GUILHERME DE PÁDUA NO INFERNO
Guilherme de Pádua no Inferno
Miguezim de Princesa
I
Me contou o velho Chimba,
Num sonho de madrugada,
Que o Guilherme de Pádua
Se foi na noite passada
Direto para o Inferno,
Bem depois da encruzilhada.
II
Ele morreu de infarto,
No quarto da solidão:
Sentiu uma dor no peito
E lembrou que, sem razão,
Matou Daniela Perez
Com golpes no coração.
III
Quando chegou nas profundas,
Ficou no meio de um monturo,
Quando o Cão Nezim Gambá
Chegou com um cacete duro
E deu-lhe uma peia sem pena
Numa moita atrás do muro.
IV
O irmão de Parafuso
Fez a Canguinha uma proposta
De dar a ele um castigo
Além da peia nas costas:
Deixá-lo até o pescoço
Dentro de um tonel de bosta.
V
Isaura do Calçolão
Chegou para reforçar
Que, além do tonel de bosta,
Alguém fosse ameaçar
Guilherme com uma espada,
Para ele se abaixar.
VI
Pra não perder o pescoço,
Ele tinha de se afundar
De cabeça no tonel
E, pra poder respirar,
Botava a cabeça fora
E tornava a mergulhar.
VII
Nisso chegou Zefa Troncha,
Ao lado do Cão Safado:
- Atire a primeira pedra
Quem não cometeu pecado!
Deem-lhe o esquecimento eterno,
O castigo mais bem dado.
VIII
- Deixem que ele vagueie
Sozinho pela estrada,
Sem ninguém pra conversar,
Sem destino e sem pousada,
Esqueçam que ele existiu,
Vingança não leva a nada.