ZACIMBA GABA - UMA PRINCESA GUERREIRA

O Brasil não cresceria

Se não fosse a esacravidão

Mas continuou egoista

Depois da abolição

Quinhentos e vinte anos

Preconceitos desumanos

E com discriminação.

Não existe uma razão

Para tanta soberbia

Cota pra isso, praquilo

Se o branco é minoria

Pois é notório e patente

Que o afro-descendente

Hoje é grande maioria.

Se separação havia

Hoje em nosso território

Separando oriental

Afro e mestiço é notório

Real, patético e franco

Que a minoria do branco

Sería um tanto irrisório.

Esse comentário inglório

Não está sendo patente

Pois minha literatura

Não usa esse ambiente.

Quero voltar ao passado

De negros escravizados

Do Brasil de antigamente.

Já falei em tanta gente

Vítimas da escravidão

Que foi estudado outrora

Mas não sei porque razão

As escolas não propalam

E hoje muito pouco falam

Do tempo da escravidão.

Região a região

Por este imenso Brasil

Muitos negros resistiram

Contra o infame poderío

Muitos heróis e heroínas

Que marcaram suas sinas

E lutando sucumbiram.

Muitos até reagiram

Contra a própria Natureza

No Estado do Espírito Santo

Entre batalha e defesa

Ficou muito conhecida

A saga descomedida

De uma bela princesa.

Bonita por Natureza

Com porte de soberana

Zacimba Gaba nasceu

Em uma nação africana

Era uma princesa linda

Da província de Cabinda

Na região angolana.

Essa negra soberana

Descrita neste cordel

Era uma negra valente

Que provocou escarcéu

Até onde o Céu desaba,

Chamada ZACIMBA GABA

Na braçada ou no tropel

Zacimba, sempre fiel

À sua nação soberana

Segundo alguns escritos

Foi uma princesa angolana

Que lá foi capturada

Para o Brasil Transportada

De forma bem desumana.

Para o trabalho da cana

No Espírito Santo vendida

E por ser muito valente

Era sempre perseguida,

Se um branco se aproximasse

E acaso nela tocasse

Reagia com mordida.

Dedicou a sua vida

A resgatar seus irmãos

Pouco depois de vendida

Provocou destruição

Na senzala residente

E fugiu com um contingente

Pelas matas do sertão.

Envenenou o patrão,

O senhor que lhe comprou

Com um veneno que chamavam

«Pó pra amansar sinhô»

Preparado às escondidas,

Cobra torrada e moída

Que dos ancestrais herdou.

Pouco a pouco seu senhor

Já foi perdendo potência

Com a comida envenenada

Em sua própria residência

Enquanto Zacimba agía

E seu povo protegia

Do branco e sua prepotência.

Quando do branco a falência

Vital ficou comprovada

Incendiaram a senzala

E fugiram em disparada

Com Zacimba no comando

Conhecida entre o bando

Como princesa adorada.

Em uma serra escarpada

Um quilombo projetou

Local de difícil acesso

Onde o branco nunca ousou

Do local se aproximar

E tratou de refugiar

Todos que a acompanhou.

Quando água localizou

Fez ali o seu reinado

Com grandes pedras moía

Cana e milho roubados.

Com caça sobreviviam,

Quem com ela residiam

Se sentiam abrigados.

Fazendas naqueles lados

Todas elas saqueava

Usando as sombras da noite

Os vigilantes matava

Sem nenhuma agitação

Libertava seus irmãos

E as senzalas queimava.

Para o quilombo os levava

Junto com seus comandados

Os que estivessem doentes

Também eram carregados

Quanto mais tempo passava

Mais seu quilombo aumentava

Mais crescia o seu reinado.

O Império naqueles lados

Já estava sem ação

Tanta senzala queimada

E nenhuma punição

Desconheciam o roteiro

Do quilombo e o paradeiro

Da tal rainha em questão.

Navios em seu porão

Continuavam lotados

De negros vindos da África

Para serem escravizados

Aquilo a incomodava

E a cada dia sonhava

Vê-los todos libertados.

Chamou alguns comandados

Começou a abater

Árvores de grande porte

Para com elas fazer

Grandes canoas talhadas

Que pudessem ser usadas

Conforme o seu proceder.

Gaba queria defender

Seus irmãos apreendidos

Ainda dentro dos navios

Antes de serem vendidos

Com o seu povo assaltava

Os escravos libertava

Deixando os brancos rendidos.

Tantos assaltos seguidos

Dobrou-se a perseguição

Mas quanto mas perseguida

Aumentava sua ação

Os negros recém chegados

Eram logo alimentados

Pela organização.

Aumentava a construção

De canoas no quilombo

Às margens do Riacho Doce

Deixando maior o rombo

Nas senzalas capixabas

Enquanto Zacimba Gaba

Provocava grande tombo.

A cada dia o quilombo

Que Zacimba governava

Qualquer uma embarcação

Que surgisse ela assaltava

Por esses ataques seus

No Porto de São Mateus

Navio não mais aportava.

Foi enquanto ela assaltava

A carga de um navio

Que durante o contra ataque

Zacimba perdeu o fio

Da batalha ou da meada

Tendo sido baleada

E ali mesmo sucumbiu.

Ninguém sabe, ninguém viu

Como foi que ela morreu

Num assalto em noite escura

Um balaço recebeu

Do navio em disparada

Caiu desequilibrada

No mar desapareceu.

Com ela também morreu

Parte dos seus comandados

Com seu quilombo invadido

Os negros escravizados

Voltando aos donos seus

E o Porto de São Mateus

De novo movimentado.

Num resumo detalhado

Zacimba princesa linda

Capturada em Angola

Na região de Cabinda

No Espírito Santo vendida

Pelo patrão perseguida

Tortura imensa e infinda.

Da saída de Cabinda

Até ser escravizada

Sofreu diversos castigos

Foi muito violentada

Na Fazenda do Trancoso

Por um dono poderoso

Que a mantinha encarcerada.

Depois ela foi levada

Para a sede da fazenda

E envenenou o seu dono

Que foi perdendo a contenda

E teve a oportunidade

De sonhar com a liberdade

E começou a reprimenda.

Do soneto pra emenda

Zacimba Gaba existiu

Sua história é verdadeira

Essa escrava resistiu

Até desaparecer,

E eu acabei de escrever

Mais um «Coisas do Brasil».

São Mamede-PB, 03 de Fevereiro de 2021

SÉRIE ESCRAVIDÃO - VOLUME 3

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 17/11/2022
Código do texto: T7652239
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.