O POÇO DO SINO - UMA LENDA PERNAMBUCANA
Se é lenda, se é verdade
Eu vou em versos narrar
Essa história que ouvi
Quando estava a viajar
Em Aracaju chegando
Como sempre divulgando
A Cultura Popular.
Quando eu chego num lugar
Sempre alguém me reconhece
Daí surgem as histórias
Que um ou outro conhece
Depois eu vou me lembrando
Termino versificando
Pois a rima me obedece.
Quem a história conhece
Taí o texto rimado
Trata-se de um homem rico
Muito bem conceituado
Que contraiu uma doença
E pela lei da ciência
Estava desenganado.
Sendo ele um homem abastado
Sem lhe servir para nada
Vendo a vida lhe fugindo
A medicina calada
E a morte sendo possessa
Fez então uma promessa
A Nos’Senhora da Escada.
Em hora desesperada
Prometeu sem muito alarde
Se Deus lhe desse de novo
A graça da sanidade
Gastaria seu tesouro
Num sino todo de ouro
Pra igreja da cidade.
Com poucos dias mais tarde
O homem convalesceu
Da convalescência à cura
E depois que agradeceu
A Deus por estar curado
Foi, conforme o combinado
Cumprir o que prometeu.
Quando o padre recebeu
Do rico essa doação
Convocou os seus fiéis
Com novena e oração
Para junto com o povo
Conduzirem o sino novo
Numa grande procissão.
Mas veio a contradição
No meio daquela gente:
A igreja era fraquinha
O sino era potente
No estado que ela estava
Como era que comportava
Uma jóia tão imponente?
Mas puseram finalmente
O sino na capelinha
Vinha gente de Escada
E de cidades vizinhas
Romaria em pau-de-arara
Ver aquela jóia rara
Que nem no Recife tinha.
Um dia de tardezinha
Quando o sino repicava
Passando uma prostituta
Com o povo comentava
Essa igreja não combina
Com uma jóia tão fina
Se eu fosse o padre tirava.
Enquanto ela falava
O esperado aconteceu
O campanário partiu-se
O sino se desprendeu
Em disparada maluca
Caiu no Rio Ipojuca
E ali desapareceu.
O povo todo correu
Pra ver se recuperava
Mas ele caiu num poço
Onde uma cobra morava
Era uma grande serpente
E com medo aquela gente
No poço não se arriscava.
E a serpente alí estava
Quando o sino afundou
Naquele mesmo momento
No sino ela se enroscou
O objeto estranhando
Mas nele ficou morando
Até que se acostumou.
Foi aí que começou
Nova lenda no Estado
Escada no Pernambuco
O povo está acostumado
Homem, mulher e menino
Conhece o «Poço do Sino»
Como ficou registrado.
Há muitos anos passados
Segundo eu ouvi contando
Que de sete em sete anos
Se ouvia o sino tocando
Quem lá chegasse ia vendo
O poço todo fervendo
E as águas borbulhando.
Mas o tempo foi passando
O sino se escafedeu
E o ruido do poço
Também desapareceu
Se é lenda do passado
Tá em Escada registrado
E o povo não esqueceu.
Outro fato aconteceu
Desta feita com um menino
Lá no Rio Ipojuca
Onde é o Poço do Sino
A mãe era lavadeira
Lavava roupa na beira
Do rio, no sol a pino.
De repente seu menino
Começou uma gritaria
Ela saiu disparada
Pra ver o que acontecia
E parou petrificada
Totalmente extasiada
Com aquilo que ela via.
O garoto conduzia
Uma pesada corrente
Com um grande sino na ponta
Totalmente reluzente
E enrolada no sino
Puxado pelo menino
Havia uma serpente.
Mas imediatamente
A serpente se moveu
Deu um puxão na corrente
E o menino cedeu
O objeto soltou
No poço o sino afundou
E tudo desapareceu.
Outra vez aconteceu
Mas eu não sei dizer quando
Também no Rio Ipojuca
Que é dele que estou falando
No Engenho Barra se deu
Pois foi lá que apareceu
Um tacho de ouro boiando.
O proprietário nefando
Com ambição desmedida
Manda um carreiro puxar
A tal peça aparecida
Dois bois de força potente
Puxando forte corrente
Empreenderam a descida.
Mas na hora da subida
A força descomunal
Dos bois não adiantava
Puxar o material
O fazendeiro gritava
Carreiro os bois maltratavam
E o ouro lá no local.
Aconteceu afinal
Um terrível revertério
Fazendeiro que gritava
De repente ficou sério
Com o tacho, bois e carreiro
Afundaram no aguaceiro
Permanecendo o mistério.
Depois outro assunto sério
Veio a acontecer
Uma luz misteriosa
Começa a aparecer
Um círculo todo dourado
Que deixava impressionado
Quem visse a luz acender.
Muita gente pôde ver
Da ponte Chora Miséria
Lá no Rio Ipojuca
Essa aparição séria
Na cidade de Escada
Deixando muito assustada
Quem visse aquela matéria.
Outra coisa muito séria
Também do Rio Ipojuca
Sempre no Poço do Sino
Que deixa a gente maluca
É um estranho gemido
Um reboliço, um ruido
Quem escuta funde a cuca.
Esse Rio Ipojuca
É cheio de assombração
Lá na Volta do Macaco
No Engenho Conceição
Dizem que antigamente
Uma bola reluzente
Surgia num cacimbão.
A dourada aparição
Deixava o chão reluzente
Ora uma bola, ora um tacho
Ora um sino ou um pingente
Uma peça poderosa
Toda de ouro, brilhosa
Presa por uma corrente.
A história é transparente
Se não quer acreditar
Pegue o metrô no Recife
Para se certificar
Vá até Jaboatão
Pra Escada é de lotação,
O Sino de Ouro tá lá.
Fortaleza, 12/04/2013
SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 22