Jequitaí
A vida me faz refletir
O carinho que tenho por Jequitaí
Difícil esquecer o lugar onde nasci
E o pouco tempo que ali vivi
A Fazenda Pitombeira era o lugar
Que tanto insisto em relatar
As intensas lutas e pelejas
De uma vida árida, sertaneja
Cortando a minha alma
É impossível sair
( 1 )
Só o tempo acalma
O meu passado ali
A vida foi uma sina
Uma realidade Nordestina
Um conto, uma estória
Que jamais me sai da memória
Deus me inspira a proceder
As coisas do Sertão escrever
Talvez seja ironia do destino
Na vida de um menino
( 2 )
Nascido no Sertão Nordestino
Que do seu seio resolve sair
Que na juventude foi franzino
Mais depois cresce, desaparece
Toca a vida a seguir
Jamais se enobrece
Do Sertão nunca esquece
A cidade de Jequitaí
Jequitaí é como um torrão
Que meu deu inspiração
( 3 )
Mesmo distante daqui
Á descrever as coisas do Sertão
Partindo daqui ao estado do Maranhão
Entoando vidas áridas
Que se torna Semi - Árida
Contornando o destino
Do poeta Nordestino
Nascido nas caatingas
Da Fazenda Pitombeira
Vivendo a chuva que respinga
( 4 )
Nas cabeceiras do Córrego Grande
Onde a natureza se expande
E só se encerra
Quando deixo meu pé de serra
Mas insiste em viver em meu coração
Pois o retrato da sequidão
Só tem me dado iluminação
Em descrever o Sertão
A minha saída
Não foi uma triste partida
( 5 )
Entoando pelejas e lidas
Da caatinga retorcida
E faz o matuto jamais esquecer
O Sertão que o viu nascer
No meio dos carrascais
Vivendo os anais
Dos grandes tabuleiros
De grossos juazeiros
Os seus lindos pés de umbuzeiros
A história ainda emana
( 6 )
Um centenário pé de imburana
Contrastando as ribanceiras
Das mais lindas pitombeiras
Retratando o Sertão do São Francisco
Um emblemático pé de angico
No meio da vegetação agressiva
Ainda forte e viva
Com enormes mandacarus
Servindo de pousada de anus
E passagem de urubus
( 7 )
A vegetação se contrasta
No meio de Jequitaí
É a beleza que resgata
Com seu modo de agir
A essência morta
Trazendo a cultura de volta
Pra dentro do Sertão
Pois cultura só tem construção
Quando o espaço é lembrando
Na sua origem respeitado
( 8 )
Em meio à vegetação agressiva
A lembrança é cada vez mais viva
Misturando cabeças-de-frade
No meio dos xique-xiques
Mostrando a realidade
Que essa natureza fique
Junto com as palmas
Entoando as noites calmas
Das quebradas do Sertão
Traçando a vegetação
( 9 )
Com seus cipós e cansanção
Mourões e baraúnas
Percorre até as dunas
Que estão distantes daqui
E da cidade de Jequitaí
Não existe mais o auto-retrato
Do Vaqueiro pegando boi no mato
Nem aboiando no pé da serra
Entoando o Criador dessa Terra
Desafiando a caatinga
( 10 )
Entrando na mata fechada
E entortando uma ginga
É o destino do cabra
Que pega novilha braba
Se mete no espinheiro
Com seu cavalo é ligeiro
Veste todo aparato
Calça, guarda peito, perneira e gibão
Pra se livrar de unha-de-gato
É um ser humano simples
( 11 )
Um verdadeiro campeão
Atendendo os requintes
Dos perigos do Sertão
Minha origem em Jequitaí
Me faz ao mesmo tempo
Está aqui
E em todo lugar
É como o entoar do vento
Fazendo as coisas se espalhar
Isto nos dá uma menção
( 12 )
Que o Sertão é um só lugar
Quando menciono Jequitaí
Menciono o Sertão inteiro
Pois não existe Sertão
Sem falar de tabuleiro,
Forró, xote, baião
Tocado pelo sanfoneiro
Que na presença de um candeeiro
Encanta o mundo inteiro
Pois foi assim que vivi
( 13 )
Na cidade de Jequitaí
Lembranças de um pai sanfoneiro
Virando cordel em luzeiro
Se for falar do meu pé de serra
Faço cordel o dia inteiro
Sobre a boa lembrança
Que minha mente alcança
Jequitaí é a essência do Sertão
Pois defendo a tradição
Que é o berço de nossa cultura
( 14 )
Sinônimo de bravura
Do povo sertanejo
Que nesse ato de festejo
Desafora
Percorrendo mundo afora
Foi em Jequitaí que vivi “Vidas Secas”
No Nordeste de percas
Que o saudoso Graciliano Ramos
Cansou de escrever
O cenário dos danos
( 15 )
Da seca a proceder
Filho de pais primos
No Sertão afligimos
Com notícia, a saber,
Como uma família de 15 filhos
10 veio morrer
A vida segue os trilhos
No universo a proceder
A vida nos ensina e compõe
A vivermos sem pai e mãe
( 16 )
E traçarmos nosso destino
Como um Vaqueiro Nordestino
Saindo pelo mundo
Vivendo o universo profundo
Das regras do bom viver
Procurando a melhor forma
Que o universo entorna
Na forma de proceder
Só Deus sabe dizer
Pois se tratando de entendimento
( 17 )
ELE dá o verdadeiro conhecimento
No Sertão sem precedentes
Homens sobrevivem à secas tangentes
Que me diga nas bandas do Jequitaí
No Sertão onde vivi
Na década de 70
Famílias com filhos à penca
Sustentando a vida na roça
Preservando sua palhoça
Vidas Secas
( 18 )
É ter que conviver com a seca
E saber anos depois
Que uma vida simples a dois
Teve um final trágico
O mundo não é mágico
Quando falta o feijão e o arroz
Eram meados dos anos 70
Agente até esquece, tenta
Falando das secas tangentes
Matando animais e gente
( 19 )
A vida não me engana
Saber que a minha irmã mais velha
Nem completou um ano de idade
Sepultada próximo duma imburana
Da antiga casa velha
Era pura realidade
Das secas e doenças
Que atiçavam as diferenças
Assolando a sociedade
No Sertão Nordestino
( 20 )
Mas, a vida reconstrói e dá destino
Pois nasci muito franzino
Como um bebê prematuro
Sem o leito seguro
Retratando a sina daqui
Das bandas do Jequitaí
O povo e a medicina
Já me dava como morto
Minha mãe até hoje me fascina
Nunca me deu muito conforto
( 21 )
Mais enquanto viveu
Com sabedoria procedeu
Falo nesses versos meus
Que pediu auxílio a Deus
Pela ironia do destino
Fui curado pelo poder divino
Olho para cidade de Jequitaí
Vejo tudo diferente
Daquilo que vivi
Totalmente indiferente
( 22 )
Da realidade que nasceu aqui
Quando falava do progresso brilhante
Das lavras de diamantes
Era o ciclo do ouro
De um tempo vindouro
Da história do Brasil
Onde o Brasil inteiro viu
O bandeirantismo, coronelismo
Banditismo e cangaceirismo
Que só aumenta o neologismo
( 23 )
E a quantidade de ismos
Na cultura do Nordeste Brasileiro
Como as histórias de cangaceiro
Famoso ser bandoleiro
Minha origem em Jequitaí
Me fez viver e aprender
Que minha escola é o Sertão
Foi pela maneira de ser
Que o peguei como lição
Ele é meu aprendizado
( 24 )
Nesse cordel destacado
Ele me ensina ser ligeiro
Tendo visão do mundo inteiro
É dando um sinal
Que a literatura de cordel é universal
Foi em Jequitaí que ouvi histórias
Pelejas e glórias
Das perdas e vitórias
Do Sertão Bandoleiro
De jagunços e cangaceiros
( 25 )
Com a vida totalmente corrompida
Por ter a família perseguida
Devido aos desmandos da vida
Ao qual rebato nesse cordel
A audácia de um coronel
Jequitaí é onde o coronelismo impera
Onde a comunidade se intera
Na luta pela terra
Sem causar pé de guerra
A quem diga os Trabalhadores Sem Terra
( 26 )
Jequitaí dos trechos de passagem
Dando lugar a uma Barragem
Espero que não haja camaradagem
Muitos menos malandragem
Pois sou nascido no Sertão
Odeio corrupção
Detesto obstrução
Em benefício dos mais fortes
Prejudicando os mais fracos
Nesse cordel que faço
( 27 )
Defendendo o matuto do norte
Antes de tudo
O sertanejo é um forte
Já tem o tipo raçudo
Pra enfrentar bicho grande
Na caatinga se expande
Como se fosse um rato
Sai na mata correndo
Pegando boi no mato
Quase escurecendo
( 28 )
Isto me faz pensar em Jequitaí
Preservando os costumes daqui
Que na cultura associamos
E destacamos a cultura do Sertão
Juntando feira com Sarau
Tem manifestação cultural
Onde a cultura não faz acepção
Muito menos envolve religião
Só integra as pessoas
Promovendo coisas boas
( 29 )
Valorizando a educação
Escrevo sobre Jequitaí
Como uma forma de resgatar
A cultura do lugar
Do Sertão onde nasci
Cultura que ultrapassa as festas
Envolve o comportamento do cidadão
Traçando em linhas retas
A liberdade de expressão
De opiniões concretas
( 30 )
Sem fazer abstração
Esse cordel termina aqui
E tem sua titulação
Por nome Jequitaí
Descrevendo o Sertão
Muito além daqui
Escolhi esse título
Produzindo cordel escrito
Para simplesmente dizer
Que o lugar que me viu nascer
( 31 )
É motivo e inspiração
Pra descrever as coisas do Sertão
Seja aqui, seja em qualquer lugar
Seja a velha infância
Perdida nos tempos de criança
O Sertão ainda é algo a encantar
Com os contos históricos
Contados por um poeta
Só deixa de ser melancólico
Quando ele atinge a sua meta
( 32 )
Autor: Moisés Aboiador - Poeta de Literatura de Cordel (Jequitaí no Norte de Minas )