A lenda da serpente do açude de Triunfo
Deus é antiga beleza
Que habita nosso ser
A beleza renovada
É a luz do amanhecer
É inquietação e cura
É a paz que se procura
O que precisamos ter.
O perdão é compaixão
Grátis damos a alguém
Liberta quem o recebe
E quem emite também
Não se paga o bem com mal
Mas se paga o mal com o bem.
De nossa mera existência
Temos contas a prestar
O que habita as trevas
Cedo ou tarde à luz virá
Não adianta esconder
Daquele que tudo ver
Porque nada irá passar.
Passaram-se muitos anos
Que um caso aconteceu
Na cidade de Triunfo
Foi onde o fato se deu
Uma jovem engravidou
Da família ocultou
E ninguém o percebeu.
Pra fugir do preconceito
Daquela sociedade
Das línguas que julgaria
A mentira ou a verdade
Deu a luz a uma criança
E jogou sem esperança
No açude da cidade.
E continuou sua vida
Sem ninguém desconfiar
Se passando por donzela
Na igreja a rezar
Com o segredo guardado
Sem esperar que o passado
Viesse lhe assombrar.
Um boato já correndo
Da boca de muita gente
Que no açude do centro
Habitava uma serpente
Vez ou outra aparecia
Mas o povo não sabia
Que era o pobre inocente.
Um domingo na matriz
Fiéis cantando louvores
O padre celebrando a missa
De Nossa Senhora das Dores
Na igreja de repente
Entrou a enorme serpente
Numa cena de horrores.
O povo todo imóvel
E a cobra rastejando
Olhando cada fileira
E o vigário observando
Continuando até
Encontrar a tal mulher
Dela foi se aproximando.
Chegando perto da mãe
Tirou-lhe o peito e mamou
Depois à vista de todos
Num bebê se transformou
Toda a igreja ali vendo
A moça toda tremendo
Porque a farsa acabou.
Ninguém soube o paradeiro
Aonde a mulher foi parar
Essa história é contada
Pelo povo do lugar
A criança do açude
As gerações amiúde
Nessa lenda acreditar.
Uma cultura machista
Onde a mulher somente
Responsável por gestar
Mas o pai inconsequente
Faltou com o compromisso
Sendo um pecador omisso
Na história da serpente.