BOIUNA - UMA LENDA DA AMAZÕNIA

História da Cobra Grande,

Boiúna, Cobra Norato,

Mãe Grande, Cobra Maria

É uma lenda de fato

Mas é coisa verdadeira,

Se achas que é brincadeira

É só se embrenhar no mato...

É uma cobra de fato

De enormes proporções

Seus causos, suas histórias

Variam por regiões,

Boiúna no Tocantins

Cobra Grande em Parintins

Maria no Solimões.

Por ter grandes proporções

Habita as profundezas

Dos grandes lagos e rios

E por ter pouca destreza

Pra conseguir alimento

Quase não faz movimento

E ataca de surpresa.

Faz parte da Natureza

Dividir opiniões

A respeito dessa lenda

Ao longo do Solimões

Até onde ele sumiu

E ao Rio Negro se uniu

Unindo duas regiões.

Dizem no Rio Solimões

Que a Cobra Grande é visão

Nascida no cruzamento

De mulher com assombração

Por isso ninguém a ver

E ela vive a proteger

O povo da região.

Há outra divagação

Um tremendo zum, zum, zum,

Que a Cobra grande veio

De cruzamento nenhum

Não é visão pois tem vida

E que ela foi nascida

De um ovo de mutum.

Dentre os nomes tem mais um

Noutra lenda conhecida

Também do Rio Solimões

Que envolvem morte e vida,

A filha de um feiticeiro

Por um branco forasteiro

Foi um dia seduzida.

Dessa união indevida

Com a filha do pajé

Nasceu um casal de gêmeos

Nomes Maria e josé

A cunhã, desprotegida

Teve os filhos escondida

Dentro de uma igarité.

Mas o raivoso pajé

O segredo descobriu

Foi lá, matou sua filha,

Jogou os bebês no rio

José na hora morreu

Maria sobreviveu

E o feiticeiro não viu.

É que a Iara assistiu

Tudo quanto acontecia

Viu o pai matando a filha

Jogando os netos na ria

Compadecida e com mágoas

Doou José para as águas

E transformou a Maria.

A transformação seria

Uma enorme serpente

Com grandes olhos de fogo

Provocadora de enchente

Para encalhar navios

E atuar nos grandes rios

Assustando toda gente.

Essa famosa serpente

Criada para esses fins

Chamada Cobra Maria

Provocou momentos ruins

Enchendo o povo de mágoas

Desde o encontro das águas

Indo até Parintins.

Lá no Rio Tocantins

Apareceu outro fato

Uma índia engravidou

Da grande Cobra Norato

E essa fatalidade

Trouxe mais tranquilidade

Aos habitantes do mato.

Essa Maria Honorato

Que o povo ali chamaria

É a famosa Boiúna

A mesma Cobra Maria

Que praticava maldade

E tirava a liberdade

De quem ali residia.

Aconteceu certo dia

Da Boúna desejar

Deixar de ser uma serpente

E à forma humana voltar

Mas pra isso acontecer

Teria que aparecer

Alguém para a libertar.

Começou a procurar

Um homem para esse feito

Tería que em sua boca

Derramar leite de peito

Numa noite de luar

Para ela assim voltar

A ter um corpo perfeito.

Depois de tudo isso feito

Tería que provocar

Um corte em sua cabeça

Pra que pudesse sangrar

Só cumprindo essa missão

A sua transformação

Podia se completar.

No Estado do Pará

Aparece um cidadão

Um soldado de policia

Da cidade Redenção

Que decidiu atendê-la

Porque desejava vê-la

Depois da transformação.

Livrou com sua missão

Honorato do encanto

Transformando a cobra d’água

Num corpo divino e santo

Ela pegou sua trilha

E foi viver com a família

Na floresta em algum canto.

Pesquisando eu não me espanto

Pois já estou acostumado

A ver lendas diferentes

Dentro de um mesmo Estado

Referentes a um só tema

Às vezes é um problema

Do jeito que foi contado.

Roraima é outro Estado

Onde a Boiúna aparece

Lá surge no pensamento

Quanto mais pensam mais cresce

Vive desaparecida

É só dá sinal de vida

Quando a mata floresce.

Quando uma coisa acontece

Precisa ser registrada

Dizem que uma linda índia

Uma princesa adorada

Um dia se apaixonou

E a vingança a transformou

Numa serpente encantada.

Essa princesa adorada

Achou de se apaixonar

Pelo grande Rio Branco

Com isso foi provocar

Ciúme em Muirakitã

Que fez a linda cunhã

Em cobra se transformar.

O que se conta por lá

É que com esse desvario

Ela virou protetora

Das águas daquele rio

Ajudando os pescadores

E punindo os predadores

Que lhe fazem desafio.

Boiúna naquele rio

É mais que uma divindade

É a esposa do Rio Branco

Protegendo-o da maldade

Assim, toda região

Tem a sua proteção

Seja no campo ou cidade.

No Acre a divindade

Faz sua transformação

Numa linda moça e atua

Nas festas de São João

Seduz com seus predicados

Rapazes desavisados

Levando-os para o porão.

É a feminina versão

Bonita e maravilhosa

De outra lenda conhecida

A do boto cor-de-rosa

Sendo que o boto engravida

E a Boiúna tira a vira

De forma bem desastrosa.

Essa cobra perigosa

Também tem atuação

Nas populações urbanas

Segundo a superstição

Cidades foram fundadas

Mesmo em cima da morada

Do terror da região.

Pedreiras no Maranhão

Santana no Amapá

Parintins no Amazonas

Um dia podem afundar

Se a poderosa serpente

Aparecer de repente

E a cidade abraçar.

Seus nomes podem mudar

De acordo com a região

Alguns dos nomes citados

Na primeira informação

Ainda chamam Boiaçu

Sucuri, Sucuriju

Anaconda ou Boião.

Também há variação

No peso, no comprimento

Com cento e cinquenta quilos

Mas chega até os duzentos

Metros vai de cinco a sete

Mas até com dezessete

Foi vista em algum momento.

A Boiúna tem talento

Forma e porte varonil

É o maior serpentário

Que na terra já se viu

Tem brilho e tem proceder

É preciso ver pra crer

E é Coisa do Brasil.

Manaus, 14/10/2013

SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 28

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 20/11/2022
Código do texto: T7654434
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