Ser tão lindo, sertão
Eu sou filho do sertão
E bravura é meu nome
Já fiz poesia com fome
Faço da sede oração
Andei com a lapa no chão
Sem importar com espinho
Fugir da seca sozinho
Sou arretado e resistente
Teimoso e resiliente
Igual cactos no caminho .
Eu sou um verde cacto
Que a seca não matou
Nos espinhos e sou a flor
Comigo Deus fez um pacto
Sou das brenhas lá do mato
Caboclo da catingueira
Água de poço barreia
Do sertão sobrevivente
Eu sou a última semente
Da moita da ingazeira.
Na hora da ave Maria
Papai da roça chegava
Enquanto seus pés banhava
Em uma velha bacia
Mamãe o dicumê servia
Fazendo a multiplicação
Era farinha e feijão
E carne de codorniz
E a meninada feliz
Jantando ao pé do fogão.
Lá em casa depois de comer
Todo mundo se benzia
A benção aos dois pedia
Ia pro terreiro a correr
Se começasse a chover
Tomava banho de biqueira
Depois deitava na esteira
Ouvindo sapos na lagoa
Eita que lembrança boa
Que guardo pra vida inteira.
La no meu sertão bem cedo
Era certa a caminhada
Cada um com sua enxada
Da roça não tinha medo
Fazia calo no dedo
Também o sol castigava
A gente só trabalhava
E era esse o destino
O sertanejo menino
Tinha sonho e não sonhava.
Mas o sertão tá diferente
Cabra não aguenta arrocho
Um monte de menino frouxo
Se der uma de valente
Começa a ficar doente
Pode estudar e não estuda
É uma mania absurda
Trocou Gonzagão por Alock
Rebola no TikTok
Não trabalha e nem ajuda.