TIA SIMOA - A ABOLIÇÃO NO CEARÁ

TIA SIMOA

A ABOLIÇÃO NO CEARÁ

Feriados no Brasil

Sempre são comemorados

Eventos municipais

E estaduais são lembrados

Tem também o Nacional

No Distrito Federal

E nos vinte e sete Estados.

Os nacionais são lembrados

A nível nacional

Dia 21 de Abril

No Distrito Federal

São lembrados dois mineiros

Grandes heróis brasileiros,

É feriado distrital.

Feriado nacional

Só em Novembro são três

Finados, Proclamação

E o negro também tem vez

O dia que Zumbi morreu

E o povo nunca esqueceu,

A Consciência se fez.

Feriado número três

Último a se comemorar

Dia da Consciência Negra

Lembrado em todo lugar,

Mas para quem não sabia

É lembrado em outro dia

No Estado do Ceará.

Não é por querer mudar

Nem quebrar a tradição

Pois também no Ceará

Houve muita escravidão

Mas do Império até agora

O Estado comemora

O dia a Abolição.

Pra não fazer confusão

Nem provocar escarcéu

Dia 25 de março

Registrado no papel,

Diferente do tratado

De abolição assinado

Pela Princesa Isabel.

A mulher teve um papel

Importante nesse dia

Pois as negras nordestinas

Pra ninguém se dobraria

Embora sendo escravas

Tinha a fama de ser bravas

E disso o branco sabia.

Assim como na Bahia

Com Felipa e Zeferina

No Piauí Esperança

Pois negra não se amofina

Vale a pena recordar,

Tia Simoa no Ceará

Também cumpriu sua sina.

Dessa negra nordestina

Não há nada a registrar

A quem ela pertenceu

Se nasceu no Ceará,

No litoral, no sertão,

Somente com a abolição

Dela se ouviu falar.

Só se pode registrar

Que ela era casada

Com um negro alforriado

Também ela alforriada,

José Luis Napoleão

O seu marido em questão

Provocou muita zuada.

Com a guerra declarada

Em prol da libertação

Seu marido, jangadeiro,

Fez a mobilização

Contra o transporte de escravo

E comandou, como um bravo,

Uma paralização.

O chefe da rebelião

No Estado do Ceará

Chico José Nascimento

Famoso Dragão do Mar

Outro negro alforriado

Jangadeiro apaixonado

Pela arte de pescar.

O negro Dragão do Mar

Junto com Napoleão

E a esposa, Tia Simoa,

Comandaram a rebelião

Para não deixar entrar

Fosse por terra ou por mar

Escravos na região.

Nessa paralização

Tia Simoa mobilizou

Grande número de pessoas

E isso muito ajudou

A libertar, com certeza,

E promover a defesa

Do negro trabalhador.

No Ceará se criou

Um movimento suspeito

Chamado epistemicídio

Onde tirava o direito

De negro ser registrado

Continuar escravizado

E em nada tirar proveito.

Esse fato contrafeito

Provocou rebelião

Trabalho feito por negro

Não render mais produção

E assim continuaram

Até que enfim declararam

A famosa abolição.

A Tia Simoa em questão

Passou o tempo esquecida,

Napoleão, o marido

Também é página perdida

Depois a preta voltou

A ser no interior

Lembrada e muito querida.

Por que ser tão esquecida

Nos relatos militantes

Se a Preta Simoa teve

Um papel impactante?

Hoje não ofusca nada,

É só uma luz apagada,

Mas antes foi ofuscante.

Esse raio tão brilhante

Faz parte da nossa história,

Se a sociedade omite

Toda sua trajetória,

Muitas negras aguerridas

Acharam muitas saídas

Pra o Brasil contar vitória.

No Cariri a história

Das negras continuou

O Grupo Pretas Simoas

Com coragem resgatou

Suas memórias e com isso

Vem causando reboliço

No povo do interior.

Muita gente já tentou

Com movimento sem glória

Defendendo a mulher negra

Mas nenhum contou vitória

Muitas delas nem sabia

Que no passado existia

Uma Tia Simoa na história.

Dessa forma a trajetória

Do Brasil vai se apagando

O passado se excluindo,

Tudo se modernizando

Ceifando nossas culturas

E as gerações futuras

Se americanizando.

Vai chegar um tempo, quando

Negros do nosso Brasil

Não sabem de onde vieram

Nem vai saber que existiu

Uma África escravizada

Que entre ferro e chibatada

Sua família surgiu.

Isso é falha do Brasil

Que peca por omissão

De nossa história que amputa

Nossa representação

Na redação mal contada

Toda estereotipada

Em contos sem duração.

Sempre há discriminação

Entre as histórias intensas,

Assim como a Tia Simoa,

Sempre houve essas dispensas

Negras são ignoradas

E invisibilizadas

Apesar das consequências.

Sem falar nas divergências

A começar da Bahia

Que o eixo Rio-São Paulo

Impõe sua soberania

E intolerância devida

Na abrangência conhecia

Por «Sudestinocracia.»

Só nas negras da Bahia

Ainda se houve falar,

Só há credibilidade

Do Espírito Santo pra lá;

As nordestinas são boas,

Principalmente as Simoas

Do Estado do Ceará.

Goiânia, 17 de Abril de 2022

SÉRIE ESCRAVIDÃO - VOLUME 25