito...

Ela tem endereço certo,

não importa se longe ou perto.

Substituir não convém,

porque então vai doer muito

como ser alvo de um murro

sem ao menos saber de quem...

Assim é a minha saudade!...

Doída, mas sem maldade,

sorriso que minh'alma ruiu,

e que não sabe precisar

se para sempre vai ficar

pois não chegou nem partiu...

Santos, 02.12.2007

www.amoremversoeprosa.com