O DESABAFO DE ZUMBI DOS PALMARES

 

Sou o Zumbi dos Palmares!

Como o Moisés: fui libertador!

Mandei a opressão pelos ares

Com a minha garra de lutador!

Doei aos escravos novos ares:

De uma vida digna de senhor!

 

Declarei guerra à vil escravidão:

Levantei a bandeira da liberdade!

Plantei um oásis dentro da nação,

Em meio a tanta dor e crueldade!

E milhares de negros fiz cidadão:

Dando-lhes moradia e dignidade!

 

Ao invés do silêncio da omissão,

Declarei guerra à vil escravidão!

Queria que o negro fosse cidadão,

Ao invés de uma peça do casarão!

Um simples objeto de exploração:

De compra e venda no mercadão!

 

Ganga Zumba adere o governador.

E aceita pacífico a sua deliberação.

Deixou de atacar ao vosso senhor,

Por temer sua própria destruição!

Vestiu a capa de bom apaziguador,

E jogou a toalha ante a escravidão!

 

Diante de tanta miséria e pobreza,

E de muita “gentalha” explorada.

Milhões não têm comida na mesa:

Vivem como a ovelha desgarrada

Chamando o filé de vossa alteza.

Pois é nega pobre desempregada!

 

O Brasil é um país muito ordeiro:

Quem se erguer contra é fuzilado!

Que o diga: Zumbi e Conselheiro:

Foram como Lampião: decapitados!

Hoje assistimos o genocídio inteiro:

De um negro ignorante e favelado!

 

Negro fugitivo era o mocambeiro,

Que se libertava daquele cativeiro.

Vivia como um “gado” bandoleiro...

Que não obedece nenhum vaqueiro!

Zumbi era o seu grande guerreiro:

Que em terras brasis, o justiceiro!

 

Mocambos, quilombos e favelados?

O seu “significado” é sempre igual:

É a moradia de negros explorados...

Apelidados de bandidos e marginal,

Que vivem nos barracos, agregados,

Amedrontados com a visita policial!

 

O quilombola agora virou favelado:

Que viaja num coletivo apertadinho!

Tem medo de ser pela PM autuado...

Enquanto vai para o seu trabalhinho!

Ganha o seu pão de cada dia suado,

Que mal compra o leite do bacorinho!

 

A desigualdade é o nosso pelourinho:

E o bacalhau nos açoita na pobreza!

A senzala na favela é o nosso ninho.

E a feijoada é o prato de nossa mesa!

Viajamos no transporte apertadinho...

E se protestar cai no pau com certeza!

 

O negro está entregue ao Deus-dará,

Pois, morro não é visto por ninguém!

Se a polícia sobe o morro é pra matar:

“O bandido bom é bandido no além”!

A Lei Áurea só serviu para disfarçar.

E diante da exploração dizer: amém!

 

Enquanto estiver um negro oprimido:

Bem preso no tronco desta pobreza?

Toda nossa bonança não fará sentido,

Pois, o homem do homem virou presa!

Mesmo que carnaval faça um alarido?

Nossa alegria será falsa com certeza!

 

Favelado não tem Zumbi de Palmares,

Que lhe possa defender da exploração!

É chamado de bandido pelos populares,

Que merece ser morto por vil fuzilação!

Apesar de habitar barracos como lares:

   É “obrigado” a votar em toda a eleição!

 

DO LIVRO: 

SE JESUS CRISTO VIESSE HOJE NO BRASIL 

                                                   BIRCK JUNIOR 

 

Birck Junior
Enviado por Birck Junior em 15/11/2022
Reeditado em 19/11/2022
Código do texto: T7650702
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