AQUALTUME - A REPÚBLICA DE PALMARES

A escravidão no Brasil

Foi um fato inusitado

Quem era branco apoiava

Esse crime organizado

Que com suas diretrizes

Traziam de outros países

O humano escravizado.

Os negros capturados

Em pleno torrão natal

Presos a grossas correntes

Com a ajuda de Portugal

Vinham em navios negreiros

Vendidos aos brasileiros

Como se fosse animal.

Na África era normal

A luta entre guerreiros

De reinados diferentes

Combates interesseiros

Muitas vezes quem vencia

Os derrotados vendia

Aos traficantes negreiros.

Num combate entre guerreiros

Dos reinos de Congo e Jaga

A filha do rei do Congo

Defendendo sua plaga

Dez mil homens comandando

Viu seu povo se acabando

Deixando a equipe vaga.

Com uma derrota larga

O congo foi dizimado

Os guerreiros que sobraram

Foram aprisionados

Os mais fortes escolhidos

E para o Brasil vendidos

Para serem escravizados.

Com os aprisionados

No meio do sururu

A filha do rei do Congo,

Aqualtume Ezgondidu

Estava entre os penitentes

Presa por grossas correntes

Comendo ração de angu.

Aqualtume Ezgondidu

Uma princesa encantadora

Transportada no porão

Numa viagem opressora

Cuja lavoura era o alvo

Foi vendida em Porto Calvo

Para ser reprodutora.

Mesmo sem estar na lavoura

Mas na senzala dormia

Com um negro forte e sadio

Que o senhor escolhia

Pois era do seu intento

Vir daquele cruzamento

Uma criança sadia.

Mesmo assim ainda dormia

Com os escravos nas quilhas

Aqualtume ainda gerou

Dois filhos e algumas filhas

Que os negros mesmo cuidavam,

Era assim que aumentavam

Nas senzalas as famílias.

Sabina e outras filhas

Ali vieram nascer

Ganga Zumba e Ganazone

Filhos do seu bem querer

Que construíram seus lares

E na Serra dos Palmares

Vieram história fazer.

Veio Aqualtume saber

Do quilombo a história plena

Chamado de Angola Janga

«Minha Angola Pequena»

Que aqui chamavam palmares

Onde haviam muitos lares

De sua raça morena.

Aqualtume coordena

Uma fuga espetacular

Em direção a Palmares

Novos mocambos formar

Todos ali assentados

Formaram quase um Estado

Sem branco participar.

Ao se identificar

Como sendo uma princesa

Capturada no Congo

Negros sentiram firmeza

Tendo a nobreza aliada,

E ela passa a ser tratada

Como alguém da realeza.

Três mocambos, com certeza,

Vieram logo a criar

Ganga Zumba e Ganazone

Já trataram de casar

Perante os soberanos,

E os costumes africanos

Começaram a praticar.

Aqualtume a organizar

Com Ganga Zumba seu filho

Um governo democrático

Sem encontrar empecilho

Brocando e tombando terra

Implantaram em toda serra

Roças de algodão e milho.

Ganazone o outro filho

Também era um negro forte

Governava um dos mocambos

O maior do lado norte

Assim Palmares crescia

E Aqualtume geria

Com a ajuda da própria sorte.

Sabina foi a consorte

De um chefe por sua vez

Com meia dúzia de filhos

Zumbi, primeiro dos seis,

No momento em que nascia

Palmares se defendia

De um ataque holandês.

Mas Zumbi por sua vez

Nasceu forte igual Sansão

E com Andalaquituche

O caçula seu irmão

Tornou-se um grande guerreiro

Tendo sido o derradeiro

A comandar sua Nação.

Lá fora a escravidão

Continuava soberana

Cada vez mais traficavam

Negros da terra africana

Enchendo o Brasil de escravos

Submetidos aos bravos

Donos de engenhos de cana.

Mas a negrada africana

Logo logo descobriam

A existência de Palmares

E vez em quando fugiam

Sem poder cruzar os mares

Seguiam para Palmares

E os chefes acolhiam.

Em Palmares se sentiam

Todos livres, triunfantes,

Mesmo tendo hierarquia

De outros negros dominantes

Tudo ali se acomodava

E Palmares já contava

Cinquenta mil habitantes.

Palmares seguiu adiante

Como se fosse um Estado

Seus domínios se estendiam,

Mocambos pra todo lado

Aqualtume já velhinha

Mas com porte de rainha

Mantinha esse legado.

Ganga Zumba envenenado

Por ato de traição

Pois até mesmo em Palmares

Imperava a ambição

Disputas se promovendo

Terminou com Zumbi sendo

Último rei da Nação.

Consagrou sua união

Com Dandara, uma guerreira,

Enfrentou grandes batalhas

Ao lado da companheira

Aqualtume recolhida

Acompanhava a subida

Do neto em sua carreira.

A ganância interesseira

Do branco em seu ato vil

De destruir a Palmares

Que algum tempo resistiu;

Esse episódio consiste

Na página mais feia e triste

Da História do Brasil.

Todo quilombo se uniu

Fortemente a resistir

Aqualtume com sua filha

Sabrina, a mãe de Zumbi,

No mocambo resistindo

E o português invadindo

Foi a primeira a cair.

Negro sempre a resistir

Numa luta desigual

Durante dezoito anos

Lutando por um ideal

O quilombo defendendo

Terminou com Zumbi sendo

Vencido por Portugal.

Ao Brasil Colonial

Se atribui essa conquista

Com Domingos Jorge Velho

Passando a tropa em revista

Assumiu esse legado

Do quilombo derrotado

Por sua bandeira paulista.

Todo jornal e revista

Tem o feito registrado

Dia 20 de Novembro

Zumbi foi assassinado

Depois de muita contenda

Esse feito virou lenda

No Brasil é feriado.

Aqualtume em seu legado

Com os seus conhecimentos

E estratégias de guerra

Consolidou fundamentos

Com os seus familiares

Pra República de Palmares

No Século Mil e Seiscentos.

Miguel Calmom-BA, 23/05/2016

SÉRIE ESCRAVIDÃO - VOLUME 11

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 18/11/2022
Código do texto: T7653006
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