Janela
Debruçada na janela
já quase de noitinha
vi o meu amor Passar.
Me jogou de longe um beijo
e foi tanto o meu desejo,
comecei logo a chorar.
Vivo presa no casebre
qual bichinho judiado.
Não posso sentir a brisa
que corre bem do meu lado.
A janela é o meu cantinho.
É o meu olhar pro mundo.
DE lá assisto assustada
o homem em disparada
levando uma carga pesada
no ombro já quase doente.
Da janela assisto também,
o vôo da passarada,
voando desembestada
buscando notícia de alguém.
Alguém que se foi faz tempo
agarrado nas asas do vento
não sabe notícia mandar.
E da janela eu acompanho
a dor já muito doída
daquela gente sofrida
que a vida lhe bate tanto.
Mas, como um bálsamo bendito,
surgi no céu um aviso,
um alento pra tanta dor.
O vento desmancha uma núvem,
fazendo um enorme desenho
do rosto de Nosso Senhor.