DANDARA - A RAINHA DE PALMARES
Do tempo da escravidao
Hoje só resta a história
Distorcida, mal contada,
Quase sempre sem vitória
Muitas coisas esqueceram
Mas outras permaneceram
Vivas em nossa memória.
Desse periodo da história
Resta a herança racial
A cor mulata que é nossa
E hoje é status social
Culinária, tradição
Mitos, crença, religião
E o produto artesanal.
O povo cultiva mal
A memória da senzala
Muitos falam de capoeira
De candomblé, de cabala
Palmares sempre é lembrado
Zumbi é bem comentado
Mas Dandara,ninguém fala.
Mas eu pretendo lembrá-la
Em poesia de cordel
Pois como bom saudosista
Ao passado eu sou fiel,
De escrever não tenho pressa,
Mas quando o tema interessa
Meu verso chega a tropéu.
Sem fazer muito escarcéu
Quero falar de Dandara
Considerada entre os negros
Como uma jóia rara
Que lutou mais o marido
Por direito adquirido,
Vendeu sua vida cara.
Foi mais uma jóia rara
Do tempo da escravidão
Como Anastãcia, Aqualtume
Que mereceram menção
No cenário brasileiro,
Desde os navios negreiros
Até a abolição.
Dandara na escravidão
Foi valente, foi guerreira
No Quilombo dos Palmares
Ela foi sempre a primeira
Ao lado do seu marido
Zumbi, o rei mais querido
De toda nação negreira.
Esposa e mãe verdadeira
Três filhos na escravidão
Motunbo, Aristogiton
E Armódio, outro varão
Todos filhos brasileiros
Nascidos no cativeiro
No ferro e na servidão.
Nagô-jejê a nação
Cultura rica na crença
Religião muçulmana
Bem dotada da ciencia
Cuidando bem na familia
No quilombo em qualquer trilha
Ela tinha experiencia.
Não se sabe a procedência
De onde ela surgiu
Se veio escrava da África
Ou se nasceu no Brasil
Seu local de nascimento
Ficou no esquecimento
Pois nunca se descobriu.
Mas Dandara conseguiu
Ser uma grande guerreira
No século dezessete
Foi vista a vez primeira
Lutando com sua gente
Sendo ela a mas valente
Pois na luta era ligeira.
Com Zumbi formou fileira
Nas estratégias de guerra
Foi uma das lideranças
No tabuleiro ou na serra
Era sua objeção
Morrer pela salvação
Do povo de sua terra.
Suas táticas de guerra
È que chamavam atenção
Pois ainda quase menina
Na primeira rebelião
Ela já se destacava
Entre os negros que lutavam
Contra a escravidão.
Cansados da servidão
Formou-se a grande intriga
E em diversas fazendas
Os negros partem pra briga
Fogem de vários lugares
Pra o Quilombo dos Palmares
Lá na Serra da Barriga.
Ainda há quem consiga
Visitar esses locais
No Estado de Alagoas
Ainda existem sinais
De cova, de pau queimado
Tudo muito conservado
Segundo consta os anais.
Nos tempos coloniais
Dandara, quase menina,
Estava com Ganga Zumba
Como líder feminina
Lutava descomedida
Junto á então conhecida
Resistência Palmarina.
Como líder feminina
Ela se indispôs de vez
Com o chefe do quilombo
E o apoio se desfez
Quando Ganga Zumba faz
O seu tratado de paz
Com o governo português.
Ela era o número três
Mais Ganga Zumba e Zumbi
Depois com o seu marido
Resolveram resistir
Pois o pacto de união
Era a volta à escravidão
E o quilombo sucumbir.
Sempre ao lado de Zumbi
Lutavam em igualdade
Com as milícias portuguesas
Que exerciam autoridade
Aos combates resistindo
E na luta perseguindo
O ideal de liberdade.
Foram ganhando cidade
Muitas batalhas vencendo
Até perto do Recife
E os portugueses perdendo
Uns conseguiam correr
Outros para não morrer
Terminavam se rendendo.
E o quilombo se estendendo
Formando novas cidades
De atacar o Recife
Dandara sentiu vontade
Mais ao falar com Zumbi
Ela a obriga a desistir
Achando disparidade.
Para ela, na verdade
Aquilo era o ideal
Pois a troca dos Palmares
Pelo Vale do Cacau
Seria a destruição
A volta à escravidão
Para os negros era o mal.
Enfim vence Portugal
Entrando em cada reduto
Do Quilombo dos Palmares
Com o intuito resoluto
De acabar com Zumbi
E implantar por ali
O regime absoluto.
E foi com salvo conduto
Que Domingos Jorge veio
Queima a cerca dos Macacos
O espernegue foi feito
Entre incêndio e confusão
Negros mortos pelo chão
Zumbi ferido no meio.
Outro mocambo interveio
E o ajuda a fugir
Muito embora baleado
Consegue sair dali
Mas entre a perseguição
Cometem uma traição
E assassinaram Zumbi.
E começa o ti-ti-ti
Fofoca pra todo lado
Dia 20 de novembro
Zumbi foi assassinado
Também mataram Dandara
Queimada numa coivara
Com outros negros queimados.
Também ficou registrado
Que ela se suicidara
Saltando de serra abaixo
Numa situação rara
Depois que Zumbi morreu
Enfim, muito se escreveu
Sobre a morte de Dandara.
Outro registro ficara
E este o mais sensato
Dia 6 de fevereiro
No ano noventa e quatro
Do século mil e seiscentos
Está escrito em documentos,
Dandara morre de fato.
Foi este o último ato
Já escrito em prosa e verso
Dessa rainha guerreira
Que reinou num universo
De escravidão e amargura
De batalha e de bravura
De um período controverso.
Hoje, depois que o progresso
Fez o povo evoluir
Parece que o preconceito
Ainda impera por aqui
Nem em situação rara
Se fala mais em Dandara,
Só reconhecem Zumbi.
Não adianta insistir
Em valorizar mulher
Dandara, Maria Bonita
Que tiveram seu mister
Ficaram lá no passado,
Só os maridos são lembrados
Do jeito que a mídia quer.
No Brasil hoje a mulher
Conseguiu fazer sucesso
Mais não vou me aprofundar
Que esse assunto é controverso,
Se estiver certa ou errada
O problema é da alçada
Que só compete ao Congresso.
Eu escrevi estes versos
Sobre a história brasileira
Em louvor a outra Dandara
Mais linda do que a primeira
Não viveu na escravidão
Nunca fez revolução
Mas também é uma guerreira.
A Dandara Virgínia Machado
de Cuité-Paraiba
Belo Horizonte, 08 11 2013
SÉRIE ESCRAVIDÃO - VOLUME 9