UMA MULHER QUE NÃO SE CANSA DE VIVER

MARIA ERCIDOLE

DANTAS DE MEDEIROS

A mulher que não se cansa de viver

Lucarocas a Arte de Ser

A natureza divina

Com poder celestial

Fez nascer uma menina

De beleza sem igual

Quando Deus lhe pôs a mão

Pra ser lume no sertão

Um ser tão angelical.

E sem deixar pra depois

Bem antes de o sol posto

No ano de trinta e dois

Em pleno mês de agosto

Deus então escolheria

Vinte e quatro como dia

De fazer tudo com gosto.

E entre os verdes das plantas

No Rio Grande do Norte

Nascia Ercidole Dantas

Num lume de muita sorte

E qual presente de Deus

Estava nos braços seus

Uma menina bem forte.

A filha de Maricota

Com o Antônio Romão

Pra vida traz nova rota

Fazendo transformação

E em Caicó nascida

Ercidole ganhava vida

Na mais divina benção.

Pelo irmão apelidada

Com um novo nome de “Bita”

Mas também a sobrinhada

Lhe chamava de “Bibita”

Mas ela não se importava

Pois todo mundo lhe amava

De maneira bem bonita.

E assim Bita cresceu

No seu mundo de sertão

Até que ela conheceu

Vaqueiro da região

E a menina tão doce

Pelo vaqueiro encantou-se

Lhe dando seu coração.

E com dezenove anos

Seu coração de criança

Acelera em novos planos

Em sonhos de esperança

Toma novos paradeiros

Com o Estevam Medeiros

Vaqueiro da vizinhança.

E num amor tão comum

Com diferença de idade

No ano cinquenta e um1

Tornaram realidade

Do destino o cumprimento

Se uniram em casamento

Em grande felicidade.

Mas a união dos dois

Fez a vida transformar

E já três anos depois2

Tiveram que se mudar

E partiu pra terra alheia

E no Córrego da Areia

Esse casal foi morar.

E a viagem se fez

Em cima de um caminhão

Carregando a gravidez

Sete mês de gestação

Ercidole com esperança

Daria luz a uma criança

A terceira da união.

A vida seguiu seus trilhos

Em um novo paradeiro

E foi mãe de onze filhos

Com seu marido vaqueiro

Tendo a família formada

Ela seguiu a jornada

Com seu amor verdadeiro.

Tinha um afeto e ternura

Em tudo que ia fazer

Ali naquela estrutura

Só ela sabia ler

E cartas ela escrevia

Pois somente ela sabia

A arte de escrever.

E lia fotonovelas

Pra não alfabetizadas

Sob lamparina ou velas

Fez as vidas clareadas

Com leitura que fazia

Muita esperança trazia

Pra novas coisas sonhadas.

Levou Estevam a sonhar

A também ler e escrever

Sem poder realizar

O tão sonhado querer

Mas seu nome desenhando

Estevam ia então mostrando

Um grande cidadão ser.

Morou um tempo em Trevão

Quis sua vida mudar

Estevam buscou então

Em Brasília trabalhar

E tendo Bita ao seu lado

Sem o sonho realizado

Voltou daquele lugar.

Na caminhada da trilha

Sempre foi forte e ousada

E perdeu filho e filha

Nessa sua caminhada

Mas seguiu a diretriz

Tentando fazer feliz

Toda a sua filharada.

A família foi crescendo

Em Monte Alegre aumentando

E em Uberlândia foi vendo

Algo que estava buscando

A grande oportunidade

De ver com tranquilidade

Os seus filhos estudando.

Pros filhos fazia tudo

Pra na vida preparar

Priorizava o estudo

Para vida melhorar

Cuidava de cada um

Com um grande amor comum

Que só a mãe sabe dar.

Dava tudo que podia

Do amor à refeição

Cuidava com alegria

Do uniforme à lição

E com carinho de prece

Desejava que tivesse

Cada filho a profissão.

Em costuras de conquistas

Os sonhos realizando

E os seus pontos de vistas

Foram se concretizando

Mesmo com dificuldades

Os filhos em faculdades

Foram logo formando.

Quando o tempo permitiu

Ao Nordeste retornou

E com saudade ela viu

O torrão que já pisou

E nos olhos tendo brilhos

Foi mostrar para alguns filhos

Os caminhos que traçou.

Da sua casa fez abrigo

Pra qualquer um que chegar

Fosse parente ou amigo

Que ali quisesse pousar

Tinha sempre a atenção

Da família em comunhão

E da grandeza de um lar.

A comida em sua mesa

Traz todo o melhor sabor

Pois traz toda natureza

Das coisas do interior

Pois a Bita faz questão

Dos sabores do sertão

Ter seu tempero de amor.

E ela cozinha bem

Mesmo em tempo de fartura

Há mungunzá e xerém

Tem cuscuz tem rapadura

E para o doce deleite

Tem a cocada de leite

Que adocica a mistura.

Bita é quase centenária

Mas gosta de cozinhar

E a sua culinária

Faz questão de registrar

E as suas referências

Registra nas preferências

Do seio familiar.

Na ida ao supermercado

Segue com a lista na mão

Só compra o que está marcado

Nessa sua relação

Mas se há algo barato

Pra por comida no prato

Faz compras na promoção.

Quando ela está na cozinha

Trabalha sempre cantando

E não se sente sozinha

Quando ali tá trabalhando

E assim colocando amor

Vai deixando mais sabor

No que está cozinhando.

Gosta de televisão

Pra poder se distrair

O Globo Repórter então

Ela gosta de assistir

O Fantástico e o Boldrim

Faz seu domingo enfim

O seu lazer concluir.

Nunca viveu em aljube

Sempre quis se libertar

E o Dentil Praia Clube

Faz a Bita se encantar

Pois é grande torcedora

Uma mulher vibradora

Que torce para ganhar.

Faz da família um tesouro

Um grande exemplo de vida

Festejou Bodas de Ouro

Com a família reunida

Mas no momento de Deus

Estevam deu seu adeus

Numa triste despedida.

Ercidole se fez forte

Seguiu sua caminhada

Sempre sabia que a morte

Era o fim de uma jornada

Mas com ar de nordestina

Ercidole se destina

A seguir na sua estrada.

Seguindo sua diretriz

Entre alegria e sofrer

A Ercidole é feliz

Em tudo que vai fazer

E vai seguindo os seus planos

Com os seus noventa anos

Sem se cansar de viver.

Fortaleza, 06 de agosto de 2022.

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1 - 29.12.1951

2 - 01.03.1954

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Enviado por Lucarocas em 15/09/2022
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