O DIARIO DA VACA NEGRINHA

Em uma tarde de frio

Com coragem e muito brio

Minha mãe, de-me à luz

Envernada montanhosa

Eu, contente e saltitante!

Procurava alimentar-me

Naquele úbere matriz.

Felizmente, no mundo animal

Não existe preconceito

E eu, sentindo-me a tal

Seria a mais feliz!

Mesmo sendo bem negrinha

Mas, saudável e espertinha...

Uma " cabeça " à mais

Assim dizem os " tais "

Que só querem enrriquecer

Fui crescendo...Fui crescendo...

- Que novilha bonita!

Ouví o patrão dizer...

E o tempo foi passando

Junto àquela manada

Eu fui permanecendo

Um dia como toda novilha

Também sentí-me atraída

Por um bom reprodutor

Sentí a vida mudando

Adulta eu fui ficando

Até que prenha, fiquei

Tentando me espelhar

Nos bons exemplos de mamãe

Carinhosa e responsável

Boa mamãe me tornei

Uma cria...duas...três

À se perder as contagens

Naquelas verdes pastagens

Sentí que envelhecí

Na minha última cria

Esqueceram-se de mim

Meu filhote bem crescido

Sugou-me até o fim!

Um dia, o meu patrão

Acordou então pra vida

Viu-me muito abatida

E levou então meu filho

Pois ja comia capim

Era tarde infelismente!

Essa tal humanidade

Vive na comodidade

Nos prazeres eloqüentes

Comecei então me lembrar

Quando lucro eu tinha pra dar

Olhavam-me com atenção

Quantas crianças alimentei!

Quantos queijos eu lhes dei!

Enrriquecendo as refeiçoes

Hoje, assim tão abatida!

Sentí-me então perdida

Nada mais tenho pra dar!

Solidariedade recíproca? Não!

-Essa aí, nessa fraqueza

Nem vale à pena gastar

Ao ouvir essas palavras

Então compreedí,

Eu tinha que ser bem forte!

Aquí, começa o meu fim!

Separaram-me das outras

E,eu fui continuando...

Certo dia uma vizinha

Aproximou-se de mim

Brincando, empurrou-me com os chifres

Eu fui cambaleando

Com minha fraqueza, caí

Foi então que eu sentí

Que não mais levantaria

Passaram-se alguns dias

E eu, nunca mais comí

Sentí sede, sentí dores

Sentí no couro,os horrores

De um animal envelhecido

Até que certa manhã...

Um funcionário piedoso...

Talvez tenha sido meu fã...

Dizia em vóz muito baixa

-Onde é que está o machado?

No sofrimento dela vou por fim!

Reuní as minhas forças

E esperei o meu fim

Cada um tem um destino...

E o meu...

Estava escrito assim!