A farsa dos duzentos anos de (in) dependência e a história mal contada
01
Quero falar a você
Do fundo do coração
Dessa pacata vergonha
Parida pela nação
A mentira fedorenta
Desse povo sem noção
02
Digo da (in)dependência
Ventada por trambiqueiro
Desse cafundó ser livre
Manobra de forasteiro
Que nunquinha foi honesto
Com o povo brasileiro
03
Falo sim desse meu povo
Pois é a realidade
Dessa terra tão sofrida
Rodeada de maldade
Viver dessa tal mentira
É por demais falsidade
04
Vamos contar dos indígenas
Mortos no seu próprio chão
Em nome de um tal rei
Querendo só diversão
Em conluio com a igreja
Fez pacto com a missão
05
Foi o povo português
Que a tudo deu início
Vindo de lá da Europa
Pra causar o precipício
Roubar todo pau Brasil
E causar o desperdício
06
Tiraram a liberdade
Dos donos dessas terras
Usurparam os costumes
Estupraram nossas serras
Derrubaram a floresta
Fizeram aqui a festa
07
Era a caça às bruxas
Pelo sangue derramado
Dizimaram as aldeias
Indígenas algemados
Trabalhando no pesado
Pra os amaldiçoados
08
Pra coroar a miséria
Cortaram logo a língua
Os corpos foram vestidos
A fé ficou foi a míngua
As mulheres invadidas
Com ferraduras de íngua
09
Não houve independência
Respeito ao habitante
E não houve cerimônia
Pela nobreza errante
Só houve crueldade
Do europeu sem semblante
10
Coroando o infortúnio
Inventaram um batismo
Depois foi catequizado
Impondo o catolicismo
O povo do Deus Tupã
Vitimado de golpismo
11
Passado assim o tempo
Veio o navio negreiro
Trazendo gente de lá
Pelo senhor caloteiro
Pra aqui desumanizar
O povo preto guerreiro
12
Aqui moraram em senzalas
Trabalhando no pesado
No cultivo da tal cana
Sem receber um trocado
Se respirassem mais alto
Era logo acorrentado
13
Surgiram essas mentiras
Que até hoje se tem:
Tomar leite, chupar manga
Paga no mesmo vintém
A vida cessa de vez
Sem esperar por ninguém
14
O povo negro sofreu
Todo tipo de humilhação
Perdeu o norte da vida
Sem dó nem compaixão
Ficou sem identidade
Escravo nesse chão
15
Sua cultura foi manchada
A crença sem respeito
Não tinha mais parentesco
Perderam todo direito
De ser gente nessa terra
Que negocia sujeito
16
Fugiam das fazendas
Pela própria sobrevivência
Iam para os quilombos
Onde tinham independência
Eram donos de suas vidas
Cultivavam consciência
17
Existiu um movimento
Que libertou os escravos
Um ato de covardia
Dos seiscentos diabos
Jogando o povo na rua
Sem planejar os cuidados
18
Pois não tinham moradia
Muito menos trabalho
Não tinham preparação
Para resolver o galho
Estavam soltos na vida
Sem prumo e sem atalho
19
Este foi mais um golpe
Dessa nobreza fascista
Não pensou no povo negro
Só de vender a conquista
Para se passar de digna
Quem sempre foi golpista
20
Ainda sofre o povo
Sem a tal independência
De ser livre cidadão
Com total competência
De exercer cidadania
Sem ter subserviência
21
Duzentos anos depois
Os destroços são a marca
Dessa nação sem memória
Que comemora com marcha
Os infortúnios cruéis:
Independência opaca
22
Gente vestida de verde
Sem respeito pela mata
Que apoia as políticas
Desse fascista mamata
Que não apaga queimada
Tampouco a desmata
23
São tantos fatos nostálgicos
Que vou parar por aqui
Já estou bastante triste
Preciso me redimir
Com essa inquietação
No meu peito a tossir
24
Parece que tou gripado
Com catarro no meu peito
Esse que gruda e fere
E nem xarope dá jeito
É verde e amarelo
Da cor do desrespeito
25
Duzentos anos de nada
Nada vou comemorar
Vou é descruzar os braços
E vou pra rua lutar
Pra daqui a cem anos
Ter o que comemorar.
Marcus Vinicius - falta a correção das sílabas, mas é um exercício poético. Não sou cordelista, sou apaixonado pela cultura produzida no Brasil.