O Desentendimento entre dois Amigos.
NOME-O Desentendimento Entre dois Amigos:
TEMA- Intriga
AUTOR Antonio Carvalho de Queiroz (Cristovão de Chapada)
ESTROFES-94
FINAL-Uma estrofe em acróstico (CEBOLINHA) Esse nome Cebolinha era um outro apelido que às crianças me chamavam.
Nossa vida aqui na terra
É cheia de embaraços
Quando vivemos unidos
Somos fortes como aço
Mas sem ter a união
A vida é uma aflição
Pra todos vem o fracasso.
Para mostrar que a união
É uma forte corrente
Descrevo agora este drama
Que se deu antigamente
Com dois moços potentados
Que eram bem combinados
E viviam honestamente.
Essas duas criaturas
Trabalhavam noite e dia
E por isso os seus negócios
Sempre para a frente ia
E tendo bons resultados
Todos os dois sempre animados
Os seus planos prosseguiam
Trabalhavam na lavoura
Mandioca milho e feijão
Batata sisal capim
Também tinham criação
De caprino e de suíno
Pois eles desde de meninos
Procuravam a produção.
E continuaram tendo
Todos dois bons resultados
Com o tempo cada um
Ia aumentando o cercado
As criações aumentando
O povo se admirando
E eles bem aprumados.
Foram decorrendo o tempo
Eles na sociedade
Aumentavam seus rebanhos
Na maior tranquilidade
Só faziam bons negócios
Pois como os dois eram sócios
Negociavam à vontade.
Um só fazia uma compra
Se o outro concordasse
Para não haver discórdia
E os dois se separassem
Pois queriam ir pra frente
E a união fortemente
Não queriam que acabasse..
Passaram-se muitos anos
Na maior combinação
Até que chegou o dia
De partirem a produção
E então se separaram
Repartiram o que lucraram
Na maior satisfação.
Para fazerem a partilha
Fizeram como convinha
Nenhum quis puxar a brasa
Pra assar sua sardinha
Partiram tudo direito
Todos dois com bons conceitos
Assim faz quem é da linha.
Cada com sua parte
Ficaram girando a vida
Satisfeito um com o outro
Lembrando a luta renhida
E quando se encontrava
Felizes se abraçavam
E ali tomavam bebida
O nome de cada um
Agora é que vou narrar
Um se chamava Diogo
E o outro era Osamr
Pensavam só no futuro
Por isso toparam duro
Para a vida melhorar.
Diogo seguiu seu ruma
Foi fazer a sua arte
Por ser muito inteligente
Aprendeu logo uma arte
Assim foi levando a vida
Com a fortuna adquirida
Com seu melhor Bonaparte
Osmar seguiu outro rumo
Ficou sendo lavrador
Trabalhando só no campo
Era honrado lutador
Fazia tudo direito
Todos lhe tinham respeito
Lhe davam grande valor.
Osmar como era mais velho
Começou a namorar
Fazendo todos seus planos
Só falava em se casar
Pois ele já conhecia
Que tudo que possuía
Já dava para passar.
Assim seguiu o seu plano
Logo depois se casou
Foi viver com sua esposa
Num belo jardim de amor
Era bela a sua vida
Pois sua esposa querida
Tinha carater e pudor.
Diogo então quando soube
Que Osmar tinha casado
Ficou muito triste pois
Ele nem foi convidado
Estava fora, então chegou
Seu amigo visitou
E lhe fez interrogado
Perguntou logo ao amigo
O que foi que aconteceu
Casou-se nem convidou-me,
Parece que me esqueceu
Osmar disse meu amigo
Entre nós não há perigo
O culpado não foi eu.
Esse casamento meu
Para mim parece um sonho
E perante ao meu amigo
De desgosto me envergonho
Casei correndo perigo
E o que se passou comigo
Não lhe digo pois me acanho.
Você estava por fora
Lembrei mas não tive jeito
O velho pai da menina
Queria levar-me a eito
Casei não lhe convidei
Mas muito passei
Com grande dor em meu peito.
Pois não chamei meu amigo
De tal consideração
Pra na festa do casório
Participar da função
Eu sei que sua pessoa
Como a festa estava boa
Dava mais animação.
Diogo disse pois bem
Isso não quer dizer nada
Na vida acontece coisas
Que não podem ser mudada
Perdoou o que você fez
Se eu errar alguma vez
Minha falta é perdoada?
É claro disse Osmar
Nossa vida é sempre assim
E ali se abraçaram
Numa alegria sem fim
Diogo com alegria
Disse ao amigo esse dia
Foi muito bom para mim
De certo que estou por fora
Pois preciso me virá
Por onde estou andando
Talvez consiga casar
Mas garanto a você
Se no caso acontecer
Eu venho lhe convidar.
Osmar lhe disse obrigado
Vá perdoando o que e fiz
Pois não foi por minha culpa
E por gosto nada eu quis
Diogo abraçou a ele
Desejou que a vida dele
Se tornasse bem feliz.
Diogo então regressou
Foi cuidá de seu trabalho
Osmar ficou bem tranquilo
No confortável agasalho
Zelando sua querida
Pois ele em sua vida
Não queria atrapalho.
E como Diogo estava
Trabalhando muito alzente
Lucrando bem nos negócios
Vivendo mito contente
Foi quando a seta do amor
O seu coração varou
Seu peito ficou doente.
Pois encontrou uma jovem
Que seu peito dominou
Começaram a namorar
Até que o dia chegou
De fazerem o casamento
Ele então nesse momento
Seu amigo convidou.
Osmar com esse convite
Abalou mais que depressa
Levando sua esposa
Que se chamava Jocréssa
Diogo então lhe abraçou
Dizendo amigo eu estou
Pagando minha promessa
Osmar lhe disse obrigado
Disso tudo eu já sabia
Como você também sabe
Que eu não fiz por grosseria
De não ter lhe convidado
Pois como casei vexado
Não chamei quem pretendia.
Diogo disse Osmar
Vamos mudar de assunto
Tome logo uma cerveja
Que vou buscar um presunto
Vamos animar a festa
Porque a hora é esta
Graças a Deus tamos juntos
Ali passaram a noite
Brindando com alegria
A festa muito animada
Pois era grande a folia
Festa boa foi aquela
Dançaram com as donzelas
Até o romper do dia.
Osmar logo regressou
Pra sua velha morada.
Diogo também ficou
Com sua esposa adorada
Numa vivência bonita
Pois sua esposa Hildelita
Era honesta e muito honrada.
Passaram-se muitos anos
Numa vivência normal
Todos os quatros ignoravam
O que chamam vida mal
Em tudo se respeitavam
O povo os homenageavam
Os dois honrados Casal
Mas, como o primeiro verso
Fala sobre a união
Que o povo sendo unido
Forma uma grande nação
Falei também da discórdia
Pois quando falta a concórdia
Causa grande confusão.
Esses dois grandes amigos
Deram a se desentender
Por um capricho da sorte
Começaram a se ofender
Um de lá outro de cá
Não queriam ouvir falar
Em forma alguma se ver.
O povo o aconselhava
Dizendo nesse sentido
Como é dois senhores
Que viviam tão unidos
Junto muito trabalharam
Agora se separaram
E vivem tão desunidos.
Então eles respondiam
Isto é problema nosso
Cada qual tem seu destino
Cada um segue seu trósso
A sina é quem incentiva
É melhor que todos vivam
Cada um com seus esforços
Diogo de onde estava
Não queria ouvir falar
De nem se quer por ventura
Se encontrar com Osmar
Xingava pintava o sete
Dizendo se ele se mete
A bonzão venha pra cá.
Pois ele chegando aqui
Tem que voltar da porteira
Não aceito mais em casa
Nem se quer por brincadeira
Mas, se ele insistir
E quiser me agredir
Eu o derreto na madeira.
Osmar pela mesma forma
Vivia sempre arruando
Tomando muita cachaça
E a todo mundo falando
Se eu me topar com Diogo
Contra ele eu abro fogo
E pra catatumba eu mando
Passava-se o tempo e eles
Continuavam intrigados
Desfazendo um do outro
No maior palavreado
Se xingavam discutindo
Uns dos outros se exibindo
Num desarrumo danado.
Foi quando em Povoado
Começaram a vender
Alguns terrenos em lotes
Pra população crescer
O Diogo se mudou
E Osmar também comprou
Um terreno pra ali viver.
Vejamos bem como sorte
Traça todos os caminhos
Cada um com seus recursos
Construindo seus ranchinhos
Para ainda mais pegar fogo
O Osmar com o Diogo
Ficaram sendo vizinhos.
Diogo logo cuidou
Pois sabia trabalhar
Construiu o seu biongo
Para poder se mudar
Também dos outros negócios
Que conseguiu com o sócio
Tratou de negociar.
Vendeu o que possuía
Na fazenda onde morou
Casa terra e criação
Grande soma apurou
Voltou para o povoado
Com o dinheiro apurado
Onde tranquilo ficou.
Mas, dinheiro no baú
Nunca dá bom resultado
Ficou trabalhando aos poucos
Ganhando um saldo mirrado
Vendo a grana se acabar
Tratou de negociar
Botando um cacete armado.
Osmar também cuido logo
Em construir sua casa
Pois quem tem algum recurso
A construção não atrasa
Logo então se mudou
O barulho incendiou
Igual a pólvora na brasa
Pois como era vizinho
Do inimigo Diogo
E vendo ele no botéco
Melhorando o seu jogo
Chamava a casa de brega
Desejava que a bodega
Do vizinho pegasse fogo.
Sendo assim continuaram
Na maior devassidão
Por zoada dos pequenos
Era a maior confusão
Até que um dia se danaram
Grande barulho formaram
E rolaram pelo chão.
Deu Diogo um grande soco
Na queixada de Osmar
Ele recebendo o tapa
Começou a bambear
Mas logo se aprumou
Com Diogo se trançou
E tratou de o derrubar
Se embolaram pelo chão
Foi a maior bagaceira
Osmar recebeu um soco
Na broca do cheira cheira
Ao tapa não resistiu
Rodou bambeou caiu,
Que levantou a poeira.
Foi quando o povo acudiu
Diogo logo agarraram
Quando Osmar se levantou
Ligeiro lhe seguraram
Cada um foi arrastado
Pra seu lugar acostumado
Só assim os separaram.
Ainda mais se odiaram
E cresceu mais a intriga
Ambos juraram vingança
Esquecendo a vida antiga
Que daquela união
Que parecia irmãos
Se acabasse com briga.
Como os leitores recordam
Dos versos que, atrás leram
Pois os dois quando eram unidos
Suas fortunas cresceram
Como eles trabalhavam
E como se combinavam
E como se desentenderam.
Porque ninguém esperava
Que viesse acontecer
Aqueles dois bons amigos
Chegassem a se desentender
Porém a sorte é quem traça
Transforma a tristeza em graça,
Felicidade em sofrer.
Como o desentendimento
Transporta tudo pra o mau
Assim ficou esses dois
Um com o outro rival
Avida assim foi passando
Cada um sempre jurando,
No outro meter o pau.
E assim continuou
O couro sempre comendo
Discussão e barulhada
E a contenda crescendo
Quando os dois se encontravam
Só mesmo o que faltava
Era acabar se mordendo.
O caso era tenebroso
Era uma grande arrelia
Diogo por ter a venda
Do vizinho desfazia
Dizia com seu cinchorro
Não sei como aquele cachorro
Vive sem vender um dia.
Pois Osmar não confiava
Sair para trabalhar
Ficou comendo o que tinha
Pra casa só não deixar
Quando viu o caso sério
Pensou com o seu critério
De também negociar.
Botou logo uma quitanda
Com seu recurso sortiu
Vendia cachaça e fumo
Bolacha vinho e bombril
Ainda mais piorou
Pois Diogo se irritou
Pois seu comércio caiu.
Como o leitor mesmo sabe
Que isso sempre acontece
Quando surge um ponto novo
Aquele mais velho desce
Os donos sendo ligados
Tudo será perdoado
Mas, se não for se aborrece.
Foi o que aconteceu
Com esses dois que eram sócios
Porque quando eram unidos
Faziam juntos os negócios
Mas, como desacertaram
Pra sempre se separaram
Como quem pede o divórcio.
Diogo então dignou-se
A desfazer de Osmar
Dizendo que ele não tinha
Recursos pra sustentar
O botéco que botou
Pois eu sei que ele estalou,
Só pra me desafiar.
Mais brevemente ele fecha
Porque não tem condição
Quitanda sem sortimento
Não tem apreciação
Sei que vai acontecer
O povo ir lá pra beber,
Só encontrar o balcão
E as prateleiras puras
Ele num canto sentado
As duas mãos na cabeça
Bastante desconfiado
Dizendo pra seus fregueses
Desgracei-me dessa vez
Agora estou derrotado.
Mas, tudo isso era dito
Pelo Diogo de tal
Por se achar bem melhor
Desfazia do rival
Sem saber que brevemente
Com seu estoque potente
Ele caísse na mal.
Porque Osmar resistiu
Sustentou sua quitanda
Já mesmo por desaforo
Para aumentar a demanda
Ele na sua lucrava
A do outro desejava
Era ver cair as bandas.
Diogo se enfureceu
Ficou quase alucinado
Vendo seus fregueses indo
Comprar a seu intrigado
Zoou que secou o eco
Até que viu seu botéco
Completamente quebrado
Vendo seus fregueses saírem
Lutou mais jeito não deu
Do outro foi aumentando
Os seus desapareceu
Se vendo sei jeito então
Foi viver da profissão,
Primeira que aprendeu.
E Osmar lá em se canto
Dizia entusiasmado
Lutei até consegui
Quebrar aquele safado
Eu hoje estou lucrando
Meus fregueses aumentando
E ele está desgraçado
Não sei como vai viver
Com aquela profissão
Eu tenho minha bodega
Na roça tenho feijão
Ele sim está lascado
Não planta nem tem roçado,
Só pode comer pirão.
Meus amigos essa questão
Foi um para pra acertar
Por isso eu estou pensando
Já em parar de narrar
Mas, minha mente avança
Pois me lembrei da vingança
Que Osmar tentou cobrar
Porque além de fechar
O botéco de Diogo
Jurou de cobrar vingança
Pondo sua vida em jogo
Lembrou-se do rapa-pé
Em que levou uma cangapé
E quase morre de gôgo.
Fez seu plano ficou pronto
Já vendo a hora chegada
De fazer sua vingança
Que já tinha planejada
Até que o dia chegou
Um amigo lhe chamou
Pra limpar terra de enxada.
Como era um adjunto
Muitos foram convidados
Seguindo o velho costume
Do nosso Sertão amado
Diogo também foi lá
Pois lhe mandaram chamar
Ele foi despreocupado
E ambos se adiantaram
Chegando lá por primeiro
Osmar quando viu Diogo
Disse se faça ligeiro
Procure a defesa pois
Hoje aqui um de nós dois
Tem que perder o tempero.
Diogo disse Osmar
Deixe de amolação
Não quero brigar contigo
Nem que quero aumentar a questão
Osmar disse vagabundo
Tu hoje some do mundo
No gume do meu facão.
Dizendo assim arrastou
O seu facão da bainha
Descarregou em Diogo
Com toda a força que tinha
Levando tudo a eito
Diogo por não ter jeito
Se valeu da enxadinha.
E disse para Osmar
Agora apeia se dobra
Você quer mesmo brigar
Faça lá sua manobra
Pois com essa minha enxada
Se te acertar na queixada
Até a alma não sobra.
Osamr gritou malandreco
Tu hoje cais no facão
Nunca mais há de comer
Carne farinha e feijão
Vai comer é facãozada
Depois na terra molhada
Almoça e janta torrão.
Diogo disse, pois bem
Já que você quer matar
Bote pra cima de mim
Que eu vou me desviar
Para mostra a você
Que sou homem pra valer
E só quero lhe ensinar
Como é que um homem faz
Com esse tipo, de sujeito
E manobrou a enxada
Mesmo a torto e direito
Osmar se atrapalhou
A enxadada acertou
Em sua caixa do peito.
Esturrou igual a um tigre
E partiu bem aprumado
Meteu o facão pra ver
Diogo bem retalhado
Mas, ele se abaixou
A enxada levantou
Só o cabo foi cortado.
O pedaço foi cair
Com duas braças ou mais
Diogo se levantou
E deu um salto pra trás
E disse pode botar
Que hoje eu vou lhe ensinar
Como um cabra macho faz.
Meteu o pau para ver
A contenda se acabar
Acertou não derrubou
E o danado do Osamr
Um golpe descarregou
Ele por sorte pulou
Só viu o vento passar
E no pulo aproveitou
Mandou-lhe outra enxadada
Que essa acertou na nuca
Numa forte pilungada
Osmar igual a um cabrito
Caiu e soltou um grito
Por onde não faz zoada.
Osmar levantou correu
Nem seu facão apanhou
Diogo por outro lado
O seu destino tomou
E quando os outros chegaram
Bastante se admiraram
Quando viram o que passou
Já não trabalharam mais
E saíram à procura
Um dos filhos de Osmar
Bateu logo a censura
Disse foi ele e Diogo
Que pondo suas vidas em jogo
Fizeram essa bramura.
Osmar foi chegando em casa
Derramando o sangue seu
Disse que numa tocáia
Diogo lhe apareceu
Meteu-lhe o pau por detrás
Ele ligeiro demais
Apanhou, mas também deu.
Disse que o coro comeu
E o cacete foi trincado
Os dois se pegaram a murro
Ele saiu machucado
E o outro lá ficou
Porque não mais aguentou
E talvez fosse finado.
Diogo deu sua volta
Logo mais se apresentou
Contou toda sua história
Muita gente acreditou
Outros desmentiram ele
Já por não gostarem dele
deram apoio ao agressor
Foram apurar o caso
Tiveram, na detenção
A justiça por ser reta
Deu a Diogo a razão
Osmar por ser atrevido
Ficou bastante ferido
E passou decepção.
Caros amigos leitores
Esperem-me até a volta
Boa gente não se solta
Onde existe maus feitores
Liguem-se aos condutores
Instaladores da paz
Não vivam sem a concórdia
Haverá entre a discórdia
Ataque do Satanás.
FIM.