ZUMBI DOS PALMARES
Brasil foi terra de reis
Pelo povo nomeado
Quando existia pureza
Era rei pra todo lado
Que dos tempos de bonanza
Hoje só resta lembrança,
Mas faz parte do passado.
Mesmo sem ser um reinado
Mas um rei sempre existia
Rei do baião foi Gonzaga
Nelson Gonçalves, da orgia
Do futebol foi Pelé
Rei do drible foi Mané
Que nos deu muita alegria.
Um ou outro rei havia,
Da bossa nova Jobim
Rei da voz, Orlando Silva
Pois o povo quis assim
Roberto, da jovem guarda
Caetano, da vanguarda
Era rei a não ter fim.
Em versos estou afim
De utilizar meus falares
Pra falar de outro rei
Conhecido em todos lares
Que apesar dos tempos
Jamais será esquecido,
Zumbi, o Rei dos Palmares.
Tudo começou nos mares
Com grandes navios negreiros
Trazendo negros da África
Escravos, prisioneiros,
Em regime sub humano
Vindos do solo africano
Pra servir aos brasileiros.
Esses navios negreiros
Atravessavam o mar
Trazendo reis e vassalos
Capturados por lá
Não importava a posição
Pois aqui, na escravidão.
Morriam de trabalhar.
Num porão com água do mar
De uma embarcação sem nome
Vinha a rainha Aqualtume
Enfraquecida de fome
No Ccngo capturada
Tinha sido escravizada
Pra servir a brancos homens.
Os seus filhos, Ganazone
Ganga Zumba e suas filhas
Vinham no mesmo porão
Acorrentados nas quilhas
Aqui fugiram pros matos
Se aquilombaram em planaltos
Que haviam nas redondilhas.
Seus filhos e suas filhas
Fugiram da escravidão
Com eles acompanhava
Uma grande multidão
Sem poder cruzar os mares
Se aquilombaram em Palmares
Formando uma nova nação.
Ganga Zumba era o mandão
Por todos considerados
Por ser um príncipe na África
Aqui era respeitado
O quilombo comandava
Apesar que sempre estava
Constantemente atacado.
O Brasil sendo tomado
Por uma nação estrangeira
Com isso desorganiza
A indústria açucareira
E enquanto se defendiam
Muitos escravos fugiam
Praquela nação negreira.
A invasão estrangeira
Depois de tudo ocupar
Mil seiscentos e trinta
Resolve se organizar
Prepara seu esquadrão
Para a difícil missão
De Palmares atacar.
Mas nunca chegaram lá
Falharam em sua missão
No ano quarenta e quatro
Há uma nova invasão
Novamente fracassaram
E seus domínios fraquejaram
Também em nossa Nação.
Entre briga, confusão
E torturas similares
A invasão holandesa
Parte para outros mares
Abandonando sue plano
E somente após um ano
Nasce Zumbi dos Palmares.
Já por diversos lugares
O quilombo se estendia
Quanto mais fugia escravo
Mais um mocambo nascia
Vindos de todo Brasil
E já trinta e cinco mil
Quilombolas existia.
Zumbi tranquilo vivia
Correndo pra todo lado
Mas aos seis anos de idade
Ele foi capturado
Por um negro mercenário
E vendido a um missionário
Do quilombo foi levado.
Por «Francisco» batizado
Recebeu os sacramentos
Aprendeu o Português,
Latim, os Dez Mandamentos
Rezava a Bíblia inteirinha
Virou até coroinha
Na missa e outros eventos.
Mas todos ensinamentos
E religiosidade
Não permitiam-lhe viver
Com os outros em sociedade
Isso muito o revoltava
Pois nunca se misturava
Com os jovens da cidade.
Aos quinze anos de idade
Da igreja escapuliu
E no rumo do quilombo
Pelo matagal sumiu
Deixando atrás o impasse
Por mais que o procurassem,
Ninguém sabe, ninguém viu.
No quilombo ressurgiu
Ora aqui, ora ali
«Quem era aquele moleque?»
Haja negro a perseguir
Por surgir assim do nada
Como uma alma penada
Foi chamado de Zumbi.
Até então descobrir
Que tinha sangue real
Era neto de Aqualtume
Do quilombo principal
Estava no mato escondido
Porque havia fugido
Da casa paroquial.
Fugiu para o matagal
Por sentir-se prisioneiro
Foi morar com Ganga Zumba
Que era seu tio primeiro
Quando os brancos atacava
Ele aos negros ajudava
Tornou-se um grande guerreiro.
Chegou a ser o primeiro
No combate à escravidão
Logo conheceu Dandara
Rainha da perfeição
No quilombo se casaram
Daí pra frente formaram
Uma feliz união.
Saúde e disposição
Sobravam naqueles dois
Na luta por seus direitos
Aquele casal se impôs
Na guerra eram destemidos
e estavam sempre unidos
Que nem feijão com arroz.
Vinte e um ano depois
Que Zumbi tinha nascido
Houveram lutas internas
Muitos mortos e feridos
Ganga Zumba assassinado
E pra assumir o reinado
Zumbi foi o escolhido.
Passou a ser perseguido
No tabuleiro ou na serra
Com Dandara ele armava
Suas estratégias de guerra
Era sua objeção
Morrer pela salvação
Do povo de sua terra.
Sua táticas de guerra
É que chamavam atenção
Não só dentro do quilombo
Mas em toda região
Pois fazendas invadia
E as senzalas abria
Libertando a escravidão.
Toda sua objeção
Contra o tratado de paz
Que Ganga Zumba queria
E que ele deixou pra traz
É que o governo queria
Dar ao quilombo alforria
Deixando escravo os demais.
Todo aquele leva e traz
Para sua opinião
Que o governo forjava
Através de traição
Ou gabolice pachola
Era levar os quilombolas
De volta a escravidão.
Porém Zumbi disse não
Junto com seus aliados
Formando uma dissidência
Que deu em confronto armado
Terminando num motim
No que resultou por fim
Ganga Zumba assassinado.
Agora determinado
Começou a reforçar
A região dos Palmares
Com Dandara a comandar
E os portugueses cedendo
Foram o quilombo estendendo
Até bem perto do mar.
Todos mocambos de lá
Também foram reforçados
Com paliçadas gigantes
E com negros bem armados
Nunca imaginariam
Que isso tudo os levaria
A um péssimo resultado.
Os reforços fabricados
Que aos mocambos protegia
Eram feitos de madeira
Que tão logo secaria
E se acabavam sem rogo;
Por um ataque com fogo
Tudo aquilo queimaria.
O governo já sabia
Que isso ia acontecer
E Domingos Jorge Velho
Veio com esse proceder
Para um ataque final
Sabendo que Portugal
Dessa vez ia vencer.
Começou a aparecer
Fogo em diversos lugares
Foram adentrando aos poucos
Com estratégias similares
Brasileiro e português
Até incendiar de vez
O Quilombo dos Palmares.
Fogo em todos os lugares
Não tinham pra onde correr
Pânico generalizado
E haja negro a morrer
Zumbi também se feriu
Mas ainda escapuliu
E conseguiu se esconder.
Mas o ataque pra valer
Ninguém podia se safar
Zumbi ainda foi traído
Por um negro a escapar
Que usou de subterfúgio
Entregar o seu refúgio
Pra sua pele salvar.
Conseguiram encontrar
Por causa da traição
Foi capturado vivo
Sem esboçar reação
Pois já estava combatido
Devido ter se ferido
Na hora da queimação.
Por ordem do capitão
Que a tropa comandava
Cortaram sua cabeça
Mesmo vivo como estava
O comandante assistia
E toda a tropa sorria
Enquanto outros salgava.
O comandante ainda dava
Ordem para decepar
Também o pênis do negro
E no momento salgar
E ali, depois que salgasse,
Na boca o colocasse
Para um presente ele dar.
Terminaram de salgar
Do jeito que ele mandou
A cabeça com o pênis
Colocaram num tambor
Vedaram com cera quente
Depois levaram o presente
Para o governador.
Depois o Imperador
Ainda mandou premiar
Dando cincoenta mil réis
Ao capitão por matar
Zumbi com a sua gente
E, definitivamente
O quilombo aniquilar.
Depois mandaram postar
A cabeça como estava
Num poste para ser visto
Por quem não acreditava
Que Zumbi não morreria
E que ainda resistia
A todos que o atacava.
O calendário marcava
Zumbi foi assassinado
Dia vinte de novembro
E o quilombo destroçado
Noventa e cinco era o ano
No Brasil, depois de um plano,
Esse dia é feriado.
Diferente do passado
A nossa imensa Nação
Hoje não tem nenhum fato
Que mereça essa menção,
Se há algo a ser registrado
Só se for pra ser chamado
O Rei da Corrupção.
Não quero fazer menção
A este tema cruel
Pra não distorcer a história
Que coloquei no papel
Sobre um herói do passado,
Está o assunto registrado
E pronto mais um cordel.
São Luíz,23/11/2013.
SÉRIE ESCRAVIDÃO - VOLUME 7